Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 25 de setembro de 2005

Gatões – Uma Nova Balada, Os

“Os Gatões – Uma Nova Balada” traz aquele velho e (às vezes) ótimo humor pastelão, ideal para quem curte rir sem compromisso de algumas besteiras, compensando o roteiro medíocre. Além do mais, Jessica Simpson em cena funciona como um colírio para os olhos do público masculino.

Em meio a essa total falta de criatividade que o cinema passa em criar idéias novas, a moda de refilmar clássicos e adaptar antigas séries de TV continua de vento em pompa. Após “As Panteras”, “Starsky e Hutch” e “A Feiticeira” (que estréia dia 30 deste mês), o famoso seriado que estreou no final dos anos 70, “Os Gatões”, também ganha a sua versão em celulóide. Bom, a base do seriado era simplesmente essa: dois primos que aprontavam diversas peripécias, protagonizavam cenas de perseguições totalmente absurdas no comando de um Dodge Charger laranja, e tinham uma prima cuja única função na trama era ilustrar a tela com seus shorts minúsculos e todos os seus atributos físicos no geral. E o longa-metragem? Do que se trata? Bom, a base do longa é: dois primos que aprontam diversas peripécias, protagonizam cenas de perseguições totalmente absurdas no comando de um Dodge Charger laranja, e têm uma prima cuja única função na trama é ilustrar a tela com seus shorts minúsculos e todos os seus atributos físicos no geral. Pelo menos podemos ver que a fidelidade ao seriado foi mantida, e o filme cumpre bem o seu dever: divertir e arrancar boas risadas. A história? Assim como no seriado, ela fica para segundo plano (às vezes até terceiro, ou quarto), abrindo espaço para o humor pastelão e os fortes apelos visuais (se é que vocês me entendem…) que predominam durante a projeção.

O esboço da história é essa: Luke (Johnny Knoxville") e Bo (Seann William Scott), que são primos, são também os responsáveis pela entrega das bebidas, que é feita através de um Dodge Changer laranja apelidado de "General Lee". Luke e Bo volta e meia enfrentam problemas com a polícia, o que faz com que tenham que andar sempre em alta velocidade. A dupla também periodicamente se mete em confusão no Boar's Nest, onde sua prima Daisy (Jessica Simpson) trabalha como garçonete. Após descobrirem que as terras de seus vizinhos estão sendo tomadas irregularmente pelo chefe Hogg (Burt Reynolds), Luke e Bo decidem preparar um plano para salvar o local em que moram.

O diretor Jay Chandrasekhar consegue capturar com méritos toda a atmosfera do seriado, mantendo o filme com aquele clima dos anos 70 (mesmo que o visual não indique isso), e mantendo aquelas tradicionais pausas enfocando o rosto de um dos protagonistas, enquanto o narrador explica ao espectador a situação. Tal técnica parece até batida, mas aqui funciona bem, de forma a realmente parecer que estamos vendo uma série antiga. Bom destacar que as marcantes cenas de perseguição envolvendo o belo carro Dodge Charger, batizado como General Lee, são adaptadas ao longa-metragem com muito estilo, mostrando perseguições que fogem completamente os padrões da realidade, lembrando muito às seqüências de perseguição vistas em “Os Irmãos Cara-de-Pau” (1980). Nesses momentos, o diretor usa e abusa de closes e câmeras não-estáticas, jogando o espectador para dentro do carro pilotado por Bo Duke e sentindo a adrenalina de estar voando, literalmente, em um carro. Com certeza, os fãs antigos do seriado irão delirar com esses momentos. Sem falar na ótima trilha sonora, marcada por grande clássicos do rock progressivo e do country dos anos 70-80, incluindo AC/DC e Willie Nelson (que por sinal, interpreta o Tio Jesse no filme), ajudando a situar o espectador à época no seriado e calibrando bem o feeling das decorrentes cenas de ação.

Tudo bem até então, mas, tenho que falar do roteiro. Como podemos ver, a sinopse em si já é boba, pois ela ainda chega a ser apenas um esboço para o festival de presepadas realizadas pelos protagonistas, as exibições do fenomenal corpo de Jessica Simpson e as mirabolantes perseguições envolvendo o Dodge. De início, você até chega a acreditar que realmente há uma história por trás de tudo, mas lá pela metade, chega um ponto que você se esqueceu completamente do que está acontecendo, se rendendo totalmente aos risos constantes. Há uma certa “investigação” feita pela dupla durante o filme, mas que acaba se tornando totalmente desinteressante, e em nenhum momento ela chega a ser aprofundada pelo roteiro, que sempre procura apelar para meios externos para desviar a atenção do espectador da história (que praticamente já inexiste). Sem falar que, os personagens secundários são demasiadamente mal aproveitados, de forma que a dupla principal recebe muito destaque, e os outros não passam de figuras caricaturais e irrelevantes à “trama”. O maior exemplo disso é a figura da mulher, retratada no filme unicamente como um objeto de possessão e atrativo visual ao público masculino. Além disso, estão lá: o vilão com ar cartunesco (é impressionante ver a que ponto um ator do status de Burt Reynolds chega a se submeter para tentar ressuscitar a carreira), o tio engraçado, o gorducho que gosta de explodir coisas, o policial bobão que tem uma queda pela gostosa do filme, e uma série de outras figurinhas batidas.

