Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 28 de março de 2005

Xuxa e o Tesouro da Cidade Perdida

O filme é ruim como a maioria dos que já estamos acostumados engolir da Xuxa no final do ano. Foi-se o tempo que o carisma da loira conseguia encobrir erros toscos de gravação e os enredos perebas de todos os seus filmes. Esse é mais um caça níquel nacional, assim como os do Didi.

É uma aventura assistir um filme da Xuxa. Não pelo sentido de ser emocionante ou algo do gênero, mas sim porque você já sabe que vai presenciar uma produção fraca com cara de super novelão global, e ainda terá que engolir a péssima atriz que é a Xuxa como protagonista (ela diz que não é atriz, pelo menos reconhece). “Xuxa e o Tesouro da Cidade Perdida” é um filme extremamente infantil, não consegue ser carismático para os adultos (não dá nem para engolir) e no final das contas, os mais velhos (é, de 13 anos pra cima), irão perceber que não passa de mais um caça níquel, assim como os filmes do ex-trapalhão Didi.

Bárbara (Xuxa) é uma bióloga tímida que mora em Beirada D´Oeste, cidade fictícia que beira a floresta Amazônica. Ela lidera uma turma de heróis que vai parar em Igdbrasil (na mitologia é a arvore da vida, protetora dos deuses e dos homens), uma cidade subterrânea lendária, povoada por descendentes de vikings que atravessaram o atlântico e se embrenharam rio Amazonas adentro. Bárbara enfrenta, ao lado dos pequenos Riacho (Peter Brandão) e Manhã (Bruna Marquezine), provas perigosas (ôh) para chegar a Igdrasil em tempo de salvar a vida de outra criança e descobrir quem é a reencarnação de Blomma, uma deusa viking, “padroeira” da cidade perdida.

Nesse meio-tempo, Bárbara ainda reencontra Igor (Marcos Pasquim), seu ex-marido, com quem reata o romance interrompido e lidera os heróis na captura do vilão, que roubou de Igdrasil o tesouro sagrado. Além deles, seguem para Igdrasil outros moradores de Beirada D’Oeste e os vilões da história: Dario, capanga do prefeito e os estrangeiros Dóris e Boris. A história é baseada livremente em “Sonho de Uma Noite de Verão”, de William Shakespeare (que deve estar querendo puxar a perna da Xuxa).

Êta enredo fraco! No papel parece bonitinho, mas na telona é horrível. É uma misturéba de histórias paralelas sem noção e no final das contas você não entende nada. O prefeito que tinha maior cara de vilão, abre espaço pro seu capanga que de vilão não tem nada. As atuações são de cuspir no cinema. Ver a talentosa Bruna Marquezine falando como adulto é lastimável. Estão tirando a infância da criança! Ela era tão meiga e passava uma sabedoria tão bem na novela e na participação que fez no Criança Esperança, mas nesse filme ela está mal aproveitada (como a maioria dos atores). Sergio Malheiros (que faz o garoto Thor) não compromete seu início de carreira e cumpre razoavelmente seu papel. Temos ainda a Milton Gonçalves e Zezé Motta que estão lá só pra dar um pouco de credibilidade a produção. Ainda têm os complementos Jéssica (Juliana Knust), Lisandro (Paulo Vilhena), Helena (Natália Lage) e Demétrio (Sergio Hondjakof). Esses últimos não contribuem em nada para o filme.

Uma coisa que alguns podem gostar, mas eu particularmente odiei, foi a caricatura de hippies que fizeram com Leandro Hassum e Márcia Cabrita. Onde que você já viu um ser humano abraçar uma árvore e dizer “eu te amo”? Poxa, até o engraçadinho Luiz Carlos Tourinho não conseguiu ficar legal no papel do Curupira (que mais parece o Hulk do sertão). E Marcos Pasquim? Gostei demais da sua atuação na novela Uga-Uga, mas neste filme ele só está lá para beijar a Xuxa. Somente! Vou ser sincero, só percebi que o filme tinha trilha sonora porque eu levantei do cinema depois que passaram os erros de gravação no final do filme. Pra variar tem a Xuxa cantando a música tema.

Se filmassem alguma coisa dessa no Beach Park (em Fortaleza) poderia sair um filme mais interessante que esse. Sei lá, fazer o filme “Xuxa em Busca de Conchas na Areia” poderia ser um tema bom. Poderíamos colocar como vilão uma barata d’água ou um baiacu. Se formos esperar pela criatividade do diretor Moacyr Góes e de Xuxa, esse pequeno resumo de enredo conseguiria ser bem melhor que todos os filmes juntos da “rainha” (em declínio, por sinal).

Espero 2 milhões de espectadores para esse filme, afinal, os pais estão cansados de cuidar dos filhos, época de Natal, época de comprar presentes. Para que algo “melhor” do que rebolar os moleques no cinema para assistir um filme da Xuxa? Assim, eles continuam contribuindo para que venham mais produções nacionais terríveis como essa e o Brasil não saia do buraco cinematográfico (falta de criatividade para os nossos cineastas nesse ano de 2004) que se encontra. Essa é a nova era do cinema nacional? Já passou, infelizmente, regredimos …

Jurandir Filho
@jurandirfilho

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