Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 22 de maio de 2016

A Vingança Está na Moda (2015): sobram ideias, mas falta acabamento

Ainda que tenha pontos interessantes e traga uma ótima performance de Kate Winslet, o filme não é tão bem construído e aposta numa história que, mesmo simples, quase se perde.

006313.jpg-r_1920_1080-f_jpg-q_x-xxyxxDesde que venceu o Oscar de Melhor Atriz por “O Leitor” (2008), a geralmente eficiente Kate Winslet tem atuado pouco em relação a outras épocas que fazia quase cinco filmes por ano. De lá pra cá trabalhou com bons cineastas, que vão de Roman Polanski e Steven Soderbergh a Jason Reitman e Danny Boyle – com este, aliás, fez seu último grande papel no interessante “Steve Jobs” (2015). Mas ainda que participe de enrascadas como “Para Maiores” (2013) e “Divergente” (2014), Winslet é uma atriz de carreira invejável, trazendo sempre uma carga de dignidade às figuras que interpreta.

Exatamente o que acontece neste “A Vingança Está na Moda”, um filme australiano que, depois de lançado, demorou quase dois anos para estrear no Brasil, e onde vemos Kate Winslet ser basicamente a alicerce da obra. A atriz leva a fita nas costas e não deixa a peteca cair.

Apesar de abordar um fato absolutamente inusitado, a trama é bem simples e mostra o retorno da costureira Myrtle Dunnage (Winslet) à sua pequena cidade natal, da qual foi expulsa ainda quando criança depois de ter sido acusada de assassinato. O trauma da garota foi tanto que com o tempo esqueceu-se do fato, então durante toda exibição vamos descobrindo aos poucos o que aconteceu e também acompanhando a sua vingança.

Ao ir morar na França, Myrtle conheceu várias damas da alta sociedade e tornou-se uma mulher elegante, além de aprender o oficio da alfaiataria. Ao chegar à cidadela é notável como se distancia dos demais moradores do local, e isso é bem retratado na cena do jogo de rugby, onde chama a atenção de todos e é até responsável pela derrota da equipe adversária. Logo, a ideia de diferencia-la é executada de forma eficiente. Bem como os enquadramentos que a cineasta Jocelyn Moorhouse utiliza são esteticamente elegantes e fazem uma boa alusão temática ao perfil da personagem.

No entanto o ponto mais interessante do longa é saber fazer uma crítica social ácida à uma comunidade conservadora, hipócrita e repleta de segredos tenebrosos. É notável que em muitos momentos a narrativa seja novelada ao extremo, ora pelas cenas dramáticas solos, ora por um romance pueril quase adolescente, com o típico galã vivido por Liam Hemsworth. Porém mesmo dentro desse formato o filme consegue expressar o desprezo da personagem sobre o perfil daquela gente. Como também desperta no público certo nojo não só pela linha de raciocínio fútil popular mas também no modo que delineiam há décadas aquele ambiente sórdido. Cada figura esconde consigo um fato repulsivo. Com exceção do oficial de Hugo Weaving que faz um de seus papéis mais engraçados.

Igualmente curioso é como Moorhouse empreende os vários gêneros da produção, a diretora constrói o primeiro ato em cima de um humor negro sisudo, o que indiretamente demonstra a personalidade da protagonista. Em sua metade a película descamba para o dramalhão e por fim temos o desfecho da tal vingança. E nesse aspecto o título poderia funcionar bem, o caso é que em alguns andamentos o texto parece confuso e sem foco, fazendo o público não entender qual é a real intenção de Myrtle.

Tendo assim várias etapas não tão atraentes para se explorar, “A Vingança Está na Moda” acaba sendo de certa maneira uma obra prolixa e mal resolvida. Então, por mais que o filme possua tópicos interessantes e consiga trafegar por estilos distintos, a construção num todo resulta em uma experiência não tão instigante. Contudo não é um trabalho a ser desprezado, vale conferir e medir se os pontos positivos se sobressaem em relação aos negativos.

Wilker Medeiros
@willtage

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