Cinema com Rapadura

Críticas   segunda-feira, 18 de maio de 2015

Divã a 2 (2015): uma nova comédia nacional sem graça

Mais um provável, porém sofrível, sucesso de bilheteria.

Ah, o Cinema Brasileiro. Muitas vezes nos premia com pérolas como “O Lobo Atrás da Porta” ou “Boa Sorte”, mas infelizmente obras desse porte poucas vezes atingem o grande público. Na maioria das grandes redes de cinema, aquelas produções que mais crescem nas bilheterias são as chamadas “comédias globais”, baseadas em produções ou elenco de astros da nossa maior rede de televisão. E “Divã a 2”, dirigido por Pedro Fontenelle, é mais um filme para engrossar essa lista: péssima qualidade técnica, mas um provável sucesso de bilheteria, que ainda deixa um gancho para uma continuação.

O filme segue a mesma fórmula de dezena de obras anteriores do mesmo padrão: Uma comédia romântica previsível, num roteiro batido, porém com atores e atrizes, de várias plataformas, em evidência no momento (o que, em um trabalho artístico sério seria evitado para que longa não ficasse datado. Mas nesse universo não existe essa preocupação. O único resultado importante é o numerário das bilheterias).

Eduarda (Vanessa Giácomo) é uma ortopedista que teve um filho e casou, ainda jovem, com Marcos (Rafael Infante), um bem sucedido promotor de eventos. Porém, depois de dez anos de casados a relação já está desgastada e, depois de fazerem algumas sessões de terapia, decidem pelo divórcio. É quando entram a cena os amigos do casal. Ou melhor, aqueles que deveriam agir como tal. Afinal, os amigos de Marcos consideram que o melhor a fazer é levar Marcos para beber todas as noites, ao passo que Isabel (Fernanda Paes Leme), uma amiga “descolada”, que a amiga precisa recuperar o tempo perdido e transar com todos os homens da cidade. Mas, em uma grande prova de amizade, é capaz de deixar a companheira embriagada, às quedas, sozinha em um bar de uma boate, além de fazer o máximo para impedir qualquer tentativa de reconciliação entre Eduarda e Marcos. Porém, em uma dessas suas investidas, ela apresenta Leo (Marcelo Serrado) a Eduarda, e rapidamente surge um romance. Por incrível que pareça, o nascimento (ultrassônico) desse relacionamento é o que há de melhor na fita. Os encontros são gradativos, primeiro a sós, depois apresentando as crianças e só então começam a ter algo mais sério.

O grande problema é tudo que ocorre durante a projeção antes e depois disso. Difícil saber onde estão os maiores equívocos: Será na direção, incapaz de estabelecer qualquer lógica temporal ou geográfica durante os curtos noventa minutos de filme? Afinal, em determinado momento Eduarda diz que vai sair a noite, e em poucos minutos, está no local combinado, banhada pelo Sol do Rio de Janeiro. Ou no trabalho do elenco, que não possui química alguma, com alguns personagens jogados na história de qualquer maneira, e ainda demonstram total falta de preparo no desenvolvimento de seus personagens, com fica visível nas cenas (sim, siso ocorre mais de uma vez) em que Eduarda atende o telefone enquanto atende pacientes, durante procedimentos médicos.

Mas, sejamos justos, os atores tem em mãos um material muito rasteiro para trabalhar, dada a falta de coesão e bons diálogos no roteiro, repleto de furos preguiçosos. Em determinado momento, Leo afirma que a filha cresceu sem uma figura materna, no entanto, trinta segundo depois de dizer que sua filha tem dez anos de idade e ficou viúvo a dois.

Nem mesmo nos aspectos técnicos o filme tem defesa: a trilha sonora, ou melhor, a seleção de canções se resume a uma versão instrumental de “Futuros Amantes” de Chico Buarque (que se repete três vezes!) e ao uso de “Você é Linda”, de Caetano Veloso. A direção de fotografia apresenta uma dificuldade tosca de manter os personagens bem enquadrados, cortando pés ou cabeças a esmo em várias cenas.

Porém, talvez a maior culpa de tudo isso seja realmente dos produtores que cometem um filme chamado “Divã a 2”, em que, além de não haver nenhum divã em nenhuma cena, ainda dá a entender que um terapeuta teria um divã em seu local de trabalho. É lamentável que, mesmo com um orçamento bem mais que razoável (suposição derivada das inserções grosseiras e forçadas de peças de merchandising), o resultado final (exceto pela boa piada nos créditos finais) seja tão desprovida de valores artísticos.

David Arrais
@davidarrais

Compartilhe