Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 17 de outubro de 2005

Jardineiro Fiel, O

Sem sensacionalismo e com uma história bastante envolvente, o novo filme do brasileiro Fernando Meirelles nos passa uma visão real do mundo através de uma história de ficção.

Fernando Meirelles, diretor do notável "Cidade de Deus", prova que brasileiro tem talento e muito para fazer bons filmes em terra estrangeira. Sendo o primeiro filme em língua inglesa de Meirelles, "O Jardineiro Fiel" trás o tema da África e da ganância capitalista.

O filme não apresenta uma cronologia linear. Usa de flash-back, sem muitas explicações, mas de uma forma tão bem encaixada que você nem precisa parar para recapitular os fatos. É como se acompanhasse a linha de pensamento de alguém que escuta uma história. “Jardineiro” trás também uma iluminação bem cuidada, que não apenas "ilumina", mas interfere na passagem da emoção de cada cena.

Rachel Weisz (Constantine) interpreta Tessa Quayle, mulher de Justin Quayle, interpretado por Ralph Finnes (Dragão Vermelho). Os dois vivem uma breve história de amor e mudam-se para a África a trabalho. Tessa era uma ativista, envolvida com assuntos da saúde e política africana. Justin era membro do Alto Comissariado Britânico e tinha uma verdadeira paixão pelo seu jardim.

Tudo caminhava bem, apesar das insistência de Tessa em se envolver com assuntos sigilosos e polêmicos. Mas ela era extremamente dedicada, e contava com a ajuda de seu colega de trabalho Arnold Bluhm, um médico africano. Justamente por "se meter onde não foi chamada", Tessa morre de forma trágica, numa história cheia de mistérios. O marido, então, passa a investigar o trabalho que a mulher desenvolvia e começa a correr sérios perigos também.

Durante a busca pela verdade, Justin desconfia de várias coisas, dando motivo inclusive para as autoridades alegarem perturbação mental. Ele fica confuso entre supostas traições da mulher, do melhor amigo, dos colegas de trabalho… E aviso foi o que não faltou: “não mexa em jardins estrangeiros, Justin”.

Sem muitas delongas e sem exageros, a história transcorre de forma envolvente. As cenas africanas são emocionantes. O descaso como aquelas vidas são tratadas é revoltante. A omissão, o assistencialismo barato… Meirelles mostra tudo isso nas entrelinhas da história. Só sendo ingênuo demais para achar que aquilo também é encenação…

Felizmente, Mike Newell abandonou esse projeto para dirigir “Harry Potter e o Cálice de Fogo” e deixou Fernando Meirelles mostrar seu talento. Vale contar uma curiosidade também: Nicole Kidman foi cotada para o papel, mas Meirelles a achou velha demais. Naomi Watts também era uma forte opção, mas não pôde aceitar devido ao seu trabalho em “King Kong”. Natalie Portman, Eva Green e Kate Winslet também estavam entre as opções, mas foi a engajada atriz Rachel Weisz que ficou com o papel.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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