Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 11 de março de 2006

Cry Wolf: O Jogo da Mentira

Utilizando-se dos clichês do gênero, mas com uma roupagem nova, Cry Wolf – O Jogo da Mentira consegue entreter o espectador, vindo a ser uma das opções interessantes quanto à diversão nos cinemas dentre tantas produções “batidas”. Mas não passa só de diversão.

Jogos, trapaças, mentiras. O quanto você pode confiar nas pessoas que estão à sua volta? Levam-se anos para conquistar a confiança de uma pessoa e segundos para perdê-la. Você já parou para pensar nisso? O quanto aquele seu amigo é realmente amigo? Temas assim é o que pode se esperar do filme do estreante como diretor de longas Jeff Wadlow, que por sinal também assina o roteiro.

A história é toda ambientada em um colégio particular, onde os alunos do último ano resolvem passar o tédio das suas vidas monótonas de estudantes do internato, brincando na capela com um jogo chamado “Wolf”, uma espécie do nosso “chicote queimado”, onde é escolhido um “lobo” e o resto serão as “ovelhas”. O objetivo do jogo é manipular os participantes para que eles não descubram quem é o “Lobo”. Instigada por Owen, Dodger propõe que eles devem aumentar o jogo e jogar com a escola inteira, passando um E-mail com o boato de que o recente assassinato (que é a primeira cena do filme) faz parte do plano de um serial killer que irá aterrorizar a escola. O jogo acaba passando para realidade e Owen começa a receber ameaças de alguém que está usando o nome do assassino, porém acredita ser um de seus amigos, pregando-lhe uma peça.. Começa então um jogo de disse-me-disse, mentiras e verdades, onde não é possível confiar em ninguém.

Usando uma premissa (o jogo de confiar ou não nas pessoas) que já fora usada antes no filme Intrigas (Gossip, 2000, dirigido por Davis Guggenhein), aliás muito bem trabalhado, Wadlow não se preocupa nem em mudar a profissão que Owen deseja seguir (jornalismo, onde no filme Intrigas, tratava-se de 3 alunos de jornalismo). Mas como o filme de Guggenhein passou meio batido nos cinemas (culpa do marketing que fez parecer um filme teen), não há grandes danos para a história de Wadlow. Inclusive até mesmo pra quem já assistiu, vale a pena conferir esse novo filme.

Infelizmente o roteiro, que segue tão brilhantemente por quase 50 minutos, começa a cair no “lugar comum” dos roteiros de suspense teen, e acaba tirando boa parte do mérito do roteiro, mas nada que estrague totalmente o filme. Pelo contrário. Não impede que algumas pessoas se surpreendam com o final.

As atuações têm seus altos e baixos. Com um elenco quase que completamente desconhecido, exceção da participação especial (já que não aparece muitas vezes) do Jon Bon Jovi (é, ele está nesse filme!), e Jared Padalecki, que recentemente tem se tornado conhecido no papel de Sam Winchester na série Supernatural. No geral, não há nenhum brilhantismo nas atuações do filme, afinal, quem precisa atuar, quando o filme realmente é baseado em corridas, choros e gritos? Tiro o meu chapéu para Julian Morris, que levou um filme todo nas costas como protagonista, mesmo tendo poucos filmes em sua carreira. É preciso muita coragem para encarar isso.

A trilha sonora de Michael Wandmacher, que teve seu trabalho mais recente na animação da Dreamworks, Madagascar, cai como uma luva para as diversas cenas do filme, sem muita estripulias nas notas, ou exageros durante a execução, chegando a ser um dos melhores elementos do filme.

Uma curiosidade é que o dinheiro da produção na verdade vem de uma premiação de um festival (Chrysler Million Dollar Film Festival), onde Wadlow, juntamente com Beau Bauman, participou após a graduação na Univesity of Southern Califórnia no curso de Cinema. Foram sete meses de disputa, onde Wadlow ganhou o prêmio máximo e o apoio da produtora Hypnotic (mesma produtora da série The OC e do filme A Identidade Bourne).

A produção chega às telas nacionais com três meses de atraso em comparação ao seu lançamento nos EUA. O filme que custou somente um milhão de dólares conseguiu arrecadar dez milhões nos cinemas americanos, então não será surpresa se de repente tivermos por aí um segundo filme, o que seria terrível, já que não há como fazer uma cópia da fórmula desse roteiro, sem cair nos mesmos erros das terríveis duas franquias do Segundas Intenções.

No geral é um filme é pura diversão. Sem nenhuma explosão, ou correrias, ou amores impossíveis, nem nenhuma indicação a nenhum prêmio, o filme se vale pelo roteiro, que mesmo clichê, consegue divertir. Então vale a pena dar uma conferida e não deixar se levar pelo marketing que fez da propaganda desse filme (que já é pouca) um verdadeiro filme teen. As aparências enganam. E como. Você vai confiar?

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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