Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 26 de março de 2006

Espíritos – A Morte Está ao seu Lado

Mais um do gênero. Com uma temática que poderia ter sido melhor desenrolada, Espíritos não amedronta, chegando ao máximo dar uns poucos sustos repletos de clichê, mas que se salva pelo desfecho da trama. E que final, hein?

O filme começa mostrando um momento feliz entre os protagonistas em um encontro de amigos. Minutos depois, o fotógrafo Thun (Ananda Everingham) e sua namorada Jane (Natthaweeranuch Thongmee) saem de carro e, como era de se esperar ao ver o casal conversando sem prestar atenção na estrada, atropelam uma moça que estava atravessando a rua. Apesar de se sentirem culpados, decidem abandonar o lugar do acidente e não prestar socorro à vítima que até então não se sabia se estava morta.

Após este fatídico acidente, o casal passa a viver com um peso na consciência, mas tenta levar uma vida normal. A normalidade dura pouco, quando estranhas manchas começam a aparecer em fotos tiradas por Thun. A partir daí, a pacífica vida dos dois é perturbada por misteriosos acontecimentos aparentemente inexplicáveis e seus amigos mais próximos começam a morrer. Atormentados pelos espíritos, Thun e Jane passam por momentos angustiantes, porém previsíveis, culminando em um final sensacional.

Para os que gostam desse gênero de filme, não assistam esperando muita coisa nova, mesmo porque já estamos repletos de histórias de mocinhas assustadoras que morrem e voltam do outro mundo para perturbar as pessoas, com suas caras deformadas, aparecendo em todos os lugares, andando de cabeça para baixo ou escondendo-se nos cantos das casas. Blergh! E parece que esses monstrinhos estão cada vez menos convincentes, muito toscos e passíveis de ridicularização. As tentativas de susto também estão manjadas. É difícil gritar de medo quando vemos uma mão aparecendo do nada ou uma cena onde litros de sangue são derramados. Sem falar da disposição das câmeras que denunciam a hora do “susto”! Poucas foram as idéias para inovar o terror, mas que não garantem que você ficará com medo de dormir à noite no escuro.

A trilha sonora foi bem trabalhada, principalmente a dos primeiros minutos da trama, passando muita angústia. No decorrer do filme, ela não é tão boa quanto havia sido apresentada, mas não deixa a desejar. Os atores principais desempenham uma performance muito boa, sem exageros ou artificialidade, o que já é de esperar de filmes do gênero terror/horror/trash. Ananda Everingham e Natthaweeranuch Thongmee convencem e passam tensão na maior parte dos momentos de suspense, apenas sendo prejudicados pela previsibilidade do roteiro.

A idéia de trazer as polêmicas imagens que são registradas em fotos é excelente, mas talvez o roteiro pudesse ter explorado mais o assunto, dando a sensação de vastidão e generalização sobre as fotos sobrenaturais. Apesar disso, foi interessante o modo como o casal de protagonistas vão conhecendo mais sobre o que estão enfrentando, chegando a visitar a sede de uma revista que forja estas fotos com imagens de espíritos. Um erro do roteiro foi querer adicionar um ou dois toques de comédia que quebraram a linha razoável que ele estava desenvolvendo, mais um motivo que leva ao ridículo.

Enrola, enrola, até que bons momentos chegam! Já era hora! Quando você já está pedindo para o filme acabar e já está pensando na nota que atribuirá à produção, eis que uma seqüência sensacional de fatos vem compor o desfecho da trama. Vamos por partes. Não que o desfecho tenha sido inovador, mas conseguiu me deixar de queixo caído e deu um tapa na minha cara, pois tinha avaliado muito mal o longa. Não sei se posso chamar este momento de clímax, pois o filme todo é morno, mas a partir do momento em que os fenômenos misteriosos começam a ser justificados, é impossível não se impressionar e aplaudir. Pena que essa sensação de satisfação com um filme de terror, que, diga-se de passagem, estão cada vez piores, não pode ser sentida durante toda a trama, mas creio que o final basta para fazer de Espíritos um filme mediano e interessante.

Junte um pouco de O Chamado, O Grito e Visões e você terá uma idéia do que é Espíritos. Talvez por terem já visto histórias parecidas não atraia tanto o carisma do público, mas duas coisas merecem as sete estrelinhas da nota e os parabéns: a idéia em que o filme gira e o seu final marcante, fugindo daquele temido: aceite e ponto final. E não tenham medo da Natre! Ela chega até a ser engraçada, mas podia pedir ajuda à Samara Morgan por uma maquiagem melhor e lentes de contatos mais naturais.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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