Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 07 de abril de 2016

Casamento Grego 2 (2016): sessão “greco-nostálgica” apenas pontualmente divertida

Apostando na nostalgia como elemento maior, roteiro fraco e bagunçado diverte apenas pontualmente.

casamentogregoO que torna “Casamento Grego” (2002) um filme tão inocentemente agradável é sua genuína paixão pela divertida família que nos apresenta. O personagem principal, no caso, não é a Toula de Nia Vardalos, em que pese a sua centralidade para o desenvolvimento da trama, mas sim a família Portokalos como um todo; Mana-Yiayia (Bess Meisler), Gus (Michael Constantine), Voula (Andrea Martin), Maria (Lainie Kazan) e todos os outros. O que segura o longa em um bom nível, assim, é a parte do “grego”, não do “casamento”, que, por sinal, é desenvolvida de maneira bem mediana.

Neste sentido, o grande desafio para um segundo filme sobre aquele grupo de pessoas seria fazer com que sua reunião em tela tivesse alguma substância, fizesse algum sentido, uma vez que o fator “novidade” (apresentação dos personagens) já foi evidentemente perdido na primeira obra. Em resumo, para funcionar com eficiência, uma nova história precisava ser contada, e não apenas um repeteco da anterior. Embora recheado das melhores intenções, não é exatamente isso que ocorre neste “Casamento Grego 2”.

Escrito pela própria Nia Vardalos e dirigido por Kirk Jones, aqui, Toula e Ian (John Corbett) já estão com o casamento presenciado anteriormente consolidado, mas enfrentam uma pretensa “crise de meia-idade”, com a filha, Paris (Elena Kampouris), já crescida e prestes a ir para a faculdade, também perdida em seus conflitos adolescentes. Paralelamente, o patriarca da família, Gus, se depara com problemas conjugais ao descobrir que sua certidão de casamento com Maria jamais foi assinada, o que, de acordo com suas crenças e convenções “greco-sociais” pré estabelecidas, é algo absolutamente inaceitável. Dessa forma, o longa se desenvolve sob essas três perspectivas geracionais acerca de família, casamento, amor e cumplicidade. Uma proposta tão nobre, quanto ordinariamente realizada.

Com o claro intuito de estabelecer um paralelo entre pais/família e filhos do primeiro filme com o atual, a jovem Paris também se sente constrangida pelos modos de agir e se portar dos Portokalos, bem como por suas ações excessivamente protecionistas e fechadas neles mesmos. Isso é notado já na cena que abre a projeção, basicamente idêntica a que abre o primeiro filme: “You better get married soon. You’re starting to look old!”, só que agora a frase é dirigida justamente para a filha de Ian e Toula, não para esta (embora ela também esteja presente no carro), o que naturalmente gera uma surpresa divertida.

O que realmente sabota o longa é o fato dele não saber lidar com as linhas narrativas que propõe. Conflitos são colocados pelo roteiro já no terço final e resolvidos logo em seguida, personagens entram e saem de tela sem um preparo maior, e mesmo as relações entre os personagens que já conhecemos são construídas de maneira um tanto quanto rasa. O relacionamento supostamente frio e desgastado entre Toula e Ian, por exemplo, em nenhum momento é apurado do modo correto, o que empalidece a carga dramática do filme como um todo. Em se tratando de cinema, não basta “dizer” determinada coisa, é preciso mostrá-la, regra básica que o fraco roteiro de Vardalos parece não se interessar em seguir.

Um resultado ainda pior só é evitado porque as algumas tiradas espirituosas se sustentam por si, e continuam a provocar boas risadas. O Gus de Michael Constantine, e suas reações com os fatos que ocorrem à sua volta, mantém-se como a principal âncora cômica do longa. Ele aprendendo a usar o computador para provar que seu ancestral é Alexandre, o Grande, em especial, é nada menos do que hilário. A sua presença em cena é basicamente garantia de boa diversão.

Momentos pontuais de divertimento, no entanto, não são o suficientes para segurar a obra de forma geral. O que temos é um grande remendo de referências ao filme anterior, além de um roteiro extremamente problemático, que jamais consegue se impor com uma história nova e que consiga ganhar vida própria. Uma ensossa sessão de nostalgia com risadas pontuais e não muito mais do que isso.

Arthur Grieser
@arthurgrieserl

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