Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 20 de março de 2006

Um Lugar Para Recomeçar

Uma história bonita que talvez prove que ter Jennifer Lopez no elenco nem sempre é sinônimo de desastre.

Existem filmes que não têm o propósito de trazer nada de novo ou extraordinário nem deixar um marco significante na memória dos espectadores, mas que agradam em sua simplicidade. São esses filmes que vemos mais freqüentemente nas telonas e que movem a indústria cinematográfica propriamente dita. “Um Lugar Para Recomeçar” se enquadra nessa categoria e mesmo apresentando falhas, acaba cumprindo bem o papel a que se propõe.

A trama é realmente bem simples: Jean é uma mulher que, cansada da violência do namorado, decide fugir com a filha e procurar abrigo na fazenda do ex-sogro, Einar, com quem havia se desentendido há tempos e que a culpa pela morte de seu filho. Einar recebe, ainda que de leve má vontade, a ex-nora e a neta, cuja existência desconhecia até então e que acaba conquistando o seu afeto. Completando o núcleo está Mitch, um velho amigo e companheiro de trabalho de Einar, que tem sérias dificuldades de saúde causadas pelo ataque de um urso.

O conflito se dá justamente pelo atrito que existe entre Jean e Einar, que precisam, depois de muito tempo, tirar alguns aspectos do passado a limpo.

Logo nos primeiros momentos o espectador com o mínimo de experiência percebe o que está por vir. A trama é previsível e algumas cenas, inclusive, são reapresentações perfeitas de clichês relacionados ao gênero. O ritmo do filme, no entanto, se dá de uma maneira bastante agradável e a história não cai num andamento cansativo, o que poderia ser um fator negativo. Os fatos fluem bem e os acontecimentos nos são apresentados sem muitos rodeios. O diretor Lasse Hallström parece mostrar mais uma vez que possui o timing do drama, como já poderíamos perceber em alguns de seus filmes anteriores como “Chocolate”, “Regras da Vida” e “Chegadas e Partidas”.

Quem vai esperando algum tipo de emoção mais forte, entretanto, pode se decepcionar. A carga dramática do filme é um tanto raso e apenas o público extremamente sensível deverá derramar alguma lágrima.

A atuação De Jennifer Lopez como a protagonista Jean não chega a ser ótima, mas está bastante adequada ao que o personagem pede. A cantora/atriz/pop-star (sim, porque pop-star já virou uma função à parte) não dá um show de interpretação, mas também não chega a decepcionar nem comprometer o filme. Os veteranos Morgan Freeman e Robert Redford, no entanto, são quem seguram a história. A química existente quando os dois estão em cena funciona perfeitamente e, por várias ocasiões, duvidamos se Mitch é realmente coadjuvante.

A atriz-mirim que interpreta a filha de Jean também é competente. Em alguns momentos, seu personagem é de extrema relevância e suas cenas com Robert Redford também parecem fluir muito bem. Josh Lucas, que interpreta o xerife Crane, é aquele rosto que todo mundo sabe que já viu, mas não sabe exatamente onde. Desde sua primeira cena, fica claro que ele será o “mocinho” por quem Jean se apaixonará. Ele talvez seja o elo mais fraco entre o elenco, mas perto de J. Lo, não percebemos uma diferença gritante.

A fotografia é belíssima, mostrando tomadas de paisagens rurais do estado do Wyoming, onde a história acontece. Quanto à trilha sonora, é apenas normal, não se destacando, mas também não sendo algo negativo para o filme. Sem muitos atributos especiais, “Um Lugar Para Recomeçar” se sustenta basicamente na história propriamente dita e nas atuações.

Enfim, o filme não tem nada de inovador ou extraordinário. É apenas uma bonita história de perdão e de recomeço. Diante da nossa safra disponível no momento, entretanto, pode ser uma das boas pedidas.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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