Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 17 de abril de 2005

Modigliani – Paixão Pela Vida

Andy Garcia personifica o doce e boêmio pintor italiano Amedeo Modigliani, quando este habitava numa espelunca em Paris. Seus casos, seus quadros, suas brigas com Picasso. Tudo retratado com muita poesia. Com muita singeleza e autenticidade. Dá vontade mesmo de subir nas mesas e declamar poemas quando termina.

Amedeo Mogigliani foi um dos principais integrantes da Escola de Paris, que marcou a pintura da primeira metade do século XX com suas figuras alongadas, que se destacam pelo despojamento e pela estilização. O filme em questão trata dos últimos anos de sua vida, apaixonado pela arte de viver.

Andy Garcia protagoniza Modigliani e consegue deixar à flor da pele toda a sua loucura, sua intensidade e personalidade inquieta. O filme todo é uma mescla de alegrias e angústias, expectativas e frustrações. Emoções à flor da pele. Elza Zylbertein, que interpreta Jeanne Hébuterne, mulher de Modigliani, também se sai muito bem, emocionando no início e no final do filme, com gestos e olhares que dispensariam diálogos.

A biografia foca nos últimos anos da vida de Modigliani, mostrando seu vício pela bebida, suas lembranças da infância discriminada por ser judeu, sua participação em um concurso local, onde consegue ganhar de Pablo Picasso, a relação com os amigos – principalmente a relação intrigante de amor e ódio que ele desenvolve com Picasso, o drama da conquista da guarda de sua filha, enfim, seus altos e baixos. Não há um fato central no filme, tudo foi muito bem encaixado em volta da paixão de Modigliani pela vida e pela arte, mas com o cuidado de não se criar uma obra sem nexo.

Mesmo a vida do pintor tendo sido intensa e inquietante, o filme conseguiu mostrar isso de forma dosada, sem cair no enredo enfadonho. É um filme apaixonante e leve! Mostra a época em que Modigliani vivia, dando espaço a outros personagens, mas sem sair um minuto do seu foco inicial.

Picasso, interpretado por Omid Djalili, está tão fidedigno que dá nojo! E mesmo sendo Picasso, não rouba a cena do belíssimo Modigliani – belíssimo tanto como pessoa, como artista e como homem! Realmente, Andy Garcia estava em um de seus melhores ângulos!

O diretor usou um jogo de iluminação muito interessante no filme, como se certas cenas do filme fossem verdadeiros quadros de arte. Uma iluminação de penumbra às vezes, de luz intensa em outras, mas como já falei, tudo muito bem dosado, ao ponto que nem se percebe conscientemente todas essas variantes.

Quem gosta de arte, com absoluta certeza irá gostar do filme. Há instantes em que se sente a tinta da tela nos próprios dedos, de tão simples e transparente que é mostrado o envolvimento da arte com as pessoas naquele espaço de tempo. De forma despretensiosa, esta é uma biografia que não procura aumentar ou diminuir, mas apenas deixar fluir a emoção da arte de Modigliani. E consegue, como pouquíssimas vezes consegui ver nos filmes.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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