Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 20 de abril de 2016

O Escaravelho do Diabo (2016): filme (fraco) de serial killer para teens

O roteiro foi adaptado e a direção teve como norte agradar tanto o público adulto quanto o infanto-juvenil. A intenção, porém, fica apenas na teoria.

escaravelho-posterSegundo o próprio diretor, “O Escaravelho do Diabo” é um “filme de serial killer para teens”. A temática (assassino serial) é de adultos; o formato, voltado ao público (pré-)adolescente. Contudo, é possível que não agrade público algum.

O longa se passa na cidade de Vale das Flores, tendo como protagonista Alberto (Thiago Rosseti, ótimo), uma criança comum que decide investigar o homicídio do seu irmão Hugo (Cirillo Luna, também ótimo) e acaba descobrindo que este foi vítima de um serial killer cujas características marcantes são assassinar apenas pessoas ruivas e encaminhar às futuras vítimas um escaravelho (antes de matar). Alberto se une ao Delegado Pimentel (Marcos Caruso, péssimo) para investigar os crimes.

O filme é baseado no livro homônimo de uma série voltada ao público infanto-juvenil, e que já fez muito sucesso no pretérito. O livro de Lucia Machado de Almeida passou para a película com algumas adaptações – a principal é relacionada à idade do protagonista, colocando uma criança para facilitar a identificação cinematográfica secundária, pois talvez um adulto jovem não fosse tão atrativo para as crianças –, tendo como norte tornar a obra mais simpática e, em especial, atualizada.

Assim, o roteiro tem a mesma essência, não sem algumas falhas (como uma criança consegue conduzir tão bem uma moto na chuva?). Ele é também sutil como uma marreta para apresentar as personagens e seus problemas (a doença de uma delas, por exemplo). Porém, é linear nos seus três atos, sem deixar pontas soltas – ao revés, tudo que começa nebuloso acaba por receber uma explicação (inclusive, evidentemente, a motivação do vilão). A solução dada e o desfecho, que poderiam ser geniais, são pouco verossímeis. Formar algo mais complexo talvez não fosse aconselhável em razão do público-alvo, mas o que está lá é tão distante do crível que nem crianças comprarão a ideia.

Nesse sentido, seria normal esperar um plot bastante singelo e de temática única. O foco é o serial killer, no entanto, o início (talvez por não verticalizar, ainda, no suspense) investe no relacionamento entre Hugo e Alberto: aquele é o ídolo deste (usa seu perfume, sua jaqueta, quer sua moto, em síntese, é bastante clara a admiração que nutre pelo irmão), este é quase um filho para aquele (em mais uma sutileza carnavalesca, Hugo afirma que Alberto deveria assistir a uma programação adequada para a idade, e não “CSI”). A mãe tem destaque em uma única cena, aparecendo em alguns momentos quando é conveniente na narrativa, e inacreditavelmente desaparecendo em outros (ou seja, Hugo só tem mãe quando ela pode ser útil). O primeiro amor também está presente, na figura da pequena Raquel (Bruna Cavalieri, muito bem no papel), com todos os clichês possíveis (e a filmagem com vento em seus cabelos prova a falta de criatividade).

O inexperiente diretor Carlo Milani teve enorme preocupação com o perfil do espectador. É por isso que os corpos das vítimas são vistos fora de foco, mas existem cenas próximas ao gênero terror quando aparece o vilão (que demora bastante para mostrar o rosto). Até mesmo o prólogo tem seu quê de terror, com uma fotografia escura, ambientação macabra (cemitério à noite) e efeitos sonoros assustadores (destaque para o som dos passos). Milani se preocupou com tudo isso, o que não significa que executou bem. O suspense é, em geral, óbvio e mal feito – como na cena em que Hugo é assassinado, em que já sabemos a presença do antagonista (em razão da câmera subjetiva) e como ele executará seu intento. A solução final é abrupta por força da montagem com ritmo inadequado. O que Milani insere de mais requintado é ininteligível (narração voice over) ou inútil (sobre-enquadramentos).

“O Escaravelho do Diabo” tem um título impactante, um enredo com potencial e a preocupação de agradar um vasto público. O potencial se esvai e a preocupação fica apenas na teoria.

Diogo Rodrigues Manassés
@diogo_rm

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