Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 28 de março de 2005

Dona da História, A

Comédia nacional mostra uma crise em casamento de mais de 30 anos e mistura um pouco de "Efeito Borboleta", na qual questiona se as mudanças no passado alterariam o futuro.

Haja paciência! Quanto mais a gente torce pelo cinema nacional, mais saem filmes parecidos com os anteriores, clichês e com uma história bobinha, já batida e extremamente cansativa quando não é bem aproveitada. O filme é bem meio termo, não consegue ser uma ótima obra, mas também não é uma abominação da 7ª arte. O diretor Daniel Filho disse que não preocupa se “vão” achar que o filme não passa de um novelão, mas diferente de um filme nacional recente (“Olga”), ele não tem tanta cara de novela.

Um ponto a ser discutido é que muitos críticos dizem que tal filme nacional parece novela porque, enfim, o filme é repleto de artistas de novelas. Somos um país dominado por uma rede de televisão que explora muito a mídia novelística. Você queria o quê? No Brasil é famoso: jogador de futebol, apresentador de TV e artista de novela. O filme cumpre o seu papel na telona: diverte e ensina.

Rio de Janeiro, 1968. Carolina (Débora Falabella) dança balé, vai a passeatas, descobre o amor com o idealista Luiz Cláudio (Rodrigo Santoro), sonha com um futuro perfeito. Aos 18 anos, ela não tem dúvidas: "A vida é como um filme que a gente vê no cinema". No filme de sua vida, Carolina não quer ser atriz – ela quer ser personagem de uma grande história, da sua história.

Rio de Janeiro, 32 anos depois. Diante do espelho, Carolina (Marieta Severo) se exercita para manter a forma. Continua casada com seu primeiro amor, viveu sempre no mesmo lugar, os quatro filhos cresceram e foram viver suas vidas. Luiz Cláudio decide vender o apartamento, mudar para um apart-hotel e realizar seu sonho juvenil – conhecer Cuba. Para Carolina, no entanto, as coisas não são tão simples. Aos 55 anos, está em crise com o casamento, com a casa vazia, com a idade e passa a questionar seu percurso, suas opções e expectativas, a pensar sobre os vários "se" que ficaram pelo caminho.

É através de um confronto e diálogo com a jovem que foi aos 18 anos que Carolina revive os sonhos do passado e as possibilidades de ter sido outras personagens, seguido outros rumos, conhecido outros amores. Na maturidade, Carolina viverá plenamente o privilégio de rever a sua própria história e se reencontrar no que foi, no que não foi, e no que poderia ter sido – ao lado ou longe do grande amor de sua vida.

Marieta Severo interpretou a personagem Carolina na peça teatral "A Dona da História" por quase 2 anos. Na peça a versão jovem da personagem era interpretada por Andréa Beltrão. Segundo o próprio diretor Daniel Filho, o filme foi feito para Marieta. Ele é baseado na peça homônima do próprio João Falcão, sucesso de público e crítica nos palcos cariocas. Marieta (Carolina) e Antônio Fagundes (Luiz Cláudio) possuem uma ótima química em cena, caso que acontece também com Débora Falabella (Carolina Jovem) e Rodrigo Santoro (Luiz Cláudio Jovem). Algo que eu não havia reparado é que Débora está muito bonita … não percebi seu crescimento. Quem faz a amiga de Carolina Jovem, essa sim, bonita como sempre, é Fernanda Lima (que está fazendo muitos pontos em filmes).

Um fato que deve ser comentado é a tal passeata contra a ditadura. Apesar de uma ótima realização, em que contribuiu para a história e desenrolar do filme? Ela poderia ter sido melhor aproveitada, sendo que, não tinha nada haver Carolina estar lá se ela nem ao menos sabia o que estava acontecendo (burguesinha). Bem infundada a cena. Mas quem sabe o diretor não teve seus interesses para fazer essa cena.

É uma boa comédia para família, serve para questionarmos os nossos relacionamentos quando eles caem na mesmice ou quando tomamos certas atitudes importantes que podem alterar algo no futuro. Caso já visto no filme "Efeito Borboleta", num estilo sério como o assunto é, e não uma comédia familiar. Até que não ficou tão ruim, mas ainda continua faltando audácia nas produções nacionais …

Jurandir Filho
@jurandirfilho

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