Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 14 de janeiro de 2006

Escuridão

Entediante e previsível são dois adjetivos básicos para o filme e quase todos os seus quesitos, a não ser por algumas atuações. É um daqueles filmes que, se você saísse ainda durante a projeção, pode ter a certeza que não perderia nada.

Tudo de mais clichê do gênero terror/suspense recai na trama do filme. Além de mal encaminhada através da equipe técnica, não trás nada de novo. Para os mais acostumados com o gênero, tudo é previsível. Nenhum susto mediante o roteiro ou cenas são de abalar o telespectador mais experto. A não ser que o cinema tenha uma ótima sonorização (lê-se: barulhento) ou seu amigo acerte a hora exata de dar um berro para levar ao susto. Aí sim, você poderá chegar a se tremer um pouco, mas nada que faça você não dormir com medo.

A sinopse inicialmente gira em torno de Adèle (Maria Bello), Sarah (Sophie Stuckey) e James (Sean Bean). Aos poucos outros personagens vão tomando corpo. Sarah é levada a rever seu pai por Adèle – uma mãe cujo passado com a filha não é dos melhores. Elas se perdem, dormem no carro e logo ao amanhecer conseguem facilmente (isso mesmo, com apenas uma caminhada) encontrar a casa que antes parecia tão difícil, por não saberem nem onde mesmo se encontravam, enfim… encontram e eu não vou contestar isso. James, o tal pai, resolve morar afastado da cidade, mas o filme acaba nem explicando porque, como muitas coisas que aparecem e desaparecem sem fazerem aparente sentido e, mesmo com o termino do longa, continuam ainda a não fazerem sentido algum. Nessa casa, somos apresentados ao tipo de susto que vamos ser submetidos até o fim. Aqueles sustos bobos através da ensurdecedora trilha sonora ou, simplesmente, por cenas forçadas e mal encaixadas.

O filme é básico dos básicos. Todos os recursos que os conhecedores do gênero já estão acostumados foram utilizados, como, por exemplo, as tomadas feitas com a câmera livre na mão do cinegrafista que anda tremilicando-a logo atrás da personagem em foco. Algo que causou mais dor na vista do que a real sensação que deveríamos ser atentados. Sem falar também nas tomadas feitas com a câmera rasteira. Essas geralmente são feitas quando tem algo, ou alguém, espreitando os acontecimentos da cena, mas desta feita foram totalmente inúteis, nem servindo para causar suspense ou a preparação para um bom susto. Nem os flashbacks foram bem utilizados. Falaram muito do passado de Adèle e sua filha, de forma nenhum pouco cuidadosa, além de repetidamente. O mesmo flashback é mostrado mais de umas três vezes, se não me engano. É como chamar o expectador de burro ou dizer que um só já não basta para ele se tocar da analogia feita do passado sombrio de Adèle com determinada cena do filme.

As coisas vão acontecendo sem muitas explicações, mas logo vemos que elas nem precisam muito, pois a medida que personagens vão surgindo (ou tomando maior espaço), como Ebrill (Abigail Stone), nota-se que o filme começa uma trama do tipo que não causa medo, nem suspense, entretanto, para alguns, poderá causar riso. Coisas como a pessoa morrer e poder voltar mediante a troca por outra. Ovelhas pulando desesperadamente de um penhasco, rumo a uma morte consciente (!). E, dentre todas as bizarrices, um final que era para ser bombástico acabou virando o típico final de puro enchimento de lingüiça. Com certeza, o filme poderia ter acabado antes do que foi mostrado, pois não faria diferença alguma.

O que salva um pouco são as atuações (um pouco!). A pequenina Abigail, que fabula Ebrill, se apresenta bem. Por culpa do roteiro fraco e de uma má direção por parte de John Fawcett, sua personagem, e conseqüentemente seu talento, não foram mais bem explorados. Sean Bean, como James – um pai muito frio, por sinal – não compromete, porém não é nada demais para os resultados finais. Uma hora ele está em destaque, outrora não, e fica essa coisa chata. Olha que o ator tem talento (ele é famoso pelo papel de Boromir em “O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel”), entretanto, mais uma vez, outro do elenco foi mal explorado. Também não comprometendo, Maria Bello (a mãe desesperada e que acredita fácil em tudo que dizem), faz certas cenas com um nível acima do esperado, mas no final, quando é mais requisitada, passa mal. Para completar Sarah ganha uma interpretação com altos e baixos pela atriz Sophie Stuckey, mesmo estando pouco na parte principal do filme.

“Escuridão” só não causa sono pela altura exagerada do volume da trilha sonora. Um verdadeiro fracasso. Olha que para chegar a essa conclusão nem precisei comparar com outros filmes do gênero. Por se só, que dizer, por se e sua equipe técnica toda, o filme se destrói. Aquele tipo de peça que não faz diferença alguma para a industria cinematográfica. Agora, para os mais desatentos, quem sabe rolam alguns sustos, mas nada de dizer que gostou do filme, pois aí seria heresia pura. Termino esse texto com algo já dito antes: o filme deveria ter terminado antes, bem antes.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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