Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 31 de outubro de 2005

Lenda do Zorro, A

Quando uma aventura se transforma em algo animado (lê-se engraçado) perde o cunho verdadeiro. “A Lenda do Zorro” caiu nessa discórdia cinematográfica. Ainda assim, agrada aos que não são muito fãs do herói mascarado.

Falo "de cara limpa": Zorro é um ótimo tema para fazer um filme, quando não é preciso impressionar as pessoas que o vêem além da aventura. O pano de fundo da estória de um super-herói, o que ele tem a mostrar além da máscara e capa, é deveras atrativo para muitas pessoas, algumas, até gostam mesmo desse lado da estória. Talvez as peripécias zorreanas quebrem um pouco o estigma por não explorar o confim do herói ou simplesmente o fato dele não ter essa parte.

Hoje em dia, o homem da capa preta não tem muito a acrescentar para o cinema. Seu seriado já foi re-re-reprisado. Esse, tal como outros filmes da seqüência, servem simplesmente para preencher as salas de cinema, enriquecer pessoas sem criatividade e fazer um estardalhaço dentre as que vão ao cinema pelo material de divulgação do longa.

Complacente com os parágrafos anteriores, e você encontrou o roteiro. Zorro e seu corcel (diga-se de passagem, bastante inteligente para ser um cavalo) entram nas mais nefastas confusões a fim de salvar alguém ou algo, seja ela uma grande reunião de pessoas ou um simples ataque concentrado. Não obstante a simplesmente salvar o ocorrido, piruetas circenses e “pulos-macacos” são observados, levando a multidão da cidade local e alguns espectadores dentro das salas de projeções à loucura. Como foco escondido a esses acontecimentos, há um maior, o qual Zorro terá de fincar sua fama de mocinho ao final do filme. Não poderíamos esquecer de citar a presença de uma sempre bela acompanhante, Catherine Zeta-Jones. Sua personagem que no primeiro terminou casando-se com Zorro, resolve colocá-lo em uma encruzilhada ameaçando acabar o casamento. Tudo porque ela é contra as suas arriscadas missões, mediante uma promessa que ele fizera quando seu filho nasceu.

Tudo esperado! A película cai no clichê antes mesmo de começar a ser rodada. Sem exageros. Muitos já vão sabendo que a primeira cena é de ação. Só pudera, se for pra encher lingüiça, que seja desde os primeiros segundos. Dessa vez, foi além da ação. As piruetas de Antonio Banderas (Zorro), puxaram bastante para o lado Didi Mocó. Sabe aquelas armações dele e do Dedé (o antigo Dedé) no extinto 'Os Trapalhões'? Pronto, típico. Não que seja esse o fato para o filme ser banido, já que ele está ali para divertir mesmo. Eu me diverti, mesmo que tenha sido rindo de besteiras e erros de continuidade. Sem falar que estava vendo a hora ele falar: “ô da poltrona!”. Teria sido melhor do que alguns diálogos fraquíssimos e sem nexo apresentados.

Alguns filmes sérios conseguem fazer rir com piadas inteligentes ou visuais. Esse objetivo não foi conseguido em Zorro. O primeiro personagem que lembrei para falar na crítica foi o cavalo. Vejam só, o cavalo Tornado. No seriado, o eqüino tinha suas tiradas engraçadas, mas não da forma que fora apresentado nesse filme. Alguém já viu um cavalo fumando cachimbo? Poupe-me quem teve essa idéia para lá de mirabolante! Não pára por aí, mas não sou eu quem continuará falando sobre. Ou você levará em conta eu colocar algumas linhas a mais na crítica só para falar que o animal, em um dado momento, arregala os olhos após ter visto algo surpreendente?! Opa, falei.

Com uma boa atuação, apesar de não gostar de ver o rapaz nesse tipo de papel, Antonio Banderas acaba agradando. Nada totalmente de se vangloriar, mas ele e seus dublês foram bem. Não há outro ator que fique mais bem posto para tal papel. Talvez até sim. O filho de Alejandro (nome real do Zorro), poderia até ser intitulado como o Zorrinho. O pivete apresenta algumas manobras também no melhor estilo Didi Mocó e se apresenta como um verdadeiro filho do Zorro. Alguns elogios surgem para Catherine Zeta-Jones. Não é uma super-interpretação, entretanto, no âmbito geral do que o filme requeria, ela se saiu bem.

Discordando de um roteiro chato e uma estória para lá de martelada, está a trilha sonora. Muito boa. Provida de impacto ou graciosidade quando é preciso. Simples e direta, digna de elogios. Um simples contra recai sobre o assunto, mas nem vem a ser para com a trilha em si. O fato chato vai para quem resolveu repetir o tema principal por mais de cinco ou seis vezes durante a trama. Errou na dose tornando-a um pouco fútil.

Para contas finais, o filme virá a agradar aos menos aficionados por Zorro. Algumas pessoas que se empolgam com pouca coisa também vibrarão. Esse lero-lero para lá de estereotipado há muito parou de me convencer. Saia dessa vida você também. Alguns projetos que nem chegam a passar em cinema tem algo bom a passar ao público, deixando o texto de um crítico recheado de frases inteligentes.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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