Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 21 de novembro de 2005

Dia Sem Mexicanos, Um

Uma comédia sobre o “american way of life”. Assim pode ser definido o filme, que mostra com muito bom-humor as diversas faces da relação norte-americana com os latinos.

Antes de fazer qualquer consideração sobre o filme, o espectador deve saber que “Um dia Sem Mexicanos” é uma grande piada. Não se deve levar em conta a coerência do roteiro com a realidade e muitos menos exigir mais explicações que as mostradas durante a projeção.

O cenário dessa mirabolante trama é a ensolarada Califórnia, um dos estados norte-americanos com maior população de imigrantes latinos, onde tudo parece correr normalmente. Certo dia as pessoas começam a sumir de repente e mais tarde descobre-se que os desaparecidos todos têm uma coisa em comum: a descendência latina. Para completar a situação no mínimo peculiar, o estado se vê incomunicável e envolto em uma misteriosa névoa que não permite que ninguém entre e ninguém saia.

O caos, então, se instala em questão de horas. Não pelo fato de que os “chicanos” sumiram misteriosamente, mas pelo efeito que o acontecido gera na sociedade. Como esses imigrantes exercem, em sua maioria, ocupações envolvendo prestação de serviços, seu repentino desaparecimento se torna uma pedra na engrenagem que move o cotidiano da sociedade americana. A partir daí, vemos uma sucessão de sátiras à dependência que os norte-americanos têm, ainda que não queiram assumir, em relação aos latinos que integram sua população.

O táxis param de repente no meio das ruas, por não ter mais seus condutores. As pilhas de louça suja se acumulam nos restaurantes por não ter quem as lave. Colheitas são arruinadas por causa do desaparecimento dos trabalhadores. Os guardas da fronteira dos EUA com o México não têm mais com o que se ocupar e até um comércio ilegal de legumes frescos se estabelece, pois há a previsão de que a mercadoria estará em falta em breve, devido ao sumisso dos seus respectivos comerciantes.

Exagero? Podemos até pensar que sim, mas se realmente acontecesse essa misteriosa “abdução” dos latinos residentes nos EUA, esse quadro poderia facilmente se tornar realidade.

Sobre esse plano de fundo, também se desenvolvem pequenas tramas paralelas como a da repórter Lila Rodriguez, que parece ser a única latina a não ter desaparecido e se torna, de repente, o centro das atenções. Um mistério envolvendo a origem da jornalista se revela a partir desse fato inusitado.

No geral, o filme nos brinda com muitas cenas engraçadas, como quando a televisão anuncia o desaparecimento de astros do cinema como Benicio Del Toro e Salma Hayek ou quando os guardas da fronteira EUA-México comemoram a tentativa de travessia de um imigrante ilegal.

No fim, a história é, como eu disse anteriormente, uma grande piada. Até o título faz referência ao fato de que os norte-americanos, em geral, pensam que todo latino é mexicano.

Não fica explícito o que realmente aconteceu quanto à origem dos desaparecimentos, mas isso se torna irrelevante para o filme. O que apreendemos através dessa brilhante sátira, afinal, é que existem várias faces na relação EUA-Latinos, e uma delas é a dependência mútua. A trama é, realmente, recheada da fantasia, mas no fim, acaba sendo um excelente e fiel retrato da realidade.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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