Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Aliança do Crime (2015): Johnny Depp brilha em filme de máfia irregular

A tentativa de emular grandes cenas do gênero transforma obra com potencial em apenas mais um

alianca-do-crime-posterFilmes sobre máfia estão presentes em Hollywood desde os tempos áureos, como o infame “Scarface – A Vergonha de Uma Nação” (1932), de Howard Hawks, produzido pelo excêntrico Howard Hughes. De lá pra cá muita coisa mudou, com novas obras sobre o tema tornando-se clássicos inesquecíveis, como “O Poderoso Chefão” e “Os Bons Companheiros”. Em 2015, o diretor Scott Cooper colocar seu nome nesse panteão em “Aliança do Crime”, ao contar a história do mafioso de origem irlandesa James “Whitey” Bulger.

Jimmy (Johnny Depp) foi um violento chefe da máfia irlandesa que aterrorizou a região sul de Boston entre décadas de setenta e noventa do século passado. Apesar de ser irmão de um dos mais influentes políticos do estado de Massachusetts, o senador Billy Bulger (Benedict Cumberbatch), o que facilitava as suas operações era a sua atuação como informante para o FBI, colaborando com seu amigo de longa data John Connolly (Joel Edgerton). O trato era simples: Billy entregava os mafiosos italianos que atuavam na cidade para John, que, ao crescer na carreira por conta das prisões, fechava os olhos para as atrocidades (que não eram poucas) cometidas por Jimmy.

No entanto, tudo começa a complicar para os dois quando os superiores de John, entre eles o exigente Charles McGuire (Kevin Bacon) e o duro Fred Wyshak (Corey Stall), começam a questionar seus métodos, seus resultados e a negligência com que os atos perpetrados por Bulger são tratados.

Apesar de se tratar de uma história real, é curioso como o roteiro (escrito por Mark Mallouk e Jez Butterworth) faz questão de retratar alguns com referências a clássicos do gênero, como aquela em que Jimmy soa ameaçador, apenas para em seguida mostrar que estava “brincando”, como na clássica sequência “funny how?” de “Os Bons Companheiros” (é curioso como até o desenrolar do destino do personagem que é “vítima” daquela piada é semelhante ao do personagem de Ray Liotta naquele filme), ou numa cena em que vários inimigos do protagonista surgem na tela, numa sequência entrecortada por passagens dele numa igreja (referência óbvia a “O Poderoso Chefão”). Tal característica deixa uma sensação de déjà vu no espectador, como se aqueles eventos fossem familiares de alguma forma.

Se o roteiro não permitirá que “Aliança do Crime” atinja o patamar de clássico, o mesmo não se pode dizer da atuação de Johnny Depp. Mesmo sob uma maquiagem que o deixa quase irreconhecível, o ator consegue transmitir toda a selvageria da personalidade de Bulger. A entonação quase sempre em baixo volume, como alguém que controla todas as suas ações, somada a um olhar assassino o transformam em uma figura realmente assustadora. Além disso, o ator é hábil em retratar toda a desconstrução emocional a que é submetido, com todas as perdas que o acometem durante a vida. Já Joel Edgerton tem uma atuação marcante, exatamente por ir num caminho oposto a de seu parceiro de cena: John é um covarde que se esconde sob seu cargo e sua amizade, mas que não sabe como agir ao ser encurralado, especialmente pro seus superiores.

Com tudo isso, a sensação que fica ao final de “Aliança do Crime” é a de que deve ser um ótimo filme de máfia, para quem nunca assistiu a algo semelhante. Para quem conhece pelo menos os clássicos, é apenas mais um na prateleira.

David Arrais
@davidarrais

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