Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 29 de agosto de 2005

Ong-Bak – Guerreiro Sagrado

Um filme que não acrescenta nada na nossa vida, muito menos aos nossos olhos. É o tipo de película que pode ser passada em branco para quem gosta, ou não, de cinema. De qualquer forma, assista para ver se minha crítica está valendo.

A prova empírica de que os filmes pastelões de luta sem um fundo interessante, já tiveram a sua época e não valem mais nada, está relatada nos 105 minutos de Ong-bak. Mediante tal afirmação, se você não quiser assisti-lo, pode parar de ler essa critica e procurar a de um filme que realmente valha a pena, pelo menos, ser criticado. Afinal, eu relutei bastante antes de escrever sobre o mesmo. Hajavista que vocês vão ver um bocado da palavra ‘ruim’ e seus possíveis sinônimos.

Na capa de seu DVD, Ong-bak, ostenta a seguinte frase: “SEM efeitos especiais. SEM dublês”. Tudo bem que não tem efeitos especiais, mas precisava ser tão horrendo? Sinceramente, passou pela minha cabeça a desonra de ter um motivo para elogiar os filmes de Jean Claude Van Damme ou Steven Seagal. Esses usavam tais dublês e efeitos, dando oportunidade até pra soltar algumas risadas – mas não achem que eu vou escrever algum tipo de frase benéfica para esses filmes (somente se comparados a Ong-bak).

O filme conta a saga urbana do guerreiro lutador de Muay Thai (boxe tailandês), Ting (Tonny Jaa), proveniente de um vilarejo pobre e surrado da Tailândia. O jovem é incumbido a recuperar um objeto sagrado (Ong Bak) de seu povo, o qual fora roubado por um pouco sorrateiro traficante de drogas para compensar o querer de seu chefe. Ting até achava que não ia ser tão difícil quanto fora cumprir sua missão. Enganou-se, já que ele foi de encontro a alguns de seus dogmas ao lutar por dinheiro, influenciado por seu “companheiro” George/Humlae (!) (Petchtai Wongkamlao), natural do mesmo local de Ting, mas não vai muito com os costumes de lá, afinal de contas é alucinado por grana, grana e grana. Conseguindo-a de um jeito falho, enganando aos outros, o que lhe causa varias desventuras, juntamente a sua parceira nas tramas: Muay Lek (Pumwaree Yodkamol).

A produção é altamente previsível e fraca. As seqüências de porrada são até boas, mas o elogio resume-se a isso. O diretor Prachya Pinkaew faz umas maracutaias com as câmeras, que, medonhamente falando, são tristes. Uma repetição chata de uma cena que podia até ser boa, mas se torna cansativa. Algumas colocações mal feitas da câmera, outras péssimas, causam ainda mais pavor aos meus olhos que já estavam totalmente descontentes para com o filme.

Os horrores não param por aqui, pois vou falar do elenco. Não, não agrada! Tonny Jaa, interpretando Ting, não deixa bem claro o que quer passar com sua expressão inabalável. Não sei se é falta de competência ou do personagem mesmo. Pareceu limitação do ator, matando de vez o mal apresentado pelo personagem. A voz de Muay Lek é tão ruim quanto a desenvoltura de sua atriz, Pumwaree Yodkamol. Senti calafrios e vontade de não olhar para o filme quando essa tal entrava em cena. Lembrou-me a voz de Shun-Li desferindo seus golpes no game Street Fighter. Tragicômico, não? Petchtai Wongkamlao, faz um tal de George ou irmão Humlae – enfim não sei como chamá-lo – limitadíssimo ao extremo do limitado. Podia ter sido simplório, mas não foi, quis inventar, deu no que deu. Agora, abra o dicionário e vá a palavra ‘ruim’, pegue todos os seus sinônimos e transcreva-os para o personagem Don, encarnado por Wannakit Siriopout. Ainda bem que ele não aparece muito em cena.

É fato totalmente perceptivo a ruindade do personagem Don, mas pior é seu chefe. Ele usa um aparelho inenarrável na garganta e toda vez que pronunciava algo apertava o treco que fazia um ruído estranho e sua voz saía com o efeito a de um robô. De tão tosco, feio e irritante, causa risos. E o prêmio para o pior de todos os momentos, vai para… uma tal perseguição em veículos originais do local. São feitas umas tomadas de câmera totalmente sem nexo e uma percepção de velocidade que, se olhada em câmera lenta, não se sabe quem chega por último.

Não é querendo ser chato, mas repito, o filme é ruim demais. Horroroso, péssimo, deprimente, TRISTE. Peço até desculpas pela curta critica, entretanto não vi como falar mais. Afinal, ninguém gostaria de ler palavras e palavras sobre um filme medíocre como tal.

Comentado sobre ele com um amigo, fui recebido a quatro pedras. Interessante que um dia quando o sugeri uma produção tupiniquim, "Meu Tio Matou Um Cara", se não me engano, escutei a seguinte frase: – É filme brasileiro, não presta. Então me reporto ao texto da Maíra Suspiro, em sua coluna, aqui no Cinema Com Rapadura, no qual ela defende as películas nacionais. O texto pode ser lido em: http://www.cinemacomrapadura.com.br/colunas/coluna.php?id=80

Como de “tudo na vida tiramos um lado bom”, tira-se o jeito que trataram o Muay Thai. Essa arte marcial é uma marca da Tailândia e quem a pratica, por amor e satisfação, é bastante admirado. Isso é bem notado na confiança entregue ao jovem Ting. Como ele era o melhor guerreiro local, de forma unioptica foi atrelado um sentimento pleno de vitória ao rapaz, algo muito difícil de acontecer quando pouco se cultiva uma relação não egocêntrica na sociedade (num é, queridos compatriotas?). No fim de tudo, você com certeza ficará com um pouco de vontade de praticar Muay Thai.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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