Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 05 de março de 2006

Fora de Rumo

Um caso extraconjugal que acaba tendo conseqüências catastróficas é o mote de “Fora de Rumo”, um filme que não parece empolgar no início, mas depois engata e acaba sendo um suspense/ação até interessante.

Charles é um publicitário casado e pai de uma menina diabética. Apesar de tudo, sua vida é estável até que ele conhece, ocasionalmente, Lucinda, uma atraente mulher, também casada, e com ela inicia um repentino romance. O que Charles não esperava, no entanto, é que seu affair fosse descoberto por um bandido, que passa chantageá-lo e extorquir seu dinheiro. Sua vida se transforma num inferno e o problema só vai aumentando, deixando Charles numa situação cada vez mais crítica.

O título original (Derailed) que significaria numa tradução literal algo como “descarrilhado”, diz tudo sobre a história, que na verdade é nada mais que uma sucessão de eventos infelizes na vida de um homem que vão ficando insustentáveis. Uma espécie de lei de Murphy continuamente aplicada no personagem de Clive Owen.

Até a sua metade o filme parece não achar seu propósito. O roteiro apresenta falhas visíveis e nada convence muito, principalmente o romance do casal protagonista interpretado por Owen e Jennifer Aniston. A história chega a beirar o tédio, mas se salva, repentinamente, quando a trama toma um rumo inusitado. Já depois do meio do filme, o roteiro parece finalmente engatar e “Fora de Rumo” parece ter algo um pouco mais interessante para oferecer.

Não se pode dizer que temos como saldo final um filme propriamente bom, mas o espectador acaba conseguindo se envolver um pouco na trama e isso é tudo o que uma diversão sem compromisso pede. Não presenciamos uma história genial, mas que se sai até bem para os padrões medíocres estabelecidos pelos filmes do gênero.

A interpretação de Clive Owen como o angustiado Charles está dentro do esperado, embora o ator já tenha tido performances melhores em sua carreira. Já Jennifer Aniston parece interpretar sempre o mesmo papel em todos os seus filmes. Não convence como Lucinda e nem consegue a empatia do público em nenhum dos momentos de destaque de sua personagem.

O ator francês Vincent Cassel (marido de Mônica Bellucci), no entanto, é um ponto forte no elenco, roubando a cena toda vez que aparece na pele do bandido Philippe Laroche, o frio chantagista que torna a vida de Charles um inferno. Cassel consegue fazer com que o espectador sinta toda a repugnância que o personagem deve despertar com seu ar cruel e dissimulado e mostra que também está conseguindo notoriedade em Hollywood, assim como já a tem na Europa. O ator faz a diferença no filme, que talvez não se sustentaria com um intérprete apenas mediano na pele do marginal Laroche.

O roteiro, no geral, se mostra até interessante, porém um pouco mal explorado. Alguns detalhes são completamente previsíveis, embora, repito, na segunda metade da história as coisas fiquem bem mais instigantes. O clichê do “bem vence o mal”, no entanto, se coloca aqui de uma maneira um tanto quanto piegas, com a redenção final do “mocinho” Clive Owen. Uma falha relevante do filme foi não saber exatamente onde terminar, deixando a impressão que poderia ter tido um desfecho melhor se tivesse deixado de se estender um pouco mais.

No fim, dá pra sair do cinema com a sensação de que não foi uma total perda de tempo. Divertimento descartável, mas que ainda assim diverte. Para os não tão exigentes pode ser uma excelente pedida na hora de escolher um filme.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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