Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 17 de maio de 2005

Star Wars: Episódio VI – O Retorno de Jedi (1983): final épico da trilogia

Depois de seis longos anos de trabalho, George Lucas finalmente concluíra sua trilogia. Mesmo que algumas coisas tenham deixado a desejar, o carisma dos personagens e a conclusão satisfatória da idéia fazem de Star Wars uma das melhores trilogias da história do Cinema. Há muito tempo, em uma galáxia muito, muito distante...

“Luke Skywalker voltou ao seu planeta natal, Tatooine, na tentativa de salvar seu amigo Han Solo das garras do desprezível bandido Jabba, o Hut. Luke ainda não sabe que o IMPÉRIO GALÁTICO iniciou secretamente a construção de uma nova estação espacial bélica, mais poderosa que a primeira e temida Estrela da Morte. Quando estiver pronta, esta arma definitiva certamente significará o fim do pequeno grupo de rebeldes que luta para devolver a liberdade à galáxia…”

Depois de longos anos de muito trabalho e sucesso, finalmente chegara a hora de Lucas concluir sua trilogia que tanto sonhara. Agora sua franquia já era famosa, retorno certo de qualquer investimento no filme. Bonecos eram vendidos como água no deserto, o rosto dos protagonistas figuravam entre latas de refrigerantes e camisetas, miniaturas das naves espaciais preenchiam as prateleiras das lojas de brinquedos. Uma infinidade de produtos foram criados para saciar a fome de milhares de fãs ao redor do mundo. Só que, para deixar essas pessoas felizes de verdade, faltava apenas uma coisa: o último capítulo da saga de Luke Skywalker contra o grande vilão Darth Vader. Assim como os dois primeiros filmes, no dia 25 de Maio de 1983 essa longa espera estava chegando ao fim.

Ao mesmo tempo que O Retorno de Jedi é o filme preferido de muitos da trilogia, me enquadro nos que o acharam o mais fraco. Arrisco-me em dizer que O Ataque dos Clones é ainda melhor que O Retorno do Jedi, uma vez que traz muito mais à história do que esta conclusão. Isso porque este ‘sexto’ episódio tem os seus erros muito mais gritantes do que as outras versões. É só parar para pensar que é possível inclusive listar tais erros, tarefa que nos dois primeiros longas da trilogia apresentava-se extremamente difícil.

O primeiro erro grave é que este filme apresenta-se repetitivo. Poxa, será que George Lucas não pensou em nada que pudesse trazer problemas aos nossos heróis que não fosse outra Estrela da Morte? Ainda há um agravante nesse já grave defeito: o ponto fraco desta nova Estrela da Morte, chamada de ‘definitiva’, apresenta-se ainda mais fácil de ser alcançado do que a de Uma Nova Esperança. Alguns podem alegar que “claro que este ponto fraco era mais fácil de ser alcançado, a arma ainda estava sendo construída, né?”, só que se formos prestar atenção por onde os Rebeldes entram nessa nova arma – pela parte construída, e não a em construção -, fica difícil não se questionar porque eles não fizeram isso em Uma Nova Esperança, ou então como o Império cometeria a burrice de construir uma segunda Estrela da Morte com um ponto fraco que não havia na primeira.

O segundo erro está justamente ligado ao primeiro. Se Lucas poderia ter aproveitado melhor o tempo de filme colocando um novo perigo para nossos heróis, poderia também ter trabalhado um pouco melhor a primeira metade do filme. Isso porque nada do que acontece ali faz a história andar, simplesmente temos cenas de ação (que funcionam, empolgam bastante) para resolver todos os problemas que o final de O Império Contra-Ataca tinha deixado em aberto, ao invés de utilizar a resolução desses problemas para levar a história à frente. Luke, por exemplo, salvou Han Solo de Jabba, mas em que isso adicionou na história? Em que isso alterou os personagens? Em que isso contribuiu para a Força de Luke? Em nada.

A primeira metade do filme nada mais é do que uma perda incrível de tempo (aproveito para chamar a atenção de que este é o maior filme da trilogia). A prova do que estou falando é que, se o compararmos a O Império Contra-Ataca, vemos que o segundo conseguiu expandir o mundo de Star Wars, apresentando diversos cenários novos, muitos monstros, mas sem perder o fio da meada. Por perder muito tempo solucionando os problemas anteriores, temos uma limitada expansão do cenário e do mundo, limitando-se a uma floresta tropical onde os Rebeldes devem desativar o escudo protetor da Estrela da Morte e o retorno ao deserto de Tatooine, onde Jabba esperava com Han Solo como prêmio em sua parede (por que Jabba falava inglês no Episódio 4 e precisa de um tradutor no Episódio 6? Isso é um erro devido às novas cenas, da versão lançada em 97).

Há ainda um terceiro erro considerável, que é o rosto de Darth Vader aparecer no filme, em uma tentativa desesperada de Lucas de humanizar o personagem e emocionar seu público. Se o interessante em Vader era justamente o conflito entre homem e máquina que havia em seu interior, aquela cena praticamente junta tudo e joga na lata de lixo. Não que isso tire todo o mérito do filme, mas simplesmente o deixou mais apelativo e, dependendo do modo de vista, bobo. O que nos leva ao quarto erro: tudo ficou mais infantil. Se nos outros filmes o bom humor era bem medido e de bom gosto, aqui ele extrapola para um lado que pesa na balança e desequilibra os outros aspectos do filme. Não que o bom humor seja necessariamente ruim, mas quando está empregado em excesso, acaba por tirar a atenção de outros pontos mais importantes.

