Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 28 de março de 2005

Sétima Vítima, A

Não liguem para as críticas negativas que andam rolando nos cadernos de cultura dos principais jornais e deixe-se perder no horror de "A SÉTIMA VÍTIMA". Assista sem medo e fique com medo.

Como é bom poder ver um filme de terror europeu no cinema. Antes só tinha visto "OS OUTROS" (2001), de Alejandro Amenábar, e "A ESPINHA DO DIABO" (2001), de Guillermo Del Toro – filme inglês não vale. "A SÉTIMA VÍTIMA" (2002), de Jaume Balagueró, pode não ser uma obra-prima e ter os seus problemas, mas tem uma carga perturbadora e assustadora poucas vezes vista nos filmes de terror americanos.

Ok, o filme é co-produzido pelos EUA, é falado em inglês e a protagonista (Anna Paquin) também é americana, mas sente-se no ar um clima diferente. O filme me lembrou em alguns momentos os trabalhos dos já citados Amenábar e Del Toro, como também dos italianos Dario Argento e Michele Soavi. Desse último, há algo parecido com "A CATEDRAL" (1989).

"A SÉTIMA VÍTIMA" conta a história de uma família que se muda para uma casa assombrada, na Espanha. Nessa casa, há quarenta anos, seis crianças foram assassinadas num ritual de magia negra. Os temas da casa mal-assombrada e do medo da escuridão já foram muito bem trabalhados em diversos filmes, incluindo o citado "OS OUTROS", mas enquanto o filme de Amenábar tinha um roteiro redondinho, o trabalho de Balagueró tem uma história deliciosamente confusa – mas sem nunca nos deixar perder o interesse pelo filme. Por isso o comparei com Dario Argento no parágrafo anterior: porque o filme tem um clima assustador e confuso (mas nem tanto) semelhante a "A MANSÃO DO INFERNO" (1980), obra-prima do maestro. E o fato de o filme ter terminado sem muitas explicações o torna ainda mais charmoso pra mim.

O grande barato desses filmes de horror confusos, mas que possuem cenas incrivelmente assustadoras, é a vontade que me dá de me perder naquele universo, ao mesmo tempo em que me sinto tranqüilo, pois sei que é só um filme. É uma sensação paradoxal de medo e segurança, típica de quem curte filme de terror, mas potencializada se o que está acontecendo na tela não é totalmente claro e o clima de mistério domina.

O elenco do filme é um caso à parte. Muito bom. Além da X-Men Anna Paquin, temos: Ian Glen como o chefe de família perturbado e que de vez em quando sente convulsões e demonstra personalidade tempestiva, lembrando o Jack Nicholson, de "O ILUMINADO"; Lena Olin, atriz que ainda tem como papel mais marcante o de Sabina em "A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER", é a misteriosa esposa de Glen, que parece estar encobrindo as coisas misteriosas que acontecem na casa; Fele Martinez, mais conhecido pelo papel de Enrique em "MÁ EDUCAÇÃO", de Pedro Almodóvar, é o namorado de Anna Paquin – os dois vão investigar o caso da morte das seis crianças e o mistério em torno da casa -; Giancarlo Giannini, visto recentemente em "CHAMAS DA VINGANÇA", é o avô de Anna que esconde um grande segredo.

Meu conselho, mesmo sabendo que opinião, cada um tem a sua, é: não liguem para as críticas negativas que andam rolando nos cadernos de cultura dos principais jornais e deixe-se perder no horror de "A SÉTIMA VÍTIMA". Outra razão pra não deixar passar o filme no cinema é que o filme está em scope e a distribuidora é a Europa, que tem o costume de lançar os DVDs em tela cheia, vide o crime que fizeram com "CIDADE DOS SONHOS", de David Lynch.

Também quero fazer outro serviço de utilidade pública e fazer um apelo aos fortalezenses. Bom, é que eu vi esse filme no Cine São Luiz e fiquei feliz em saber que a imagem e o som dessa sala estão ótimos. Ao mesmo tempo, fiquei triste ao ver um palácio daqueles, tão lindo e majestoso, estar sendo tão desprezado e mal-tratado. Eu mesmo me senti culpado, já que tenho dado preferência aos cinemas dos shoppings. Por isso, pretendo ir mais vezes a esse lugar que já me trouxe tantos momentos de alegria. Alguém precisa fazer uma campanha pra salvar o Cine São Luiz. Eu vou tentar fazer a minha parte.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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