Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 29 de junho de 2015

Minions (2015): entre bananas e decepções, não chega a ser um desastre

Mesmo não sendo um desastre completo, o filme mostra que, mesmo carismáticas, as criaturinhas precisam interagir com outros personagens interessantes para funcionarem além de doses homeopáticas.

Ah, os minions. As criaturinhas olhudas e amareladas foram, sem sombra de dúvidas, as melhores coisas nos medianos filmes da franquia “Meu Malvado Favorito”. A mistura fofa e atrapalhada de “Pokémon” com “Os Três Patetas” rendeu à Universal e à Illumination uma fortuna em figuras, lancheiras, lanches, capas para celulares… Considerando tudo isso, foi natural que “Meu Malvado Favorito 2” já terminasse com o aviso de que os ajudantes iriam ganhar seu próprio longa. Daí surgiu este “Minions”, fita dirigida pelo criador da franquia, Pierre Coffin, e Kyle Balda (“O Lorax”), com roteiro de Brian Lynch (“Hop – Rebeldes Sem Páscoa”).

A trama mostra a origem dos minions como assistentes de vilões ao longo dos anos, até que, após um dos vários “acidentes de percurso” causados por eles, os baixinhos acabam sem nenhum chefe, caindo em depressão. Nisso, três deles, Kevin, Stuart e Bob, se voluntariam para achar um novo patrão para a tribo, encontrando a supervilã Scarlett Overkill e se envolvendo em uma trama para roubar a coroa da Rainha Elizabeth II.

Pode se descrever a produção como um amontoado de pequenas esquetes que tentam contar uma história única. Por mais que algumas dessas esquetes façam rir, não há uma coesão suficiente entre elas para gerar uma experiência cinematográfica satisfatória. Um dos grandes problemas do primeiro ato, que deveria estabelecer os minions sem Gru, é justamente o fato de que TODAS as gags e piadas destes minutos iniciais foram estragadas pelos trailers.

Já o segundo e o terceiro atos, que lidam com a tênue trama concebida por Lynch simplesmente não é muito interessante e se segura apenas por conta da simpatia do trio de protagonistas. Também há uma narração em off que é abandonada quase que do nada, não havendo sequer uma consistência na maneira como a história está sendo contada, demonstrando a pressa dos produtores em lançar o filme (e os produtos correlacionados) no mercado.

As personalidades completamente diferentes de Kevin, Stuart e Bob os tornam únicos dentro da multidão de minions que surge no decorrer da projeção (899, segundo informações oficiais). Isso faz com que nos identifiquemos com a coragem do primeiro, a rebeldia musical do segundo e a ingenuidade infantil do último.

Scarlett jamais se mostra uma personagem eficiente, mesmo com muito potencial brega e exagerado combinado com o esforço exagerado – no bom sentido – de Adriana Esteves (e de Sandra Bullock, na versão original). Falta alguém para complementar os minions e a família de criminosos agradáveis e sociopatas apresentada no começo do segundo ato supriria essa necessidade de maneira mais eficiente que a “musa dos vilões”.

A escolha em ambientar a história no fim dos anos 1960 também se mostrou bem acertada, permitindo este spin-off se diferenciar visualmente da série principal mesmo seguindo a mesma lógica estética, além de abrir um leque totalmente novo de gags, infelizmente pouco aproveitado. No entanto, é impossível dizer que as recriações de época de Nova York e Londres não ficaram extremamente divertidas. A trilha sonora aproveita também aproveita essa pegada, em uma maravilhosa escolha de canções sessentistas, incluindo até mesmo Jimi Hendrix e The Doors, em um psicodelismo que, acidentalmente ou não, dialoga com o idioma maluco dos minions.

A dúvida na cabeça de todos era se os amarelinhos que roubaram a cena em dois filmes conseguiriam segurar 90 minutos de projeção como protagonistas. Mesmo com a resposta sendo negativa, a produção não chega a ser um desastre completo, salvando-se por conta do gigantesco carisma dos personagens-título.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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