Pelo menos, se os risos conseguem se sobressair do roteiro fraco, podem acreditar que é puro mérito. “Os Gatões” é um filme que consegue resgatar aquele bom (não para todos) humor pastelão, gênero que se mostrava praticamente extinto em termos de qualidade nos últimos anos. Assim, não espere ver no filme diálogos bem trabalhados ou piadas inteligentes. Para quem se divertiu rindo de situações bestas em filmes “Corra que a Polícia Vem Aí” e “Apertem os Cintos! O Piloto Sumiu”, com certeza não fará diferente nessa comédia que se apóia exatamente nesse tipo de comédia. Sabe aquelas situações que de tão idiotas que elas aparentam, se tornam hilárias e acabam arrancando-lhes muitas gargalhadas? Pois esse é o caso. Eu poderia muito bem falar que é o cúmulo da falta de criatividade um filme tentar arrancar risos mostrando um homem com um capacete feito de um tatu, ou um policial tentando fazer o truque de deixar uma caneta mole, ou, um homem no comando de um carrinho de golfe tentando mostrar seu ar de superioridade ao afirmar que pertence à “Polícia do Campus”…mas, situações como essas se tornam momentos de glória para os fãs do gênero, que simplesmente cresceram assistindo às “Sessões da Tarde”.

A química demonstrada em cena entre Seann William Scott e Johnny Knoxville é excelente. É fato que, individualmente, seus gestos e expressões ainda distraiam um pouco a mente do público, fazendo lembrar os seus papéis mais marcantes – no caso de Seann, o Stifler da série “American Pie”, e de Johnny, não bem suas expressões, mas sua imagem relacionada ao seriado nonsense “Jackass”, que ainda é forte. Mas, juntos, a dupla mostrou um timing cômico (ainda que, no quesito comédia, Seann supere Johnny) muito eficiente, fazendo funcionar até as piadas mais bestas. Aguarde que esta dupla ainda dará muito o que falar no ramo humorístico – o filme é bom e fez bonito nas bilheterias gringas, alguém ainda duvida que uma continuação estar por vir? Quanto a estréia da cantora pop Jessica Simpson nas telas, podemos dizer que ela cumpriu com maestria a sua tarefa, ainda que, suas poucas falas já são suficientes para provar que ela não nasceu para ser atriz. Como então eu digo que ela cumpriu seu dever? Simplesmente, seu dever em cena é unicamente fazer o público masculino babar, exibindo seus fenomenais atributos físicos, sempre usando shortinhos pra lá de curtos (que pernas!) ou biquíni. E isso, podem ter certeza que ela faz muito bem. Seu corpo é algo que podemos definir apenas como perfeito, de deixar os homens delirando quando ela aparece, fazendo desligar totalmente a atenção do filme. As mulheres podem até considerar “Os Gatões” um filme machista, mas, os homens, com certeza irão achar nas exibições de Jessica Simpson, motivos suficientes para a satisfação de ter pago o ingresso. Já Burt Reynolds está caricato como ninguém nunca viu, esbanjando canastrice, fazendo do seu papel uma bela auto-paródia da sua imagem. Já o cantor country Willie Nelson está bastante divertido na pele do tio Jesse, apenas não reparem nas piadas contadas por ele em um certo momento da projeção.

Enfim, posso dizer que “Os Gatões” cumpre bem a sua meta de divertir e fazer rir, e ainda transmite adrenalina nas ótimas cenas de perseguição. Para um gênero que anda tão em decadência, é bom ver que dois bons filmes em cartaz – o outro é “Penetras Bons de Bico” – estão mostrando que a comédia pastelona ainda vive e tende a crescer. Mas, se você tiver a fim de assistir a algo inteligente e com uma boa história, fuja, pois “Os Gatões” não é o seu tipo de filme. Se bem que, para alguns, história e inteligência pouco importam, afinal, o filme tem Jessica Simpson em cena.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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