Cinema com Rapadura

Críticas   segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Magic Mike XXL (2015): menos drama, mais dança

Channing Tatum e sua trupe estão de volta para (mais um) último número nesta sequência, que se mostra uma produção bem mais leve que o longa original.

magicmikexxl_4Há algo contraditório em “Magic Mike XXL”. Trata-se de uma versão mais escrachada de seu predecessor, sem os insights que aquele filme tinha sobre a vida pessoal de seus personagens. Mas, por baixo de todas essas camadas de músculos e purpurina, essa continuação, dirigida por Gregory Jacobs (com o realizador do original, Steven Soderbergh como diretor de fotografia e montador) tenta mostrar algum conteúdo mais complexo, por mais sutil que seja.

Passados alguns anos desde que Mike (Channing Tatum) se aposentou dos palcos, a vida do rapaz não está como ele planejava. Sua empresa de móveis planejados não decolou e sua amada Brooke lhe deu um fora. Frustrado com a vida e convidado por alguns de seus antigos colegas para uma convenção de strippers (desculpe, artistas de strip) em meio ao feriado da Independência dos EUA, ele embarca em uma pequena road trip para sair dessa pior.

Este “Magic Mike XXL” adota uma estrutura clássica de road movie, com o protagonista-título e seus companheiros, Tarzan (Kevin Nash), Ritchie (Joe Manganiello) e Ken (Matt Bomer) encontrando pelo caminho figuras que os ajudam em suas jornadas – literal e figurativamente. Deste modo, temos o antigo romance, a esperança de um novo enlace, o envolvimento com uma mulher sexualmente frustrada, o encontro de um novo caminho…

Tudo isso é mostrado e contado de forma simples e objetiva, com o cenário e contexto da história (não por acaso, retratados pelo experiente Soderbergh) sendo responsável por trazer algum conteúdo mais profundo, um certo contexto histórico/social/econômico à trama. Não que isso vá importar muito. Por mais que a estética fotográfica da produção tente evocar uma natureza extramundo dentro da narrativa, a condução dos arcos dramáticos dos personagens é bem mais leve em relação ao original, recorrendo de maneira mais gratuita para os números dos rapazes.

Algumas vezes isso funciona de maneira divertida, como quando Ritchie faz o seu lance dentro de um mercadinho (um dos usos mais engraçados de uma música dos Backstreet Boys em todos os tempos), mas em outros momentos os números ultrapassam o limite do ridículo, como na sequência em que Mike começa a dançar para tomar uma decisão, logo no fim do primeiro ato.

Os próprios dilemas dos protagonistas são mais ralos, basicamente resumindo-se à auto-afirmação de suas masculinidades (ou sobre o excesso dela, como no caso de Ritchie). Ao menos os atores parece que entenderam que se trata de uma história mais desencanada e parecem apenas se divertir em cena, especialmente Joe Manganiello, que parece se esbaldar na telona.

De todo modo, é uma produção importante, até mesmo por valorizar a sexualidade feminina, através até mesmo de um trio de personagens que demostram certa autoridade frente aos rapazes, a “domina” Roma, vivida por Jada Pinkett-Smith, a ricaça frustrada vivida por Andie MacDowell, colaboradora de longa data de Soderbergh desde os tempos de “Sexo Mentiras e Videotape”, e Elizabeth Banks, como a organizadora da convenção onde os rapazes vão se apresentar.

As três mostram que sim, as mulheres podem apreciar a sensualidade do sexo oposto tanto quanto os homens e sem terem vergonha disso ou saírem de posições dominantes. Já Amber Heard tem um papel que funciona quase que como a antítese delas, surgindo em cena apenas para ser a beldade por quem Mike se interessa e só.

Há ainda uma brincadeira com “Crepúsculo”, sobre o fato de que as meninas que liam a “saga” hoje cresceram e possuem sim desejos. Não é mera coincidência que a equipe de Mike os enfrente para conquistar a preferência da mulherada na convenção…

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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