Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 13 de março de 2006

Orgulho e Preconceito

Mais do que adaptado de um livro, Orgulho e Preconceito faz esquecermos todas aquelas bobagens que já se tornaram clichês em comédias românticas pelo simples fatos de também sentirmos o sofrimento e o amor de Elizabeth e Mr. Dracy.

Jane Austen é, hoje, uma das escritoras mais reconhecidas da literatura britânica. Sua forma de expressar a vida das mulheres e as ironias da sociedade de uma forma leve e com tons de comicidade em seus livros, transformaram essa escritora em uma das mais conhecidas da sua época (embora enquanto viva, não fosse tão reconhecida assim).

Seus livros renderam diversos trabalhos para o cinema como Razão e Sensibilidade (1995); Emma (1996) e o mais que incansável Orgulho e Preconceito (este adaptado 3 vezes no formato de minissérie, 2 filmes para televisão e 4 filmes, dentre os quais a nova versão).

A história segue a jovem Elizabeth Bennet (Keira Knightley) e sua família: os pais e mais quatro irmãs. A matriarca da família deseja desesperadamente casar suas filhas com homens ricos, já que, por sua família não possuir dotes (dinheiro), correm o risco de, após a morte do patriarca, ficarem, como diriam, na rua da amargura. Logo, com a chegada de Mr Bingley, os esforços giram em torno de casarem a filha mais velha Jane Bennet. O que não esperavam é que Jane viria a se apaixonar por ele. Na mesma rapidez com que Elizabeth cria repulsa ao amigo de Mr. Bingley, Mr. Fitzwilliam Darcy. A partir daí é estabelecido o clichê do “casal que se odeia, mas que irão acabar juntos no final.”.

Porém em nenhum momento esse clichê se torna o elemento previsível ou simplesmente uma embromação durante o roteiro, com briguinhas falsas e sentimentos reais escondidos, já que realmente os dois se odeiam: ela o odeia por ele ser pretensioso, e ele, por ela não ser sofisticada e a falta de etiqueta de sua família (que muitas vezes são os momentos mais engraçados do filmes).

Ao contrário das comédias românticas ou mesmo dos romances que costumamos assistir, cheio de elementos melodramáticos, Keira Knightley e Matthew Macfadyen conseguem passar uma veracidade à Lizzy e Mr. Darcy que nos faz torcer pelos dois. Podemos ver através dos olhos e expressões corporais das duas personagens em diversos momentos do filme, a paixão que os consomem, mas ao mesmo tempo os seus sentimentos que dão nome ao filme (Orgulho e Precocentio), os impedem de seguir adiante. Mesmo com uma atuação acima da média desde a sua estréia nos cinemas, acredito que Keira não chegou ao nível de uma indicação ao Oscar.

Joe Wright que estréia como diretor de longa-metragens (antes diretor de séries aclamadas para a televisão britânica), consegue nos brindar com uma excelente direção, colocando os sentimentos presentes não só nas falas, como também nas expressões de cada personagem. Além de ousar com cenas de panos seqüência (cenas sem cortes), onde a câmera é capaz de viajar pelos cantos de uma casa, nos colocando a par de conversas paralelas, seqüências ousadas que já foram utilizadas, como no filme Olhos de Serpente (1998), onde os primeiros 28 minutos do filme são em uma única seqüência sem cortes. Esses são os verdadeiros méritos de Wright como diretor.

A trilha sonora de Dario Marianelli (responsável pela trilha de Os Irmãos Grimm e de V de Vingança) não se torna um elemento à parte, mas sim uma trilha necessária que muitas vezes passa a ser o elemento principal em diversas cenas, sem cair no comum das trilhas deste gênero. Não conseguimos imaginar determinadas cenas sem a trilha de fundo em diversos momentos do filme.

O roteiro adaptado pela 4ª vez para o cinema está muito bem amarrado e com falas concisas e realmente inteligentes, que ressaltam as personalidades das personagens da história. O roteiro contou com a ajuda de Emma Thompson, fã incondicional da literatura de Jane Austin, onde a ela foi confiada a revisão geral do roteiro antes das filmagens, para que a produtora tivesse a certeza de estar seguindo o espírito do livro, fato necessário depois do fiasco da adaptação de Emma (1996), ao qual Emma Thompson não fez parte.

Aos que adoram um bom romance, e àqueles que adoraram Razão e Sensibilidade, ou até mesmo aos fãs da literatura de Jane Austin, Orgulho e Preconceito é uma excelente atração, um bom divertimento e uma renovação nas crenças do amor.

Leonardo Heffer
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