Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 31 de outubro de 2014

O Melhor de Mim (2014): sem impressionar, romance segue padrões

Com pequenas diferenças e razoável eficiência, longa repete a história e o tom pasteurizado que tomou conta do gênero nos últimos anos.

Fazer um filmemelhordemim_1 de romance nos tempos atuais não é algo que necessite de muita criatividade. Pelo menos não aqueles que deem os devidos retornos financeiros a seus produtores. Basta pegar qualquer livro de um John Green ou Nicholas Sparks (como é o caso presente) por aí, que siga fielmente a fórmula boy meets girl, e adaptá-lo com o mínimo de zelo estético, colocando um ou dois artistas carismáticos e talentosos nos papéis principais. Bingo! Seu sucesso estará garantido. Ah, e de preferência com pelo menos um dos dois… bem, deixo essa “surpresa” para o espectador que decida ir ver este “O Melhor de Mim”, o mais novo longa pasteurizado do gênero.

Com direção de Michael Hoffman, acompanhamos a história de Amanda (Liana Liberato jovem e Michelle Monaghan adulta) e Dawson (Luke Bracey jovem e James Marsden adulto), dois adolescentes que, no início dos anos 90, se apaixonaram e viveram um intenso romance. Afastados por barreiras que só descobriremos no decorrer da projeção e, por isso, não cabe citá-las aqui, o fato é que 21 anos mais tarde (não 20), os dois se reencontram devido à morte de um grande amigo em comum, na cidade onde tudo começou. Distantes por tanto tempo e tendo seguidos caminhos completamente diferentes por inúmeras circunstâncias, ambos colocarão o amor que um dia sentiram um pelo outro à prova, reacendendo a chama há muito apagada.

Partindo de uma estrutura narrativa eficiente e bem construída, o longa une passado e presente, entrelaçando a trajetória dos dois em um bonito jogo de causa e efeito, com rimas visuais e temáticas que vão ganhando cada vez mais força com o desenrolar da trama. Assim, pequenos gestos e atitudes de determinado personagem no presente adquirem toda uma outra conotação quando contrastados com momentos do passado. Neste sentido, vale destacar o belíssimo trabalho de montagem realizado por Matt Chesse, que conduz com maestria esse “ping-pong” temporal, sempre com passagens de cena interessantes, apoiando-se basicamente em fusões recheadas de significado e múltiplas camadas.

No entanto, Luke Bracey não convence muito como o galã que vai conquistar o coração da bela e cativante Amanda de Liana Liberato, fazendo com o que o amor compartilhado entre os dois acabe soando um pouco forçado e “conveniente” demais, empalidecendo tal linha temporal ante o presente amargo e conflituoso representado por Michelle Monaghan e James Mardsen. É aquele conto de fadas adolescente que estamos acostumados a ver em obras do gênero; “você é minha vida” pra lá, “não consigo viver sem você” pra cá, enquanto são colocados frente a obstáculos a serem superados, geralmente envolvendo a família de ambos, e aqui não é diferente. Apesar de uma composição doce, segura e carismática, Liberato não é capaz de segurar a peteca sozinha.

Já na linha presente, somos postos ante a dois adultos amargurados pelo tempo procurando resolver pendências passadas, o que, apesar de também não soar lá muito original, certamente é algo mais interessante de se acompanhar, até pela competência de Mardsen, carimbando mais uma vez a sua vocação para este papel de galã em filmes românticos, e especialmente Monaghan, comprovando que ainda é uma atriz pouco valorizada no mercado. Sua excelente participação na série “True Detective” também corrobora esta tese, credenciando-a como uma profissional que merecia receber mais oportunidades de encarnar personagens densos e desafiadores.

De resto, é uma obra que não traz nada de novo. O roteiro de J. Mills Goodloe e Will Fetters segue o padrão esperado e não apresenta grandes reviravoltas em seu enredo. Mesmo a  trilha sonora, que normalmente se sobressai em filmes do gênero, é fraca e monocórdia, beirando o dispensável. Dessa forma, em que pese uma estrutura narrativa interessante, os bons atores envolvidos, e a razoável eficiência ao estabelecer um envolvimento emocional com o espectador, “O Melhor de Mim” acaba não conseguindo superar o limite daquilo que foi concebido para ser: apenas mediano.

Arthur Grieser
@arthurgrieserl

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