Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 08 de outubro de 2005

Irmãos Grimm, Os

Quando o filme começou, aconteceu a primeira e bela cena de ação, mais ou menos aos dez minutos de projeção, e logo pensei: Pronto! Esse é o diretor certo, no filme certo e que possui os atores certos. Quando o filme acabou, me questionei: porque não deu tudo tão certo? Essa é uma questão difícil de responder. Quem sabe eu consiga decifrar esta dúvida ao decorrer da crítica.

O filme apresenta uma aventura com os lendários irmãos contadores de histórias, Will e Jake Grimm (Matt Damon e Heath Ledger), que viajam pelos territórios napoleônicos, enfrentando monstros e demônios criados por eles mesmos, em troca de dinheiro fácil. Mas quando as autoridades francesas descobrem o esquema, os dois trapaceiros são forçados a enfrentar um feitiço verdadeiro numa floresta amaldiçoada, local em que jovens donzelas vêm desaparecendo sob circunstâncias misteriosas.

Muitos de seus contos de fadas, como Cinderela, O Chapeuzinho Vermelho e João e Maria são introduzidos na história, forçando os Irmãos Grimm a enfrentar tudo o que suas imaginações, um dia, trouxeram à vida, nesta batalha entre a fantasia e a realidade.

Para efeito de raciocínio, os verdadeiros irmãos Grimm eram famosos escritores de contos de fadas. Quem não conhece as histórias citadas acima? Histórias que quase sempre são iniciadas pela famosa frase que já se tornou um célebre jargão, “Era uma vez…", e terminadas pela não menos utilizada “Viveram felizes para sempre” (a Disney que o diga). Todos conhecem, mas poucos sabem quem são os autores destas histórias que encantaram e que continuam encantando a gerações. Pois bem, os autores destas e outras conhecidas histórias infantis são Jacob Grimm (1785-1863) e Wilhelm Grimm (1786-1859), popularizados como irmãos Grimm. Os dois nasceram em Hanau, na Alemanha, e, além de criarem fábulas infantis, também contribuíram com a língua alemã, na produção de um dicionário e estudos de lingüística.

Este pequeno e histórico texto consegue mostrar o quão importantes são esses irmãos. Afinal, eles possuíram o dom de terem escrito algumas das mais cativantes histórias de todos os tempos. Com isso, Matt Damon e Heath Ledger tiveram a incumbência de interpretar esses grandes escritores. Cumpriram bem o seu papel, pode-se afirmar. O principal culpado do filme não ser tão acima da média foi, quiçá, o supremo Terry Gilliam. Sim, o diretor. Ele, o homem que fez com maestria clássicos como “Monty Python e o Cálice Sagrado”, “Brazil – O Filme” (estrelado por Robert De Niro), “O Pescador de Ilusões” e “Doze Macacos”. Mesmo com um currículo de peso nas costas, o principal problema de "Os Irmãos Grimm" é o simples fato da indecisão. Gilliam não sabia se faria um grande filme de aventura ou se transforma tudo numa bela comédia pastelão. Esta indecisão lhe custou caro. Por sorte, Ehren Krueger foi feliz (mais uma vez) com o roteiro (lembrando que foi este moço que fez o roteiro de “Piratas do Caribe”).

Com exceção da indecisão do diretor, que pode parecer pouca coisa, mas reflete tudo na tela, o filme consegue agradar. Sim, boa parte do elenco ajuda. Jonathan Pryce (“Brazil, O Filme” e “As Aventuras do Barão de Munchausen”) é um exemplo disso. Ele interpreta um papel-chave: o comandante francês General Delatombe, que impunha suas leis despóticas na zona rural alemã, onde os Irmãos Grimm exerciam, até então, seu negócio fraudulento de caça aos demônios e exorcismos. Dos coadjuvantes, também podemos citar o ator sueco Peter Stormare. Ele faz o hilariante, inepto e terrível Cavaldi, companheiro de crimes de Delatombe que veio de Parma, na Itália. Ele é uma graça. O sotaque francês-italiano e uma bela duma peruca fazem com que tenhamos algumas rápidas cenas engraçadas.

Temos, agora na ala feminina, no papel da encantadora caçadora Angelika, a jovem atriz inglesa Lena Headey; e da Rainha Má, de 500 anos de idade, a sensação do cinema internacional, Monica Bellucci. Ambas cumprem bem o seu papel, principalmente Lena Headey, que lembra muito a atriz Keira Knightley ("Rei Arthur" e "Piratas do Caribe"). Ela seria ótima para o papel. Ainda bem que Lena teve competência.

Matt Damon e Heath Ledger. Eu não estava colocando fé nesta dupla. São dois estilos contrários e fisicamente não possuem nenhuma semelhança (eles interpretam irmãos). Eu sei que irmãos não precisam ser idênticos, afinal, não estamos falando gêmeos, mas pelo menos deveriam possuir semelhanças físicas. Estranho. No final das contas, por incrível que pareça, Ledger roubou a cena do ótimo Damon. Simplesmente não deu espaço. Isso foi reflexo do roteiro e deu certo. Matt Damon faz o irmão cabeça da dupla, e Heath Ledger faz aquele que age com o coração e sempre com boas intenções. Diferentes até nas personalidades. Foi bacana ver o resultado na telona. Mais um ponto para o roteirista.

De resto, a produção está impecável. Efeitos especiais são exuberantes e perfeitos (apesar de serem MUITO transparentes). A primeira cena, apesar de ser armação, é linda. O figurino do filme é ótimo também. É estranho saber que ele não fez sucesso nos EUA. Os estadunidenses estão estranhos. Bem, isto não importa. Vá ao cinema e assista ao filme na boa. As indecisões do diretor são fáceis de serem percebidas, mas não chega a atrapalhar tanto o filme. Gostaria de ver se Terry Gilliam tivesse conseguido mais dinheiro para a realização deste filme. Com certeza, seria um dos melhores filmes do ano. Fica para próxima.

Jurandir Filho
@jurandirfilho

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