Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 07 de dezembro de 2015

American Ultra – Armados e Alucinados (2015): mais do que explosões e cenas de ação

Filme conta história original com cara de adaptação de quadrinhos.

american-ultra-posterAlguns filmes baseados em quadrinhos tem tudo que o grande público gosta: grandes cenas de ação exageradas, explosões, efeitos visuais e sonoros grandiosos, artes marciais e, vez ou outra, boas atuações. Junte tudo isso e retire a adaptação de quadrinhos da equação e você terá esse surpreendente “American Ultra: Armados e Alucinados” (pra que esse subtítulo?!), dirigido por Nima Nourizadeh, em sua segunda incursão em longas metragens, com roteiro de Max Landis.

O filme gira em torno de Mike Howell (Jesse Eisenberg), um jovem comum, que trabalha em uma loja de conveniência e usa grande parte de seu tempo livre para escrever histórias em quadrinhos e consumir vários tipos de psicotrópicos com Phoebe (Kristen Stewart), sua namorada, uma forma de lidar com seus constantes ataques de pânico e outros distúrbios psicológicos que vez ou outra o acometem. O que Mike não imagina é que na verdade ele era parte do programa militar secreto Ultra, que utilizava jovens infratores como voluntários, que fora desativado cinco anos antes.

Quando o chefe da CIA Adrian Yates (Topher Grace) resolve eliminar os integrantes finais do programa, a antiga superiora de Mike, Victoria Lasseter (Connie Britton) encontra uma forma de avisar a seu pupilo, com o intuito de salvá-lo.

O roteiro entrega, além daquilo que foi citado no início do texto, tudo aquilo que uma produção dessa natureza necessita: personagens unidimensionais descartáveis, caricatos e um vilão canastrão. Mesmo assim, ainda que soe repetitivo, as soluções (que lembram o filme “Procurado”) são bastante criativas para que o longa não se torne enfadonho.

Essa criatividade se deve em grande parte ao trabalho de Nourizadeh, que transforma um tiroteio dentro de casa ou dentro de um supermercado (com um plano sequência que lembra a já clássica cena do corredor da série “Demolidor”) em uma sinfonia de tiros, cortes frenéticos, fraturas expostas e vários outros absurdos sem fim. Outro grande acerto do diretor é a escolha e condução do casal de protagonistas. O ar de estranheza e certa inexpressividade dos atores casa perfeitamente com aquilo que seus personagens precisam para serem críveis e convincentes. E até mesmo as drogas que eles usam colaboram com essa construção.

No entanto, Jesse Eisenberg e Kristen Stewart fazem mais que emprestarem suas personas. É interessante ver Eisenberg, que sempre interpreta tipos tímidos e retraídos em um papel extremamente físico, agressivo e violento. Já Stewart mostra mais (não muito, porem, mais) que a irritante Bella Swan da saga-que-não-deve-ser-nomeada, especialmente no terceiro ato de projeção.

Topher Grace parece se divertir intensamente com seu vilão, que sorri com seus capangas realizando maldades, quando na verdade é um grande covarde, que se esconde atrás de seu cargo e brutamontes que o cercam. Connie Britton confere ternura à trama, assumindo a postura de figura materna do protagonista. Walton Goggins é outro que está inteiramente à vontade, como o “capanga principal”, que tem seu codinome destruído na primeira cena. Para completar os absurdos, John Leguizamo tem uma participação divertidíssima como Rose, o traficante e amigo de Mike.

Além das cenas de ação e boa condução do elenco, Nourizadeh também cria planos interessantes, como a sequência que se passa no interior da casa de Rose, com desenhos psicodélicos regados à luz negra.

“American Ultra: Armados e Alucinados”, ainda que não prime por um roteiro acima da média ou uma história revolucionária é uma experiência prazerosa que nos faz querer voltar àquele universo absurdo, mesmo que seja para descobrir que novas formas de se machucar uma pessoa os realizadores conseguem inventar.

David Arrais
@davidarrais

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