Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 26 de março de 2006

Plano Perfeito, O

Um filme que pelo trailer, pelo nome e pelo elenco tinha tudo para ser excelente, mas infelizmente se torna mais um filme comum de assalto a banco, onde até mesmo as reviravoltas se perdem no decorrer do filme e não fazem o espectador vibrar (ou se impressionar) acabando por se alongando demais.

O Plano Perfeito tinha tudo para fazer jus ao adjetivo que carrega no nome: um elenco de deixar qualquer um impressionado (Denzel Washington, Jodie Foster, Christopher Plummer e Clive Owen), um diretor excelente (Spike Lee) e uma história que prometia (para quem assistiu ao trailer, o filme parecia ser mais um roteiro com elementos e reviravoltas de deixar o espectador sem ar). Mas o tiro saiu pela culatra.

A história retrata um bando de assaltantes (não revelarei a identidade como vi em certas críticas porque quer queira quer não isso não é necessário), que entram num banco para fazer um roubo perfeito. Então chega a polícia e um detetive tentando recuperar sua imagem. Nesse meio termo, um figurão tem um segredo que está em um dos cofres do banco e contrata uma especialista em “salvar peles” para que o segredo não espalhe. Ela então vai ao local e tenta negociar junto com os policiais, que também tentam negociar com os assaltantes. Um roteiro até simplório que parece ter sido visto milhares e milhares de vezes. Mesmo assim o filme se torna interessante (mas não chega a ser bom) sem cair nos personagens caricaturados (à despeito dessa breve sinopse acima).

Spike Lee, com filmes bem mais interessantes na sua carreira, entra pela primeira vez no mercado comercial do cinema americano. Tem uma maestria para a direção, mas não consegue criar nada mirabolante que fuja às regras dos filmes do gênero. Mas demonstra também agilidade para as cenas de ação (embora nada que diretores acostumados ao gênero não consigam fazer).

Infelizmente quanto à parte das atuações, também não há nenhum que mereça tanto destaque. Denzel Washington e Clive Owen estão dentro do esperado para nível de atuação deles, mas também não há nenhuma profundidade, inclusive o personagem de Denzel Washington parece ser idêntico a tanto outros que ele já fez (pra quem já assistiu Por um Triz, 2003, o personagem é bem similar) e Clive Owen consegue ser uma cópia de Nicolas Cage. Jodie Foster entra muda e sai calada no filme. Sua participação, apesar de nos alegrar (após seu sumiço, retornando recentemente no fraco Plano de Vôo) parece não saber exatamente o que está fazendo no filme, muito menos ter noção de quem realmente sua personagem é. Acredito que se o elenco do filme fosse Nicolas Cage substituindo Clive Owen, Samuel L. Jackson para Denzel Washington e Laura Linney no lugar de Jodie Foster, o filme não iria sofrer nenhum abalo sísmico. Mas não creio que o filme se baseie na regra “roteiro ruim, elenco excelente”, já que o roteiro não é ruim.

A trilha é uma peça à parte que fica entre o bom e o risível. Em alguns momentos o tom que Terence Blanchard aposta é o mais correto, como a música de abertura e crédito, mas em outros momentos a música se torna estranha, quase destoando na cena (prestem atenção na música da cena em que os assaltantes levam as pessoas para o local do cofre, logo depois de renderem todos).

Sobre o roteiro, não há exatamente um aprofundamento em nada. Claro que por se tratar de um tema batido, ele não perde tempo em cenas de planejamento do assalto ou coisa do estilo e em menos de 15 minutos o banco já está fechado e a polícia já tem chegado para começar a resolver a situação. Mas também ele não se aprofunda em nenhum personagem (e com isso perde pontos por tornar um filme raso, mas ao mesmo tempo ganha ao não criar personagens com histórias caricaturadas), e até esquece a frase que o personagem de Clive Owen diz: “eu criei um plano perfeito”. Ao final do filme, você vê o plano, mas se sente enganado por achar que o plano seria muito mais mirabolante.

Outro defeito do filme é se alongar demais. Nas suas quase 2 horas e dez minutos de filme, poucos são os que não comentam (e muitos comentários em voz alta durante a exibição) sobre quando o filme irá terminar. Por se tratar de um filme sobre assalto de banco e quase todo ele se passar durante o assalto, o desenrolar do filme após este acontecimento se torna maçante, mesmo que necessário para conseguirmos entender o tal “plano perfeito”, mas não há quem não se surpreenda pelo filme continuar, mesmo quando achou que a cena exibida seria a última (e isso ocorre várias vezes). Talvez se o filme tivesse cerca de 30 minutos a menos, seria muito mais interessante.

O filme no geral não é ruim, aliás, é interessante. Ele é bem feito, tem excelente atores (embora nenhuma performance excepcional), um roteiro que até agrada, mas ele não sai do lugar comum no gênero e também não avança em sua história. Não é um filme pra se ver no cinema. Acho que nas locadoras ele poderá agradar muito mais. Se você quer ver um filme que tenha reféns, é melhor passar na locadora e procurar “Um Ato de Coragem”, acho que vai ser muito mais barato e bem mais divertido. E ainda tem o Denzel Washington no elenco, caso você queira ir ver o filme por causa do elenco.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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