Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 14 de setembro de 2014

Winter – O Golfinho 2 (2014): um feel good movie infantil

Apesar de simples em sua narrativa e trama (além de uma bela peça publicitária para o aquário onde a história se passa), o filme se mostra inofensivo o bastante para se qualificar como um bom entretenimento para os pequenos

imageAnimais e crianças geralmente são sinônimos de filmes fofinhos para toda a família. O caso de “Winter – O Golfinho 2” não é exceção, embora ainda haja um elemento de auto-ajuda na trama. O título do longa é um tanto incorreto, tendo em vista que a golfinho Winter não é o único animal de destaque aqui, sendo mais adequado o título original, “O Conto de um Golfinho 2”.

Sendo esta franquia baseada em fatos reais, outras histórias que aconteceram no Aquário Marinho de Clearwater foram escolhidas pelo diretor e roteirista Charles Martin Smith para serem romanceadas e devidamente açucaradas, complementando os dramas dos personagens humanos, especialmente do jovem Sawyer (Nathan Gamble), protagonista da fita.

Alguns anos depois da golfinho Winter se tornar a principal atração do aquário, Sawyer é convidado para um programa de estudo de biologia marinha in loco, o que significaria deixar seu lar e amigos por alguns meses. Enquanto isso, Winter perde sua parceira, Panamá, e, sozinha, se mostra cada vez mais indócil, o que põe em risco sua estadia no local.

Um dos problemas do longa é a artificialidade de alguns dos desafios que surgem. Embora seja compreensível que Sawyer não queira arriscar perder o que já tem e até mesmo uma paixonite crescente pela amiga Hazel (Cozi Zuehlsdorff), a tensão sobre o destino de Winter e do aquário em si é muito forçada, chegando até mesmo a dotar de uma incômoda e desnecessária antipatia o Dr. Clay (Ray Connick Jr.), pai de Hazel e figura paterna de Sawyer.

Até mesmo a pobre Winter acaba tendo seus momentos de agressividade aleatória, tudo para tentar criar algum conflito extra. Por sorte, o filme se segura no seu arco central, sobre os desafios que Sawyer e Winter enfrentam com as mudanças vindouras e os subplots envolvendo os resgates de animais como a tartaruga Mavis mostram mais do dia a dia do aquário e sua importância para aquela cidade, fazendo com que o público realmente se importe com o bem-estar do local e de seus funcionários.

A produção conta com uma fotografia em cores claras e vivas e o retrato dos animais é, embora um tanto visualmente idealizado, relativamente realista, deixando claro que, por mais bonitinhos que sejam, eles devem ser tratados com cuidado, justamente por serem selvagens, lição ensinada com didatismo claro, com exceção do pelicano Rufus, usado como um alívio cômico quase que surreal (fato notado até pelos próprios personagens, diga-se).

Nathan Gamble segura bem o papel principal, com carisma suficiente para manter o seu arco dramático, especialmente ao interagir com Winter. O mesmo não pode ser dito de Cozi Zuehlsdorff, com sua Hazel alternando entre os modos adolescente prematura chata e adolescente carente chata. No elenco adulto, Morgan Freemam, mesmo desperdiçado em apenas duas cenas, é o destaque como o sábio, divertido e ranzinza Dr. McCarthy. Ray Connick Jr. acaba mais irritante que querido como o Dr. Clay e Ashley Judd ganha o cheque mais fácil de sua carreira no papel da mãe de Sawyer, que mais parece saída de algum comercial de margarina.

No fim das contas, “Winter – O Golfinho 2” é um feel good movie infantil, com direito a animais e até mesmo a uma celebridade esportiva dando seu exemplo de superação (a surfista Bethany Hamilton, que teve sua história contada no filme “Soul Surfer – Coragem de Viver”). Se a linguagem do filme é simplificada até mesmo para os padrões deste gênero, é por ter como público-alvo crianças. O resultado é um longa inofensivo, que deve agradar os pequenos que gostam de animais e ensinar algumas lições que, embora batidas, ainda são válidas.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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