Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 15 de fevereiro de 2015

O Imperador (2014): é a vez de Nicolas Cage atacar com um épico medíocre

Sentindo na pele a fria e afiada lamina do ostracismo, Nicolas Cage se junta ao jedi-zumbi Hayden Christensen, num épico vagabundo, e segue em constante derrocada.

imperador_1Não é segredo nenhum que Nicolas Cage já foi um dos atores mais badalados de Hollywood, pois, apesar de ter um estilo extravagante, já trabalhou com grandes cineastas – de Alan Parker, Joel Coen e David Lynch a John Woo, Martin Scorsese e Brian De Palma –, alcançou enormes bilheterias e chegou até ganhar um Oscar, por sua brilhante atuação no melancólico “Despedida em Las Vegas” (1995), além de anos depois ser indicado de novo na categoria de Melhor Ator, no excepcional “Adaptação” (2002), de Spike Jonze.

Mas, então, o que terá acontecido para Cage, há quase uma década, emplacar um fracasso atrás do outro? Será que desaprendeu? Comenta-se que o motivo seria dívidas financeiras, mas o próprio ator faz questão de desmentir tudo e chama de “percepção errada” quando falam que seus personagens estão cada vez mais caricatos e exagerados. É difícil realmente acreditar que o sujeito tenha apreço por títulos como “O Sacrifício” (2006), “Perigo em Bangkok” (2008), “Caça às Bruxas” (2011), “Fúria” (2014) e “O Apocalipse” (2014), estes por assim terríveis em todos os sentidos. Mais ainda porque, vez ou outra, o sobrinho do Copolla aparece com bons trabalhos, vide “Kick Ass – Quebrando Tudo” (2010) e “Joe” (2013). Mas não demora muito e ele acaba voltando às bombas de sempre, que frequentemente vão direto para home video.

Esta nova empreitada, “O Imperador”, emula bem tudo que vimos de ruim nesses longas já citados. Além de ser uma produção de quinta categoria – pior ainda por se tratar de um épico – e absolutamente genérica, possui personagens e atuações patéticas, roteiro pedestre, pavorosas cenas de batalhas e figurinos que fariam cosplays ficarem irritados, caso fossem comparados. Pior ainda, Nicolas Cage está num satânico piloto automático e constrói aqui uma figura que, só pela aparência, provoca involuntárias risadas instantâneas.

Dirigido pelo ex-dublê norte-americano Nick Powell, vemos o drama de um jovem príncipe que está sendo caçado por seu irmão mais velho, Shing (Andy On), pois, para tomar o império, assassinou o próprio pai e ver no garoto uma ameaça viva. Na fuga, o moleque esbarra com o impulsivo cavaleiro Jacob, que ganha vida através de um Hayden Christensen cheio de caras e bocas – aliás, não sabia que este elemento ainda estava na ativa, já que tem no currículo o feito de protagonizar uma das maiores franquias da história do cinema, “Star Wars“, e pouco tempo depois cair no ostracismo. Voltando a trama, Jacob, que é um pupilo revoltado do lendário guerreiro Gallain (Cage), ajuda o menino travando batalhas monótonas contra o vilão. Ou seja, um conto batido e sem acabamento algum.

Aqui nada funciona bem, Powell ousa e concebe planos estranhos, com ângulos equivocados e cenas repletas de cortes erráticos, que tornam as tomadas completamente inorgânicas. Bem como a própria obra, a fotografia de Joel Ransom é cafona e exagerada, expõe ainda mais os problemas do baixo orçamento e denuncia a precariedade do figurino e cenário. Mesmo com enquadramentos mais fechados, notamos o terrível acabamento da mise-en-scène. O que resta então do troço, se a história, as lutas e os personagens também não ajudam? Não consigo responder, apenas aconselho que passem longe dessa coisa.

Wilker Medeiros
@willtage

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