Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 03 de dezembro de 2005

Exorcismo de Emily Rose, O

Quem acha que o título do filme entrega o enredo, certamente irá se surpreender com “O Exorcismo de Emlily Rose”. Com um abordagem diferente, sem sensacionalismo ou apelação, o filme além de dar sustos, trás boas reflexões.

Emily Rose era uma típica mocinha, religiosa e discreta, que passa a ter ataques assustadores. Vamos falar do óbvio: você lê o título e pensa se tratar de algo semelhante a “O Exorcista”. Resposta errada! “O Exorcismo de Emily Rose” vai bem além do simples ritual, que não é o centro das atenções, e mexe com temas polêmicos sem ser necessariamente um filme que exija grandes raciocínios. Você pode muito bem assistir a um suspense/terror comum, com pode assistir a um sacada original sobre o tema da religião.

O filme não conta com muitas estrelas. Emily Rose (Jennifer Carpenter) é uma universitária de 19 anos que estava realizando seu sonho de ser professora. Misteriosamente, ela começa a ter intensos ataques, que, ao ver dos médicos, tratavam de fortes ataques epiléticos. Ela passa, então, a ser tratada, mas sem melhoras alguma. Após poucas mudanças, a família religiosa e a moça decidem seguir a religião e deixar a moça aos cuidados do pároco da cidade, o padre Richard Moore (Tom Wilkinson). Problema: Emily morre.

O padre é acusado de assassinato. A promotoria procura seu melhor advogado. A arquidiocese também, e a escolhida é a advogada Erin Bauner (Laura Linney), que após ganhar um caso difícil na justiça, estava em ascensão, perigando tornar-se sócia em seu escritório, caso aceitasse a defesa do padre Moore.

O julgamento começa e ele é o tema principal da história. Obviamente, vimos a evolução da possessão, ou dos ataques epiléticos, e vimos também o seu exorcismo. A famosa fita K7 também é mostrada, juntamente com uma carta escrita pela moça um dia antes de morrer.

A pérola do filme é o modo como o diretor conduz os debates. As atuações são todas mórbidas, exceto a dos atores que baseiam a trama – a advogada, o promotor (Campbell Scott) e o padre, principalmente a advogada e o padre. Obviamente, outros personagens participam do enredo, mas como meras testemunhas. A intensidade pertence apenas aos principais, como se isso fosse um modo de frisar o confronto entre a ciência e a religião, sem apelar para o misticismo.

Discutir religião é sempre polêmico, e confrontá-la com a ciência, potencializa o “escândalo”. Mas é o que o filme faz, sem agressividade. Temos a ciência acusando o padre e a espiritualidade tentando defendê-lo. Deus não entra tão diretamente na história, como outros filmes usam para ser sensacionalistas. Antes de lidar com Ele, lida-se com a fé humana, principalmente na fé das possibilidades. E não é um julgamento celestial. São homens e mulheres comuns levando a corte um assunto que, supostamente, não pertence a esse plano.

Laura Linney, aquela que fez o par romântico com Rodrigo Santoro em “Simplesmente Amor”, está maravilhosa no papel. Os outros atores podem não ser tão conhecidos, mas não deixam a desejar.

Com sustos e muito suspense, o filme segue sim a linha de terror. Mas não vá achando que vai encontrar “O Exorcista” ou “Stigmata”. Esses filmes focaram definitivamente na religião – e não são ruins! Mas “Emily Rose” abre o leque de debates e tem um acabamento diferente.

Baseados em fatos reais, “O Exorcismo de Emily Rose” é um filme tenso, mas que vale a pena ser visto por trazer uma proposta diferente do que somos acostumados a ver em filmes religiosos.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

Compartilhe

Saiba mais sobre