Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 13 de março de 2006

Marca, A

Até quando os cinéfilos vão continuar sendo alvos de suspenses fracos, chatos e previsíveis? Nem Samuel L. Jackson e Andy Garcia salvam esse fracasso estrelado por Ashley Judd, por sinal em uma péssima fase da sua carreira.

A Marca conta a história da detetive de polícia Jessica Shepard (Ashley Judd) que depois de capturar um bandido bastante procurado é promovida para o setor de homicídios. Logo na sua primeira missão, a moçinha vira o centro da sua própria investigação, pois alguns homens que ela teve um caso amoroso são encontrados mortos com uma marca de cigarro na mão, dando início a procura deste serial killer para compravar que ela não é a responsável por esses atos.

Lentidão. O filme poderia ter acabado muito antes do seu fim. É um festival de redundâncias, cenas que tentam se sustentar sem conseguir, e a Ashley Judd no papel principal. A atriz demonstrou um total desconforto ao viver a policial Shepard, a começar pela primeira cena do filme, na qual ela está sendo ameaçada por um criminoso que a prende com os braços, juntamente com uma faca no pescoço, e depois de muito olhar para o céu, sem nenhuma reação, Shepard mostra que é policial, dá uma reviravolta, bate no bandido e saca a arma, fazendo-o ajoelhar-se. Uma cena de humor logo no começo, já que Judd mostra péssima desenvoltura tanto batendo no homem quanto segurando a arma. Qualquer bandido perigoso teria reagido e saído ileso, após essa demonstração desagradável da atriz, fazendo-nos prever que a sua atuação continuaria desapontando no decorrer do filme.

São vários os problemas no roteiro de Sarah Thorp. A personagem de Judd apresenta-se, grosseiramente falando, como alcoólatra e promíscua. Nenhum problema ao construir uma personagem assim, mas o roteiro não faz por onde essa idéia se sustente. Parece um personagem neutro, sem objetivo, perdido no filme, vagando pelas cenas sem mostrar um propósito. Outro problema no roteiro é a vontade de causar suspense em relação a quem seria o serial killer da história, já que é bastante previsível que por mais que a moçinha pareça a assassina, ela esteja sendo prejudicada por alguém e como era de se esperar, existem pouquíssimas opções para o público desconfiar de quem seria esse “alguém”. Mesmo assim, a história insiste em mostrar que o assassino oculto é um determinado personagem e no fim, há uma reviravolta clichê e nada emocionante mostrando o verdadeiro psicopata. E foram felizes para sempre.

Talvez alguns diálogos tenham sido até convenientes e interessantes em algumas cenas, mas sem um apoio de pelo menos uma atuação razoável da protagonista, eles mostram desarmonia na trama. O diretor Philip Kaufman até investe no começo em cenas bem elaboradas, fazendo o público esperar por um ótimo suspense, mas desiste muito antes de chegar ao clímax da história, tornando-a chata demais.

Não adianta mais produzirem ou aprovarem roteiros que não trazem nenhuma novidade no conteúdo ou na condução da história. Cada vez mais está sendo difícil prender a atenção ou seduzir o expectador, e historinhas de serial killers sem um diferencial (como temos em Seven e Jogos Mortais) que só procuram enganar o público (sem conseguir) não têm mais espaço no cenário cinematográfico atual. Para aqueles que ainda são fáceis de aceitar uma história boba, não custa nada assistir A Marca. Já para os mais exigentes, passe longe.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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