Cinema com Rapadura

Críticas   terça-feira, 12 de maio de 2015

O Exótico Hotel Marigold 2 (2015): uma sequência agridoce

Ainda que possua bons momentos, irregularidade e desequilíbrio narrativo são a marca desta continuação pouco necessária.

A principal qualidade de “O Exoexóticohotelótico Hotel Marigold” (que considero um filme “apenas bom”, não espetacular) é a de construir um retrato bastante sensível sobre uma fase da vida que pode ser triste ou encantadora, dependendo da forma como a encaramos; a chamada “terceira idade”. Assim, é emocionante ver aquelas pessoas, com todas as cargas dramáticas acumuladas ao longo de toda uma vida, seus medos, anseios, angústias e até preconceitos, se reencontrarem a si mesmos com o apoio uns dos outros, em um lugar belo e exótico como a Índia, diferente de tudo aquilo que um dia eles vivenciaram em seus lares.

Em uma continuação que acaba por se provar um tanto quanto desnecessária, o que temos neste “O Exótico Hotel Marigold 2”, todavia, é um esgotamento da essência da proposta do longa anterior, parecendo ser mais uma história sobre um jovem indiano em busca de expandir seus negócios e conquistar de vez a mulher que ama em meio às barreiras que lhe são postas no caminho do que uma obra que procura analisar com carinho as belezas e dificuldades da velhice.

Em parte, gosto dessa nova pegada. Afinal, Dev Patel encarna com simpatia o jovem Sonny Kapoor, de coração enorme e sempre em busca de reconhecimento, formando uma dupla carismática com sua bela Sunaina (Tina Desai), conduzindo com relativa eficiência o fio central da narrativa. Entretanto, o desequilíbrio daquelas que eram pra ser o carro-chefe da história acaba por tornar a película um tanto quanto maçante em vários momentos, com algumas situações muito melhores do que outras. A (não) relação de Evelyn com Douglas parece forçada e, com exceção de Muriel, que continua interessante e exercendo um papel fundamental como auxiliar de Sonny, todos os outros personagens parecem ser, de fato, “escanteados” para segundo plano.

É realmente um desgaste da fórmula que dera certo no anterior, faltando criatividade na criação de novos dramas e obstáculos nas vidas dos personagens de Judi Dench, Celia Imre, Bill Nighy e companhia. Nem a participação insossa de Richard Gere como par romântico (mais uma forçada) da mãe de Sonny ameniza a fragilidade do roteiro, de responsabilidade de Ol Parker, escritor inglês que reedita a parceria com o diretor John Madden, mas não obtém o mesmo sucesso.

Por outro lado, é inegável a destreza dos realizadores, em especial a equipe de fotografia e direção de arte, em aproveitar com máxima eficiência as locações deslumbrantes de uma Índia tão exótica quanto bela para nós, ocidentais; qualidade essa já presente no primeiro longa. Neste sentido, a câmera de Madden novamente nos leva para dentro das ruelas apinhadas de gente e respirando comércio, nos coloca dentro dos táxis locais e nos mostra palácios exuberantes da elite de Jaipur. Tudo isso apoiado em figurinos e decorações tradicionais indianas, reforçando tal sentimento misto de estranheza e admiração.

Uma pena, dessa forma, que vejamos tamanho potencial desperdiçado. A sensação que fica é mesmo aquela de perguntar-se se a sequência era mesmo necessária. Apesar de, como já colocado, não achar o anterior um grande filme (ainda que bom) é inegável que ele era bem resolvido o suficiente para funcionar bastante bem sozinho, passando seu recado com eficácia e sensibilidade, sem precisar do apoio de uma continuação.

De consolo, fica uma tocante mensagem final narrada pela Muriel de Maggie Smith, sobre as reviravoltas da vida, a juventude, o recomeço, a passagem do tempo, enfim, sobre tudo aquilo que acompanhamos nos dois longas. Algo que, mesmo que de maneira irregular, acaba por fazer bastante sentido quando analisado com mais distância da obra presente. De se lamentar, portanto, que tal ideia tenha sido explorada de modo tão inconstante durante as quase duas horas de projeção, resultando em uma apenas experiência mediana e não mais do que isso.

Arthur Grieser
@arthurgrieserl

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