Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 17 de novembro de 2015

Amizade Desfeita (2014): sustos na tela de um computador

Suspense criativo usa redes sociais e aplicativos para contar história interessante

É impossível imaginar o mundo de hoje sem a internet, e, consequentemente, sem as redes sociais. Em qualquer lugar que se ande, é difícil não ver alguém de cabeça baixa, com um olhar ávido voltado para um smartphone ou tablet, com fones de ouvido conversando com alguém ou apenas consumindo material online. E com a mesma proporção, surgem notícias de pessoas mal intencionadas que se valem dessa larga oferta e vulnerabilidade para se aproveitar de outros inocentes. No entanto, o diretor Levon Gabriadze, com roteiro de Nelson Greaves, faz uso do excesso de aplicativos e meios de comunicação virtuais para contar uma história de terror deveras interessante.

O filme conta a história de um grupo de amigos, formado por Blaire (Shelley Hennig), Val (Courtney Halverson), Mitch (Moses Storm), Adam (Will Peltz), Jess (Renee Olstead) e Ken (Jacob Wysocki) que se reúnem uma noite para jogar conversa fora via Skype. Coincidentemente, a noite marca o primeiro ano do suicídio de uma colega em comum, Laura (Heather Sossaman). Tudo corre bem na conversa até que um elemento estranho entra na conversa, enquanto ocorrem fatos estranhos nos computadores dos membros daquele bate-papo. A partir daí o longa ganha contornos sobrenaturais ao passo que vai mostrando a verdade sobre aqueles jovens e suas relações.

“Amizade Desfeita” é um filme original em vários aspectos. O primeiro aspecto, que é o que chama mais atenção e define toda o cenário da história, é o fato de tudo ocorrer na tela do computador de Blaire, como um único grande plano sequência, com tudo ocorrendo em tempo real. Outra coisa que corrobora com o realismo e, consequentemente, a identificação do espectador com o que está acontecendo, é a escolha de um elenco sem rostos conhecidos.

Além disso, a obra desperta questões sobre a nossa relação com as ferramentas tecnológicas, o papel que elas ocupam em nossas vidas, e, de maneira mais eficiente, como os jovens fazem uso de tantos aplicativos, programas e redes sociais de naturezas diversas, para o bem ou para o mal. Tal tema se mostra bastante relevante em tempos de pornô de vingança, cyberbullying ou blogueiras com dicas irresponsáveis para adolescentes.

Os atores e atrizes tem um desempenho bastante eficiente, com a carga dramática que se acentua gradativamente, enquanto os eventos bizarros se sucedem. Boa parte desse sucesso se deve à excelente condução realizada por Gabriadze. O filme jamais perde o ritmo, seja enquanto vemos dezenas de janelas se sobrepondo, seja quando vemos os nervos aflorarem com tantos segredos tão íntimos sendo expostos num macabro jogo da verdade.

Infelizmente, o diretor parece não levar muita fé no material que tem nas mãos, se rendendo a artifícios banais e clichês, como o gore exagerado em algumas cenas, ou os batidos sustos com efeitos sonoros e gritos estridentes. Mesmo assim, a obra apresenta um resultado final interessante, que pode se revelar pioneiro em vários níveis. Um deles é se tratar de uma experiência cinematográfica que provavelmente terá um resultado melhor para o espectador se for consumido em um computador doméstico, em vez de uma gigantesca tela de cinema.

David Arrais
@davidarrais

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