Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 16 de março de 2006

Mulheres do Brasil

Com um nome forte, que dá idéia de que irá desbravar o universo feminino, com seus sonhos e dificuldades, o filme não ultrapassa de uma leitura superficial da psique feminina, mas mesmo assim, faz bonito, e é a opção mais variada no circuito.

Batalhadoras, entregues as causas pessoais de corpo e alma, com mistérios e labirintos em sua psique que dificilmente alguém conseguiria desvendar por completo. São assim todas as mulheres, e não poderiam deixar de ser as mulheres de Mulheres do Brasil.

O filme narra a história de cinco personagens, cinco mulheres distintas, com classes sociais diferentes, vidas e culturas diferentes. O filme abre com a história de Esmeralda, uma jovem que convive com a fé cristã em confronto com sua personalidade e a dubiedade do Anjo/Demônio. A segunda história, conhecemos Ana, uma jovem universitária que redescobre os seus valores sobre a vida através dos olhos de um casal de uma cidade litorânea. A terceira história fala de Telma, uma jovem do morro carioca que em seus sonhos está a tradição familiar de ser porta-bandeira da escola acadêmicos do Grande Rio e a luta do seu cotidiano para sobreviver na sociedade e sustentar a casa, uma mãe cega e a irmã mais nova. Na quarta e penúltima história vemos Martileide, em uma espécie de conto de fadas modernizado, onde a mocinha pobre sonha com seu príncipe encantado, no caso dessa história, um locutor de rádio. E na última história nos deparamos com Laura, uma mulher com 45 anos, tentando voltar ao mercado de trabalho, depois da separação.

O filme possui uma proposta muito boa, e em algumas histórias ele entremeia documentários e ficção. Esses documentários servem para nos fazer sentir e nos aprofundar um pouco mais em cada personagem já que cada história possui apenas 25 minutos. Mas infelizmente, não conseguimos sentir na pele, ou até mesmo nos aprofundar nas personagens. E mesmo o título, que dava uma impressão de que iríamos ter uma desmistificação da psique feminina, peca por não conseguir entrar nem ao menos em um terço do que a mulher realmente é ou pensa.

As atuações variam entre as péssimas, as razoáveis e as boas (não há nenhuma atuação que realmente exceda esses padrões). Camila Pitanga infelizmente não consegue dar força a sua personagem, e até faz com que a sua história seja a mais fraca de todas, simplesmente sentimos como se a personagem seguisse o rumo da história porque simplesmente tem que seguir. Luana Carvalho, que interpreta a jovem universitária, também não consegue dar muita força a sua personagem, embora seja fácil identificar as angústias da adolescente, ela simplesmente “some” ao contracenar com Dira Paes, que está boa, mas já fez personagens muito melhores. Roberta Rodrigues, que faz a Telma na terceira história também está boa na sua atuação, convincente e talvez a única a que parece estar à vontade no seu papel. Carla Daniela, na quarta história interpretando Martileide se torna fraca, e perde muito do seu potencial. E por fim Bete Coelho que consegue manter um padrão para sua personagem, porém não chega a exceder na atuação.

Na equipe técnica, quase todo composto também por mulheres, está a diretora, Malu De Martino, comandando seu primeiro longa. Infelizmente ela perde muito do potencial da temática do filme e a única história que realmente consegue fazer com afinco é a da porta-bandeira, onde realmente ela consegue fazer com que possamos sentir na pele o sofrimento da jovem e até mesmo nos emocionar.

Mas em um apanhado geral o filme não chega a incomodar ou ser um produto que não funcione. Pelo contrário. É um produto, que no circuito, é uma boa opção para quem está cansado de clichês. Mesmo às vezes parecendo uma peça de teatro filmada (o texto decorado e as marcações, infelizmente a diretora deixou tudo isso transparecer), o filme funciona bem. Mas claro não é o tipo de filme que vá agradar a todos, afinal, ele não se parece em nada com o “copiar e colar” dos roteiros de filmes como Mais uma vez amor e Se eu fosse você, que são bem parecidos com produções de fora, pelo menos no roteiro.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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