Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 15 de setembro de 2015

Ted 2 (2015): a segunda vez não foi tão boa assim…

Apesar de alguma boas sacadas, essa continuação se perde em um mar de subtramas e referências inúteis à cultura pop, se segurando graças ao carisma de seu protagonista-título e à boa química entre Seth MacFarlane e Mark Wahlberg.

imageDiretor e co-roteirista deste “Ted 2”, Seth MacFarlane deve ser um dos caras mais legais de Hollywood, tendo conseguido facilmente que várias celebridades – e uma grande empresa de brinquedos – aparecessem na fita apenas para serem zoadas sem dó ou piedade. Também é um cineasta com um conhecimento enciclopédico da cultura pop, aproveitando suas produções para TV e cinema para brincar com suas obras favoritas, sem jamais ter medo de cruzar a linha do politicamente correto.

Infelizmente isso não foi o bastante para que esta nova aventura do urso Ted tivesse o mesmo sucesso do longa original, seja como filme ou como produto. Não contando mais com o fator surpresa de seu antecessor, que pegou todo mundo no contrapé com as loucuras do desbocado urso-título e de seu amigo igualmente chapado John (Mark Wahlberg), esta continuação se apoia em gags aleatórias para tentar sustentar um roteiro enfraquecido pelo excesso de subtramas desnecessárias e vazias.

Algum tempo após os eventos da primeira fita, o urso de pelúcia Ted (voz do próprio MacFarlane) está prestes a se casar com sua namorada, Tami-Lynn (Jessica Barth), enquanto John sofre uma fossa pela perda de sua ex (Mila Kunis, ausente do elenco por motivos de gravidez). Passados alguns meses, quando o casamento de Ted e Tami-Lynn entra em crise, os dois resolvem adotar um filho para reviver o amor.

Quando o governo decide que o ursinho não é legalmente uma pessoa, ele e John contratam a jovem advogada Sam Jackson (Amanda Seyfried) para garantir os direitos civis de Ted. O problema é que o arquirrival da dupla, o insano Donny (Giovanni Ribisi) retorna querendo se vingar deles, contando agora com a ajuda de um executivo da Hasbro (John Carroll Lynch), que quer replicar o fenômeno que deu vida a Ted e criar uma nova linha de brinquedos.

Como vocês podem ver pela sinopse, é muita história para ser colocada dentro de um filme de 90 minutos. Somem isso com as várias piadas non-sense que MacFarlane insiste em inserir mesmo que elas não tenham nada a ver com a trama e temos um filme que certamente sofre de Transtorno de Déficit de Atenção, completamente incapaz de se concentrar na sua plot principal sem ser distraído por uma participação especial ou um flashback. Até mesmo a relevante mensagem sobre direitos civis – um clara alegoria aos direitos dos casais homossexuais – foi soterrada em meio ao excesso de pontas engraçadinhas.

Essa montagem anárquica pode até funcionar em um episódio curto de “Uma Família da Pesada”, mas em um longa-metragem fica a sensação de que o cineasta está inseguro dos rumos da produção, um pecado mortal para qualquer diretor. A situação piora quando o longa se transforma em um road movie por um trecho considerável da projeção no qual a única coisa que se salva é uma referencia ao primeiro “Jurassic Park”. Ao final, temos um desperdiçado Morgan Freeman e uma looooooooooonga e inútil estada na Comic-Con de Nova York – embora ver Patrick Warburton como The Tick novamente tenha feito este fanboy sorrir.

MacFarlane é um profissional competente, sabe tirar o melhor de seus atores – a química entre ele, Wahlberg e Seyfried salva várias cenas – conhece da linguagem cinematográfica e tem ótimas sacadas visuais (usar uma câmera de mão no melhor estilo “Preciosa” na briga entre Ted e Tami-Lynn foi genial). Mas se “Ted 2” comprova alguma coisa é que ele precisa parar de usar a cultura pop como muleta.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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