Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 08 de junho de 2015

Tomorrowland – Um Lugar Onde Nada é Impossível (2015): novas velhas ideias que interessam

Mesmo tendo problemas de realização, novo filme Brad Bird surge como um suspiro em meio as inúmeras e previsíveis adaptações.

063676.jpg-r_640_600-b_1_D6D6D6-f_jpg-q_x-xxyxxHá quase duas décadas que o cinema hollywoodiano tem como base de suas histórias um material pré-existente, que varia entre livros, quadrinhos, peças teatrais, entre outras coisas. As ideias originais geralmente estão restringidas ao chamado trabalho de autor, ou caminham entre a cena independente. De modo que quando surge algo novo por esse meio, as atenções são voltadas em analisar mais afundo o que tem aquilo a dizer. É bem verdade que, geralmente, o que vemos são conceitos antigos readaptados nestes materiais, algo comum dentro arte e que não diminui a decorrência, ainda que o julgamento não seja lá tão justo.

Pensando talvez na estagnação da indústria e na falta de novos romances, o cineasta Brad Bird e o roteirista Damon Lindelof conceberam uma obra dita genuína, que traz muita aventura e mistura fantasia e ficção cientifica, sem medo que tudo pareça tolo e pueril. Distribuído aqui no Brasil como “Tomorrowland – Um Lugar Onde Nada é Impossível”, o título não traz nada de tão inovador, pelo contrário, toma como referência outras obras e brinca ao reuni-las num conto protagonizado por uma adolescente comum.

Na trama temos a jovem atrapalhada Casey Newton (Britt Robertson), uma garota que mora com o pai e o irmão e vive se metendo em situações peculiares, devido sua curiosidade pela ciência. Numa dessas andanças, a garota acaba achando uma espécie de broxe mágico, um artefato que quando usado a transporta para outra realidade futurista, um lugar chamado Tomorrowland, que tem como foco formar uma nova humanidade, livre da violência e da ganância. No entanto, algo acontece e Casey acaba voltando ao mundo real, o que a deixa maluca e a leva numa busca incessante de achar um novo portal para voltar – fator já empregado no seriado “Lost” (2004), de Lindelof. Na procura, ela acaba encontrando a estranha menina Athena (Raffey Cassidy) e Frank Walker (George Clooney), um homem amargurado que já esteve por lá e não conseguiu retornar.

Além de toda aventura do trio buscando um jeito de chegar a Tomorrowland e sendo perseguido por robôs humanoides, temos como foco o debate da existência deste lugar semelhante ao paraíso. Do que aconteceu, para onde estamos caminhando e qual será nossa salvação. Temas obviamente batidos, mas pouco falados hoje em dia, já que normalmente os futuros distópicos da arte contemporânea são nada positivos. E, nesse aspecto, a equipe não nos empurrar goela abaixo o que devemos ou não seguir. Justamente o oposto, pois a mensagem acaba soando inocente no fim das contas. Bem como a própria ideia proposta.

O background desse novo universo ou propriamente do seu convívio social é quase mínimo, o que nos leva a crer que a intenção dos criadores era mesmo trazer uma nova aventura mágica, sem estar ligada a algo literal. E conhecendo os trabalhos anteriores de Bird e Lindelof, não seria falacioso traçar quais eram seus objetivos. Não obstante, é inegável que em dados momentos a obra deixe o público ligado e o transporte para a nova moradia. Esta que ganha vida graças ao auxílio fotográfico de Claudio Miranda, que confere um visual cristalino aos cenários. Ou na arrojada trilha sonora de Michael Giacchino, que tem grande função no ritmo narrativo.

Por outro lado, é bem verdade que o longa pareça inchado se analisado de um modo geral, e fica fácil saber qual gordura é desnecessária. De pronto apontamos o primeiro ato inteiro, que de tão tosco e mal realizado, mais parece uma nova versão da cinessérie “Pequenos Espiões” (2001), de Roberto Rodriguez. Pior, pouco tem função informativa, já que a mesma coisa é repetida no caminhar da trama. Por sinal, esta é outra falha recorrente no roteiro da dupla, os diálogos expositivos e a explanação didática dos acontecimentos. Tal qual o melodrama em alguns andamentos, que soa artificial e deselegante. O elenco também deixa um pouco desejar, com exceção de Clooney e Robertson – que apenas não comprometem -, os demais personagens são caricaturais, o vilão Nix, interpretado por Hugh Laurie, é a prova disso.

Mas, como puderam notar, os acertos acabam superando os problemas, principalmente por se tratar de um trabalho corajoso. Sim, a Disney ousou em investir tanto em algo que deve soar simples para o grande público, o prejuízo parece eminente. Contudo, ainda que tenha pontos negativos no que se refere à realização, é tematicamente interessante que obras como estas apareçam em meio a tantos enlatados passados semanalmente. É um filme comum que merece ser conferido.

Wilker Medeiros
@willtage

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