Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 01 de junho de 2015

Promessas de Guerra (2014): a promissora estreia de Russell Crowe como diretor

Um interessante relato sobre um momento marcante da Primeira Guerra.

Que Russell Crowe é um dos atores mais brilhantes de sua geração, não é novidade para ninguém. Suas várias indicações e premiações em mais de vinte anos de carreira já comprovaram isso. O que poucos sabiam era do seu gosto pelo trabalho de direção. E menos conhecido ainda era sua competência no trabalho, como visto neste “Promessas de Guerra”, sua estreia na cadeira de diretor.

O filme usa a história de Connor (Crowe) e sua busca por seus filhos Arthur (Ryan Corr), Henry (Ben O’Toole) e Edward (James Fraser) como base para contar a história da batalha de Galipoli, uma das mais severas da Primeira Guerra Mundial, e o impacto dessa batalha para o surgimento do Estado Turco como conhecemos hoje. Essa batalha foi travada entre uma coalisão das Forças Armadas da Austrália e Nova Zelândia (conhecida como ANZAC) e a Turquia pela península de Dardanelos, um ponto estratégico fundamental naquela guerra.

Com o desenrolar da trama, somos apresentados a vários personagens importantes, como o Major Hasan (Yilmaz Erdogan) e o Sargento Cemal (Cem Yilmaz), militares otomanos que participaram da batalha e agora, além de colaborar na busca por sepulturas clandestinas, fazem parte da organização militar que combate a invasão grega. A trajetória de Connor é mostrada com vários flashbacks, na medida em que ele se aproxima do paradeiro dos filhos, com ênfase na sua relação familiar e como a guerra afetou sua vida e de sua esposa. Em meio a isso, ele conhece Ayshe (Olga Kurylenko), dona de uma pensão, e seu filho, o carismático Orhan (Dylan Georgiades)

Para um diretor estreante, Crowe demonstra grande desenvoltura na concepção estética das cenas, como a impressionante tempestade de areia ou as magníficas paisagens do litoral turco. A paleta de cores, em tons terrosos, como laranja, marrom e amarelo, são outro grande acerto visual, pois reforçam os sentimentos e a ligação daqueles personagens com suas origens. Infelizmente, ele comete alguns deslizes quanto a escolha de alguns enquadramentos, porém, nada que desqualifique seu trabalho. Ele também se mostra igualmente competente na condução do seu elenco.

Yilmaz Erdogan confere imensa dignidade ao Major Hasan, além de transformá-lo em uma figura compreensiva, que tem o respeito de seus comandados pelo exemplo, não pela força. Ele demonstra isso ao ser atacado por Connor, em um momento de imensa dor do protagonista. Cem Yilmaz, por sua vez, surge quase como um contraponto de seu superior, agindo muitas vezes por impulso, e com agressividade, se necessário. Já Olga Kurylenko consegue transmitir bem todos os seus sentimentos reprimidos, como o seu conflito por ter que conviver com um australiano, tão pouco tempo depois de um conflito tão sangrento.

Infelizmente, o roteiro de Andrew Knight e Andrew Anastasios não parece a altura do restante da fita. Muitas vezes ficamos com a sensação de estarmos assistindo a um filme de ação, não a um drama. Da mesma forma (e aqui a responsabilidade também recai sobre Crowe), em algumas passagens, Connor parece um herói de ação nos moldes de um “Busca Implacável”, como na cena em que enfrenta quatro soldados turcos na saída da pensão. O que demonstra ma grande inconsistência, já que

No entanto, de modo geral, pode-se considerar essa nova empreitada de Crowe, ainda que em um filme mediano, como um promissor primeiro passo rumo a mais um bem sucedido aspecto em sua carreira.

David Arrais
@davidarrais

Compartilhe