Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 05 de janeiro de 2017

Moana – Um Mar de Aventuras (2016): uma princesa extraordinária em um filme comum

Dirigido e idealizado por dois dos cineastas mais importantes da história recente da Disney, "Moana - Um Mar de Aventuras" é uma aventura musical extremamente tradicional, que se destaca mais por conta da sua protagonista-título e das canções que embalam o longa do que por sua trama.

Os diretores John Musker e Ron Clements são verdadeiras lendas da segunda era de ouro da Disney, responsáveis por “Aladdin”, “A Pequena Sereia”, “Hércules”, “Planeta do Tesouro” e “A Princesa e o Sapo”. Sem lançar um filme há sete anos, desde que a última animação tradicional do estúdio foi lançada (justamente o já citado “A Princesa e o Sapo”, de 2009), a dupla estréia no mundo das animações em 3D com “Moana – Um Mar de Aventuras“.

A personagem-título é a primeira princesa Disney da região do Polinésia, com o longa refletindo o desejo dos diretores em explorar os mitos daquela área – algo feito de maneira deveras respeitosa, diga-se de passagem. Escrito por Jared Bush (“Zootopia”), o longa é uma aventura musical no melhor estilo dos cineastas e mostra a jornada da valente Moana pelo oceano para salvar sua ilha, vítima de uma maldição acidentalmente causada pelo vaidoso semideus Maui.

O formato mais tradicional da produção é seu maior charme e também seu grande problema. Com exceção da ausência de interesses amorosos para sua heroína, e o roteiro preferindo se centrar nas interações familiares de Moana, os realizadores preferiram não reinventar a roda ou subverter os chavões da Disney, revertendo uma tendência recorrente nas produções mais recentes do estúdio.

Assim, temos uma princesa que luta com seus pais pela sua independência (algo que pode se aplicar a Ariel de “A Pequena Sereia” ou Jasmine de “Aladdin”) e um parceiro místico divertido (não muito diferente do Gênio). Até mesmo o oceano e a tatuagem de Maui se comportam de forma parecida com o Tapete Mágico. Se por um lado é bom ver que Musker e Clements não abandonaram suas raízes nesta primeira empreitada 3D (inclusive contando com alguns trechos em animação tradicional), em alguns momentos a dupla parece estar reciclando partes de sua própria filmografia.

De todo modo, os personagens seguram o filme. A jornada de Moana para salvar sua ilha e conhecer os próprios limites mostra uma jovem encantadora. Sua valentia e sua força de vontade frente os desafios e impedimentos impostos pelo pai podem conquistar o público facilmente. Já Maui é tão carismático quanto Dwayne Johnson (de “Velozes e Furiosos 7“), que empresta sua voz e trejeitos para o amalucado semideus, incluindo seu característico movimento de sobrancelha.

Fazendo uma analogia para mitos mais próximos de nossa cultura, há algo de Prometeu em Maui na sua atrapalhada vontade de dar aos humanos a chave para seu destino, apesar de exigir reconhecimento pelo seu “feito”. O relacionamento tempestuoso entre ele e Moana serve para dar fôlego à produção, com os mascotes da princesa – um galo e um porco – atuando como alívios cômicos pontuais.

O roubo de Maui e o surgimento da impressionante criatura que serve de antagonista, são uma boa lição de moral e permitem que a equipe da Disney entregue visuais de cair o queixo, especialmente com relação ao comportamento e textura da água, um dos elementos mais complicados de se gerar no computador, mas que aqui atinge níveis de realismo incríveis. Até mesmo a decisão de se criar cenários que beiram o mundo real e inserir personagens mais caricatos se mostra acertada, criando um contraste visual que muito combina com os aspectos mágicos da trama.

Moana – Um Mar de Aventuras“, a despeito do esmero técnico e das contagiantes musicas de Lin-Manuel Miranda, não vai entrar no rol de aventuras clássicas da Disney, não sendo sequer um dos mais memoráveis trabalhos de seus diretores. No entanto, sua marcante heroína-título merece sim um lugar de destaque no panteão das grandes princesas do estúdio.

P.s.: É recomendável chegar cedo no cinema para conferir o belo, relevante e tocante curta “Trabalho Interno“, dirigido pelo brasileiro Leonardo Matsuda.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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