Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 08 de janeiro de 2006

Valiant – Um Herói que Vale a Pena

“Valiant” não chega com muito alarde, mas como muitos filmes de animação, trás a expectativa de causar risadas e deixar alguns personagens na lembrança das pessoas. Para a infelicidade de quem esperava isso e comprou seu ingresso, ele não chegou a atingir muito bem.

Como essência de vida devemos ter uma coisa chamada determinação. A pessoa sem determinação não sonha, não idealiza um futuro e acaba levando a vida sem nexo, sem propósitos. Valiant – um pombo desajeitado e menor do que seus amigos – tinha um sonho. Na tentativa de realiza-lo não mediu esforços e saiu em busca da conquista do lugar que queria estar, mesmo sem ter dimensão exata do que estava por acontecer.

Como muitos filmes feitos para crianças, Valiant, se propõe a passar para esse público um bom assunto. Nada inovador, mas que acaba fazendo os jovenzinhos cultivarem algumas coisas importantes. Isso é sempre o bom dos filmes de animações bem infantis, como esse.

Entretanto, ultimamente, com o surgimento de ótimos filmes do gênero, os diretamente infantis ficaram meio chatos, pois outros já conseguiram agradar do mais novo expectador ao mais velho. Personagens ficaram marcados e lojas faturam a torto e à direita em cima da venda de produtos relacionados a esses filmes. Esse é o ponto fraco de “Valiant – Um Herói que Vale a Pena”. Ele vale a pena, mas para seu filho, sobrinho ou alguém do tipo.

Na animação, tudo se passa da perspectiva da vida (cotidiano) dos pombos, que eram doutrinados a terem uma vida normal ou seriam servidores da nação como pombos-correio. Muito bom o jeito como foi mostrado, por obséquio. Nessa perspectiva, com a guerra de pano de fundo, somos apresentados a Valiant, que como dito anteriormente tem um desejo, e a diversos outros personagens, mas que não acabam agradando muito. Inclusive tem um que chega a entediar pelas piadas bestas e nada inovadoras, no caso, o Bugsy. Ele não gosta de tomar banho, então todas as piadas com ele em destaque se voltam para arrotos, fedor, algumas mosquinhas e demais coisas nojentas, mas abordadas de forma altamente bobona. O que pode causar algum efeito engraçado é o riso forçado dos seus colegas de sala de projeção. Nada mais!

O filme não chega a empolgar em quase nada. Nem na hora que você tem de ir junto com o protagonista e vibrar com ele. Você acaba simplesmente assistindo aquilo tudo e não vendo a hora de a trama se resolver, mesmo já sabendo como vai acontecer, afinal, mais previsível do que o filme se mostrou não existe. A trilha sonora também é mal colocada. Bem trivial e isso nas animações acaba desagradando, pois há o costume de as trilhas sonoras se sobressaírem nesse gênero de filme.

Por falar na animação, ela até que está boa, mas quando sai do mundo dos pombos e passa para o das pessoas, ela se perde completamente. Algo muito rígido, sem mobilidade. Se foi de propósito, não consegui captar o porque. Até pelo fato de ter como produtor o mesmo que trabalhou nos dois Shreks, John H. Williams, esse tipo de erro não é aceitável. No filme do ogro que ganhou o carisma de muitos que assistiram ao filme, não vemos essa perspectiva desfocada. Pelo contrário, ela segue a risca do que é mostrado no mundo não-humano.

No elenco técnico ainda contamos com Phil Hay e Matt Manfredi na parte do roteiro. No caso, os maiores culpados pelo fracasso do filme, aparentemente. De fato, o roteiro é fraco e a criação dos personagens também. O único que transmite um carisma é o protagonista e, venhamos e convenhamos, é o mínimo que se pode apresentar. Vale a pena falar também que Phil e Matt roteirizaram o filme sufocado pela crítica Aeon Flux (adaptação do antigo desenho da MTV). Que, ao ler coisas ali e acolá, o roteiro também se mostra inconstante. O que dá mais margem de jogar um pouco a culpa desse defeito neles dois. Mas, como não estou aqui para achar culpados, é melhor deixar para lá e que eles se entendam com o público no próximo filme.

Com uma animação genuinamente infantil, Valiant irá com certeza agradar os mais baixinhos, mas quando esses crescerem e pegarem o filme, com certeza pensarão: “que besteira grande!” e sentirão vergonha de um dia terem rido do filme – ah sim, isso vão , diferentemente das últimas levas de filmes desse gênero, que divertem em alguns momentos até mais os adultos do que propriamente o público-alvo, os espectadores mirins.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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