Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 05 de fevereiro de 2006

Edison – Poder e Corrupção

Um filme policial fraco, dirigido por um diretor incompetente, e com um roteiro que tem mais furos do que artesanato cearense. Nem as participações dos experiente Kevin Spacey e Morgan Freeman salvam esse filme do vexame. Uma dica: passe longe desta produção de quinta.

Sabe aqueles filmes policiais estrelados por atores de quinta categoria que ficam pegando mofo lá no fundo da locadora? Pois “Edison – Poder e Corrupção” poderia perfeitamente se encaixar nessa categoria, salvo as inexplicáveis, e ainda assim, desprezíveis presenças de Kevin Spacey e Morgan Freeman nele. É de se admirar que um filme como esse ainda seja lançado nos cinemas por aqui, visto que produções do estilo (e de qualidade) chegam diretamente em DVD. Aliás, nem tão admirável assim nesse caso, afinal, o protagonista é ninguém menos do que o cantor pop Justin Timberlake (pasmem…). Já faz algum tempo que comentam sobre a ida do cantor para às telas de cinema, chegando inclusive ao absurdo de ser cotado para ser o novo Superman. A verdade é que o cantor, ídolo das garotinhas, precisa ainda muito mais do que uma bomba como essa para ser considerado um ator de verdade.

O longa acompanha uma unidade de elite da polícia chamada FRAT, que corresponde à sigla inglesa de Força Tática de Defesa e Ataque. Na fictícia cidade de Edison, seus membros têm carta branca para agir como bem quiserem e abusam deste poder sempre que podem, com arrogância e violência. Em uma batida liderada pelo sargento Lazerov (Dylan McDermont), um traficante acaba morto. Após testemunhar sobre o ocorrido, o policial Raphael Deed (LL Cool J), que havia sido torturado, testemunha sobre o ocorrido defendendo o réu, alegando um crime de auto-defesa. Deed é então surpreendido por Josh Pollack (Justin Timberlake), um repórter novato que desconfia do que realmente aconteceu naquela noite. Com a intuição de que tem um bom caso em suas mãos, o jovem jornalista resolve investigar a fundo o caso, mesmo sendo despedido pelo seu editor (Morgan Freeman).

Todos os clichês do gênero estão mais do que presentes aqui, com direito até aqueles mais do que batidos momentos em que o policial tem que ceder seu distintivo e sua arma, e aquela velha história de corrupção dentro da polícia que está mais do que na cara, mas mesmo assim demoram séculos para que descubram. Por sinal, o roteiro parece que brinca com a inteligência do espectador. E olha que isso às vezes é bom, quando imaginamos uma coisa e no desenrolar da história temos algo totalmente diferente. Mas em “Edison”, ele brinca com a inteligência do espectador perante tamanha estupidez, de forma a olharmos para determinadas situações e pensarmos: “Isso é ridículo demais! Como pode ser algo tão simples assim?”.

De início a história até parece interessante, mas a condução do filme é tão sofrível, vindo seguidamente um buraco maior do que o outro no roteiro, juntamente com uma direção totalmente amadora de David J. Burke (iniciante no cinema, e diretor de alguns episódios de seriados como “Lei e Ordem”), levando o espectador rapidamente ao tédio. É difícil engolir que o jornalista construa uma matéria a partir de dados totalmente irrelevantes e sem embasamento factual, acreditando que irá derrubar pessoas de grande influência e poder na cidade, e o roteiro se desenvolver a partir disso. E mais difícil ainda de engolir, é a estupidez dos vilões de levarem a sério a intenção do jornalista, considerando-o uma ameaça, e ainda assim demoram o tempo suficiente para ele enviar suas denúncias aos jornais para finalmente entrarem em ação. Chegou um certo momento da projeção que imaginei se a intenção do diretor era fazer refletir quem era mais burro nessa história toda: o jornalista, os vilões ou o espectador por estar assistindo a tanta besteira.

É comum vermos em filmes policiais boas cenas de ação, o que passa longe do que acontece aqui. Em “Edison”, as cenas como a do tiroteio no final são totalmente artificiais, deixando mais do que clara a má condução do diretor. Falando nesse sujeito, decorem bem esse nome: David J. Burke, pois se por acaso futuramente verem seu nome em alguma outra produção, passem longe. Ah, diálogos medonhos e flashbacks sem utilidade nenhuma para o desenvolver da trama também estão distribuídos aos montes, deixando o filme mais cansativo ainda.

Justin Timberlake, por incrível que pareça, até que se esforça para fazer um bom desempenho, e apesar da total falta de carisma, não está tão ruim como muitos imaginavam. É notório que ele ainda tem muito o que aprender, mas em meio a tantos desastres presentes nessa produção – cujo maior deles é David J. Burke – ele se sai ileso às críticas. O melhor em cena é LL. Cool J, que está em um papel que combina bem com seu estereótipo, mas infelizmente ele não passa muito tempo em cena. Não é surpresa que ele tenha sido o ponto alto desse filme, pois ele se dedicou demais na preparação para o papel. O ator chegou a pedir que todos o chamem de Deed, nome de seu personagem, dentro e fora dos sets, e para uma cena de briga com Dylan McDermott, Cool J andou lendo um livro sobre técnicas antigas de luta e pediu ao colega que cuspisse em sua cara a imitação de sangue que ele despejaria no chão. Inexplicavelmente, o filme conta com dois dos melhores atores da atualidade: Morgan Freeman como o editor do personagem de Justin, e Kevin Spacey como um veterano policial que o ajuda na investigação. A simples presença desses dois ícones confere peso a qualquer produção, por mais medíocre que ela seja, como é o caso desta que vos comento. Apenas não se engane e queira ir ao cinema pelo fato de ter visto seus nomes em destaque no pôster, pois será dinheiro jogado fora na certa.

Enfim, “Edison – Poder e Corrupção” é um filme que contém falhas do começo ao fim, e sequer merecia ter chegado aos cinemas. Conseguiram levar Justin Timberlake para uma produção cinematográfica, mas que de tão ruim que ela é, seremos legais com o cara, fingiremos que não vimos nada, e vamos considerar que sua estréia foi adiada por mais um pouco. Termino aqui essa crítica com dois pedidos: um para vocês leitores que passem longe desse filme; o outro, para o “diretor” David J. Burke desistir dessa vida de cineasta, pois de fato, esse não é seu forte.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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