Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 22 de setembro de 2015

Carga Explosiva – O Legado (2015): sem Statham, sem carisma e sem sentido

O final (?) constrangedor de uma franquia que já respirava por aparelhos logo desde a sua primeira continuação.

cargaexplosiva_290x435A franquia “Carga Explosiva” jamais, nem mesmo no seu auge, rendeu filmes espetaculares. O primeiro, ainda muito apoiado no fator “novidade”, é o mais bem resolvido deles, resgatando o “cinema brucutu” na figura de Jason Statham, certamente o sustentáculo da trilogia inicial, e resultando em momentos divertidos. Nada muito além disso e estava de bom tamanho. Aliás, qual seria o intuito de dar continuidade à história de Frank Martin se ele não tiver vida através do carisma de Statham? Os realizadores, encabeçados por Luc Besson, resolveram se fazer este mesmo questionamento e agora entregam este “Carga Explosiva – O Legado”, o pior e mais sem sentido filme dentre todos os quatro.

Aqui, acompanhamos o início da trajetória de Frank (Ed Skrein) como transportador de mercadorias desconhecidas, bem como seu relacionamento com o pai (Ray Stevenson) e o que isso representa para ele. Nada que acrescente muito ao enredo, uma vez que a trama segue basicamente o modelo “fórmula de bolo” dos longas anteriores; uma missão aparentemente simples, mas que desencadeia uma série de eventos que colocam o agente independente no olho de um furacão que não lhe pertence, fazendo com que ele tenha que lidar com dezenas de pessoas querendo matá-lo enquanto ele desenvolve um mini affair com uma espécie de “bond girl” da franquia.

Dentre tantos, talvez o problema que mais incomode neste quarto filme seja o fato de que o protagonista… deixa de ser protagonista. A sensação que passa é que em nenhum momento Frank Martin é realmente necessário para o desenrolar da trama ou para o desfecho desta. Ao contrário de seus predecessores, aqui a história gira muito mais em torno da “carga explosiva” do que de quem a transporta, fazendo até com que Frank Sir seja mais interessante e importante do que seu filho, ainda que isso não signifique nada de especial do ponto de vista de desenvolvimento de personagens.

Se nunca isso foi levado a sério na franquia, o fato é que também nunca fez muita falta. A diversão era mesmo focada no carisma de Statham dando porrada em quem (e quantos) aparecesse(m) na sua frente, e o resto ficava completamente em segundo plano. E isso não era ruim. A questão é que agora não temos mais Statham fazendo isso, e sim um ator com zero carisma e zero talento para ação brucutu. Para completar, a sua tentativa de imitar o astro antecessor que deu vida ao seu personagem é absolutamente constrangedora, rendendo um timbre de voz que seria trágico se não fosse (quase) cômico.

Justiça seja feita, o fardo deste fracasso não pode ser depositado cem por cento (nem perto disso) nas costas de Ed Skrein. A diretora Camille Delamarre, depois do horrendo “13° Distrito“, se mostra mais uma vez pouco hábil ao conduzir as cenas de ação, de modo que carros fazendo acrobacias absurdas e um homem enfrentando um exército – muitas vezes quase literalmente – não soam mais como set pieces tão (nem tanto) divertidos como já o foram.

“Carga Explosiva – O Legado” é a pá de cal que enterra de vez uma franquia que já respirava por aparelhos desde que foi lançada, em 2002, com o único filme verdadeiramente divertido dentre todos até agora. Os dois seguintes nada mais são do que repetições mal feitas do que deu razoavelmente certo no início. Este quarto, todavia, nem sequer tenta repetir o que deu certo nos anteriores, muito menos acrescenta algo de novo ou interessante. Baixou o nível.

Arthur Grieser
@arthurgrieserl

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