Cinema com Rapadura

Críticas   sexta-feira, 09 de fevereiro de 2018

O Que te Faz Mais Forte (2017): apenas mais um drama sem emoção

Um filme que se esforça para ser mais do mesmo e apega-se num drama fácil, desenvolvido com clichês. O resultado não é eficiente para emocionar, pois depende de um protagonista pouco interessante.

Hollywood sabe explorar muito bem tragédias e conflitos. Isso não significa, porém, que o resultado seja necessariamente positivo. Para cada “baseado numa história real”, é possível encontrar filmes bons e ruins. Afinal, não é a veracidade da trama que torna a obra melhor ou pior. Saber narrar os acontecimentos – o cinema não tem a obrigação de ser literal – e fazer o recorte adequado, são as características básicas pra um bom drama (real) de superação. Dito isto, é uma pena que “O Que te Faz Mais Forte” não execute com sucesso os dois preceitos. 

O longa conta a história de Jeff Bauman (Jake Gyllenhaal, de “Vida”), um sobrevivente do atentado na maratona de Boston em 2013, que por conta das explosões, perdeu as duas pernas do joelho para baixo. A partir da tragédia, Jeff precisa readequar a sua vida enquanto tenta manter o relacionamento com Erin Hurley (Tatiana Maslany, da série “Orphan Black”).

O diretor David Gordon Green (“Especialista em Crise”) é bem objetivo na direção. Não há uma margem para interpretações ou análises. Dessa forma, o destaque fica por conta das atuações, em especial de Maslany e Miranda Richardson (“Churchill”), responsável pelo papel da mãe de Jeff. No restante, o filme limita-se aos conceitos já usados à exaustão, do trauma que precisa ser superado, da vítima que cai em depressão após sofrer uma perda e do homem em busca de redenção. A falta de criatividade, seja na elaboração do roteiro, seja na forma como a história é contada, se perde na construção de um drama clichê, sem aproveitar o potencial da história. Soma-se a isso uma cena extremamente explicativa, que chega para dizer ao público que ainda não entendeu, como o filme deve ser interpretado.

Pior ainda é a forma como Erin é utilizada na trama. Restrita à função de muleta para Jeff (sim, há um duplo sentido nessa frase), ela tem a única função de motivar a personagem de Gyllenhaal, ajudando no desenvolvimento dele enquanto ela mesma é mal explorada, apesar de ser notável a existência de camadas escondidas pelo roteiro.

O uso bem utilizado de efeitos especiais para a remoção das pernas de Jake Gyllenhaal também colaboram para evitar o desastre total. Sua atuação ajuda na construção do drama, e até rende alguns poucos bons momentos. Uma cena em particular merece destaque nesse sentido, quando Green opta por colocar os rostos de Jeff e Erin em primeiro plano durante um procedimento médico, em que o efeito dramático acaba se destacando.

A tentativa de apelar para um drama óbvio, que apoia-se em um protagonista mau explorado, demonstram a falta de interesse de David Gordon Green em contar uma boa história. Existe até um bom contexto ali, porém tudo leva ao clichê. “O Que te Faz Mais Forte” é, essencialmente, uma nova versão de um drama esquecível, já filmado diversas vezes, em muitas delas de forma mais eficiente.

Robinson Samulak Alves
@rsamulakalves

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