Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Maze Runner – Prova de Fogo (2015): mais correria, agora sem labirinto

Com um orçamento mais modesto que os de outras produções distópicos baseadas em livros voltados para o nicho de jovens adultos, a série "Maze Runner" chega a seu segundo longa em ritmo de correria desenfreada, com um efetivo capítulo do meio que mantém o bom nível do filme original.

Após o bom desempenho de “Maze Runner – Correr ou Morrer” em 2014, não demorou para a 20th Century Fox dar sinal verde para a adaptação do segundo livro da trilogia criada por James Dasher. Assim que saíram da premiere, toda a equipe daquela fita já começou a trabalhar neste “Maze Runner – Prova de Fogo”, em uma correria que não afetou o resultado final da produção.

Novamente sob a batuta do diretor Wes Ball e do roteirista T.S. Nowlin, o longa começa exatamente do ponto onde seu antecessor parou, não havendo uma introdução para os novatos na franquia – ou seja, é necessário assistir “Correr ou Morrer” antes de se aventurar aqui. Após escaparem do labirinto, Thomas (Dylan O’Brien) e os demais gladers são resgatados por um grupo de militares liderados pelo escorregadio Janson (Aiden Gillen).

Ao descobrir que seus “salvadores” trabalham para a organização CRUEL e que seriam utilizado em um experimento científico, os garotos fogem do local onde foram colocados, descobrindo que o mundo lá fora se transformou em um local inóspito, onde o clima e as pessoas afetadas por um vírus que os transforma em zumbis tornam a sobrevivência do grupo duvidosa, no mínimo.

Em busca de contatar um grupo de resistência à CRUEL, Thomas e seus amigos encontram a jovem Brenda (Rosa Salazar) e seu tutor Jorge (Giancarlo Esposito), sobreviventes no meio desse cenário pós-apocaliptico que servem quase como guias para eles neste nada admirável novo cenário.

Apesar da correria marcar o tom da narrativa, existe sim uma trama interessante por trás dessa perseguição desenfreada. Enquanto a primeira parte da trilogia apostava em alegorias como a do mito da caverna e em temas tirados de “O Senhor das Moscas”, aqui o plot central é baseado em uma inversão da ordem natural, com os mais velhos buscando matar (ou “colher”) os mais jovens para tentar sobreviver e recuperar a antiga ordem social. As crianças têm seus papéis demarcados desde cedo pelos adultos e um papel a seguir, não sendo lhes dado o direito de escolher o seu próprio destino, senão através da luta e da rebeldia.

Ao abrir o filme com um prólogo que mostra como Thomas foi parar nas mãos da CRUEL e ao desenvolver mais o interior da organização chefiada pela pragmática Ava Paige (Patricia Clarkson), o roteiro acrescenta profundidade ao conflito entre os gladers e seus perseguidores, algo que faz com que o arco dramático de Teresa (Kaya Scodelario) se torne bem mais intrigante e até trágico, tornando esse plot o melhor do filme, principalmente por conta de trabalho de composição da jovem Scodelario, efetiva toda vez que acionada – e é uma pena que ela não tenha mais tempo de tela.

Isso porque os dilemas de Thomas certamente são o ponto fraco do filme. O personagem de Dylan O’Brien, a despeito de sua curiosidade natural, não é exatamente a mais carismática das figuras, com seus diálogos e discursos sempre caindo no lugar comum. Basta ver que, em seus diálogos, as falas mais interessantes sempre ficam com aqueles com quem ele contracena, seja com a forte Brenda (defendida com vigor por Rosa Salazar) ou pelo valente Newt (Thomas Brodie-Sangster).

Já nos adultos, o destaque é Giancarlo Esposito, que encarna um sobrevivente com uma fagulha de humanidade dentro de si, representada pelo amor que tem para com Brenda. Já Aiden Gillen mantém o tipo sinistro e sedutor que apresenta na série “Game of Thrones”. Patricia Clarkson desta vez tem tempo de desenvolver melhor sua Ava Paige, o sempre expansivo Alan Tudyk faz basicamente uma caricatura de um traficante de drogas, enquanto Barry Pepper e Lili Taylor basicamente fazem uma ponte estendida como os líderes da resistência.

Enquanto no primeiro filme, o design de produção e as cenas de ação mereceram elogios por sua originalidade, aqui Wes Ball resolve apelar para algo mais batido. A despeito do acerto no desenho da instalação da CRUEL, o mundo pós-apocaliptico de “Maze Runner” não é lá muito diferente daquele visto na franquia “Mad Max”, por exemplo.

Mesmo os zumbis e as próprias setpieces envolvendo as criaturas parecem arrancadas do game “The Last of Us”, com o cineasta mostrando uma preocupante falta de originalidade já no seu segundo longa. No entanto, deve-se elogiar a batalha que marca o terceiro ato da produção, muito bem conduzida. Mesmo com várias cenas em planos abertos, o 3D é inútil e só serve para certificar a artificialidade de alguns cenários digitais da produção.

Mesmo com esses problemas, “Maze Runner – Prova de Fogo” mantém o bom nível de seu predecessor e deixa um gancho irresistível para a conclusão da trilogia, que deve chegar aos cinemas já em 2017.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

Compartilhe