Há ainda um pequeno defeito, dessa vez provindo das novas edições especiais em DVD. Isso porque, ao final do Episódio 6, George Lucas simplesmente resolveu tirar o velho espírito Anakin e substituí-lo por Hayden Christensen, quem interpreta Anakin Skywalker nos filmes mais recentes. Alguns aprovaram a mudança, defendendo o argumento de que Anakin não envelhecera, portando a imagem de Hayden era mais apropriada do que a do velho, enquanto os mais conservadores criticaram o fato de Lucas alterar o conteúdo da obra, e não somente aperfeiçoar os efeitos. Concordo com esse segundo ponto de vista. Se não faz sentido Anakin aparecer velho, porque Lucas o colocara no final do filme em suas primeiras versões? Que colocasse outro jovem então, para representar Anakin. A única razão que vejo para Hayden estar ali é ligar os filmes antigos com os novos. Se bem que, vendo os filmes na nova ordem, muita da graça da série antiga seria perdida, uma vez que surpresas não seriam mais surpresas e o retrocesso na tecnologia pode incomodar quem não está acostumado a ver filmes mais antigos.

Apesar de todos esses erros, Star Wars: Episódio 6 – O Retorno de Jedi tem os seus méritos. Muitos combates são mal aproveitados dentro da história e alguns soam até forçados, uma vez que haveriam soluções mais fáceis para certas situações, mas como entretenimento, eles funcionam muito bem. A luta em que Luke Skywalker enfrenta diversos capangas de Jabba, bem em cima do monstro da areia é simplesmente demais. Até mesmo o combate na Estrela da Morte, criticado por ser uma situação repetitiva, empolga e faz relembrar os melhores momentos de Uma Nova Esperança. Há ainda um outro excelente combate, em meio à Floresta, onde nossos heróis contam com a ajuda dos fofinhos Ewoks, mini-ursos “a là” Ursinhos Carinhosos descoloridos que usam armas brancas pré-históricas para combater a alta tecnologia dos lasers do Império.

O confronto mais esperado, mais uma vez, foi entre Luke Skywalker e Darth Vader, mas, desta vez, sobre a vistoria de ninguém menos que o próprio Imperador em pessoa. Ainda inferior em todos os aspectos ao primeiro combate, inclusive em sua conclusão – e a do Imperador –, pelo menos não decepciona. Há todo um trabalho psicológico preparatório antes da coisa engrossar, com o Imperador e Darth Vader mostrando para Luke seus amigos sendo estraçalhados em uma emboscada, com o sabre de luz de Luke bem ao seu alcance. Caso ele o pegue e mate os dois, sua raiva estará fora de controle, quebrando um código Jedi e dando um grande passo para o lado negro da força, mas se ele controlar sua ira, poderá continuar sua trilha que vinha traçando pelo bem de todos. Um interessante conflito que deve ser visto com um olhar um pouco mais atento por nossa parte.

Em termos de efeitos, tudo seria uma deliciosa mesmice, se não fosse pela incrível perseguição em alta velocidade em meio à densa floresta. Para produzir esta seqüência, o pessoal dos efeitos especiais colocou a câmera rodando a um quadro por segundo e trilhou a pé o caminho que os guardas do Império / Luke / Léia fariam durante a perseguição. Os especialistas andaram muito, para quando o filme fosse rodado aos normais 24 quadros por segundo, tudo parecesse voar. Com a edição, ficou fácil crer que os envolvidos estavam realmente a uma velocidade impressionante em suas moto espaciais.

Todas as figurinhas carimbadas estão de volta aos seus papéis de sucesso, incluindo o trio principal de protagonistas. Destes, o único que quase não participou desta continuação foi Harrison Ford, uma vez que ele agora era bastante famoso, protagonista de uma outra franquia própria de sucesso (Indiana Jones) e vinha colecionando papéis em filmes importantes como Blade Runner. A intenção de Lucas era realmente matar o personagem ao final de O Império Contra-Ataca, o que explica toda a volta que a história tem que dar ao início de O Retorno de Jedi antes da história voltar a evoluir. Além de Luke, Léia e Han Solo; Yoda, Obi-Wan, Darth Vader, o Imperador, Lando e todos os demais personagens importantes para a evolução da história em O Império Contra-Ataca estão de volta, porém, desta vez, em tom de conclusão em suas ações. Mesmo o filme sendo bastante focado no trio principal, cada personagem consegue ter sua importância e, mais que isso, atrair a atenção do público.

Há ainda um tom de fantasia neste último capítulo, ao contrário do que os fãs esperavam, depois de todo o lado sombrio que reinara em O Império Contra-Ataca. Porém, diferente do Episódio 3, que conclui a nova trilogia, não havia porque haver um final triste, sombrio, para a conclusão da trilogia. Lucas inclusive queria Steven Spielberg para dirigir este último Episódio, mas como ele (Lucas) estava com problemas com o Sindicato de Diretores, do qual Spielberg fazia parte, não pode contratar o diretor, tendo que optar por Richard Marquand, experiente, mas de pouca projeção no mercado. O subtítulo deste Episódio, até último instante, seria A Vingança do Jedi. Depois Lucas concluiu que um Jedi simplesmente não pode se vingar, devido aos códigos Jedis que ele próprio inventara, então alterou para o título antigo e atual, O Retorno de Jedi.

Depois de seis longos anos de trabalho, George Lucas finalmente concluíra sua trilogia. Mesmo que algumas coisas tenham deixado a desejar, o carisma dos personagens e a conclusão satisfatória da idéia fazem de Star Wars uma das melhores trilogias da história do Cinema. São horas e mais horas da melhor pipoca, da clássica aventura do herói contra o vilão que quer dominar o mundo (oops, o universo) e uma nova religião que perdura por anos e anos até os dias de hoje. Não foi a toa que Star Wars: Episódio I – A Ameaça Fantasma tornou-se um dos filmes mais esperados de todos os tempos…

Rodrigo Cunha
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