Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 14 de fevereiro de 2015

A Casa dos Mortos (2015): um terror problemático, mas que assusta

Apesar da abundância de clichês, terceiro ato garante os sustos.

Em 1999 surgiu um dos maiores fenômenos de bilheteria da história dos cinemas: “A Bruxa de Blair”. Com um orçamento de cerca de sessenta mil dólares, ultrapassou a impressionante marca de cento e cinquenta milhões de dólares apenas nos Estados Unidos. Tal acontecimento acabou criando quase um subgênero na indústria: histórias de jovens que decidem investigar uma lenda local e sofrem com eventos sobrenaturais ligados a essa lenda. Acrescente a isso found footage (cenas de gravações “reais”) e logo você estará lidando com mais um “filhote” daquele longa do final do século passado.

A bola da vez é “A Casa dos Mortos”, escrito a seis mãos por Doug Simon, Will Canon (que também assume a cadeira de diretor) e Max LaBella, a partir de história de James Wan. Aqui, um grupo de jovens, formado por Michele (Cody Horn), Bryan (Scott Mechlowicz), John (Dustin Milligan), Donnie (Aaron Yoo) e Jules (Megan Park), decide gravar um documentário em uma casa onde uma moça cometeu suicídio depois de assassinar cinco amigos que estava com ela em uma sessão de invocação satânica. Para realizar esse documentário, eles resolvem fazer uma sessão espírita parecida, com resultados igualmente trágicos. O único a escapar ileso é John, que passa a ser interrogado e investigado pelo detetive Mark Lewis (Frank Grillo) e por Elizabeth Klein (Maria Bello), psicóloga da polícia.

E assim, a trama se desenvolve, em constante alternância entre os relatos de John e a análise das filmagens obtidas pela equipe. Isso faz com que a construção do clima de suspensa ocorra de forma eficiente, pois, apesar de sabermos que John escapou daquele ritual macabro, ficamos instigados em saber, tanto o que aconteceu, como as razões para que ele tenha sobrevivido.

E a cada nova sequência que se passa no interior da casa a tensão aumenta, na medida em que novos fatos são revelados. E essas revelações não surgem de forma leviana, jogadas ao acaso. Todas são bem trabalhadas, gradativamente. Um bom exemplo disso são os símbolos profanos que surgem aos poucos no interior da casa, ou as interações (e algumas aparições) dos espíritos que ali habitam. Infelizmente, esse clima é muitas vezes interrompido pela necessidade, quase irritante, da trilha sonora pontuar os momentos de susto, como se os realizadores não confiassem no material que têm nas mãos.

Apesar das boas atuações, o elenco fica um pouco prejudicado pelos personagens típicos de obras desse gênero: temos a loira bonita e malvada; o protagonista tímido e com um passado misterioso; o antagonista (Bryan, diretor do documentário) arrogante e que já namorou a atual namorada do protagonista; e para completar o grupo, o policial cético e a psicóloga benevolente.

Contando ainda com um gancho para uma provável continuação (dependendo do resultado nas bilheterias), “A Casa dos Mortos” convence como um bom exemplar do gênero, especialmente pelo excelente terceiro ato, capaz de nos deixar na ponta da poltrona, a ponto de quase nos fazer esquecer os pequenos problemas ao longo da projeção.

David Arrais
@davidarrais

Compartilhe