Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 29 de março de 2005

Dr. Fantástico

Um recado a quem curte apenas filmes recentes: existem muitos filmes bons de décadas atrás que, mesmo sendo em preto e branco, conseguem instigar a vontade de saber o final.

“Dr. Fantástico ou Como Aprendi a Parar de Me Preocupar e Armar a Bomba”. Essa é a tradução do título original do filme, que acabou sendo abreviado para “Dr. Fantástico”. Dirigido, produzido e escrito por Stanley Kubrick, o mesmo de “Laranja Mecânica”, “O Iluminado” e “De Olhos Bem Fechados”, o filme é uma comédia de humor negro que retrata uma parte da História. Não que seja totalmente verdade, até porque boa parte dos personagens é fictícia.

Época em que se passa: poucos anos depois da Segunda Guerra Mundial. Estados Unidos e União Soviética estão em um certo desentendimento e qualquer motivo pode ser o estopim para uma guerra. O General Ripper (Sterling Hayden) não está bem da saúde mental e começa a imaginar coisas. Ripper, em seus pensamentos, acha que a simples adição de flúor à água é uma forma dos soviéticos estarem impondo algo aos cidadãos estadunidenses. Pronto. Não pensa duas vezes e ordena ataque à União Soviética. Autoriza o “Plano de Ataque R”, que é usado somente em casos extremos. Nesse plano, as comunicações são reprogramadas em outra freqüência e só é acessível com uma combinação de três letras que somente o Gal. Ripper conhece.

Mas as coisas complicam quando a notícia chega ao presidente (Peter Sellers). Ele faz de tudo para que o ataque não ocorra, pois sabe que se acontecer, a União Soviética revidará e iniciará uma guerra. Na Sala de Guerra que fica no Pentágono, estão reunidos o Presidente e vários Generais. Em meio à conversa surge um comentário que levaria o Presidente ao desespero: A União Soviética possui em seu esquema de defesa, a chamada “Maquina do Juízo Final”, que, uma vez tocada, é acionada e liberaria o Tório de Cobalto G, elemento radioativo com ação de 93 anos e que infectaria todo o planeta. A missão agora é avisar ao embaixador da União Soviética de que os aviões estão a caminho e que caso não consiga a comunicação com eles, a única alternativa é derrubá-los.

O que chama atenção no filme é a conversa entre o Presidente e o embaixador da União Soviética, que é extremamente impaciente e, de início, apresenta sinais de embriaguês. Peter Sellers, na verdade atua em três papéis: o presidente dos Estados Unidos, como fora dito anteriormente; o assistente do General Ripper e um cientista. Este último personagem é o que dá nome ao filme., Dr. Strangelove. Um nazista naturalizado estadunidense e que revela a existência da Máquina do Juízo Final.

O filme em si apresenta poucos cenários. Boa parte dele se passa na Sala de Guerra. O que não posso deixar de comentar: as cenas em que aparece o avião voando. Nota-se claramente que não passa de uma montagem. O avião, provavelmente uma miniatura, foi colocado em frente à imagem aérea de algum lugar. Às vezes, a imagem treme e o avião permanece como se estivesse em repouso. Talvez um dos poucos erros cometidos por Kubrick. Várias cenas, até em demasia, quase no fim do filme, são deste avião voando. Mas é perdoável, considerando o ano em que o filme foi produzido (1964).

O roteiro não é dos melhores, mas consegue prender até o fim quem está assistindo. O filme, mesmo tendo como tema, a iminência de uma guerra, não usa violência para atrair o público. O forte mesmo é a história que cutuca o modo de agir e pensar dos governantes do país. Uma das cenas tem em seu diálogo, a frase: “Um general não tem o poder de autorizar uma guerra, e nem o presidente tem competência para isso”.

Quem diria que, anos mais tarde, a história do filme se repetiria, não da mesma forma, mas com a mesma estupidez de um dos comandantes (George W. Bush) atacarem um país por uma simples suposição. E ainda parte da população residente apoiá-lo e reelegê-lo.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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