Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 12 de setembro de 2014

3 Dias Para Matar (2014): apenas um amontoado de clichês

McG não decide se quer fazer uma comédia, um drama ou filme de ação. E falha em quase todos.

3DiasAlgumas coisas no cinema são inexplicáveis. Um dos maiores mistérios da atualidade é: como McG consegue fazer tantos filmes sempre com resultados, quando muito, medíocres, e mesmo assim continua conseguindo mais e mais trabalho? Depois de cometer “O Exterminador do Futuro – Salvação” e um breve hiato de cinco anos, o diretor volta às telonas com “3 Dias para Matar”, escrito por Adi Hasak e Luc Besson.

O filme conta a história de Ethan (Kevin Costner), um experiente agente da CIA que, depois do fracasso de uma missão, é diagnosticado com câncer e recebe dos médicos uma previsão trágica de apenas três meses de vida. Diante disso, ele deixa a agência americana e resolve se mudar para Paris, onde sua ex-esposa Christine (Connie Nielsen) mora com Zooey (Hailee Steinfeld), filha do casal. Porém, ele recebe uma proposta da misteriosa Vivi (Amber Heard) para executar uma missão de alto risco: encontrar e eliminar o criminoso internacional Wolf (Richard Sammel) e seu braço-direito Albino (Tómas Lemarquis) em troca de um tratamento experimental que possa prolongar sua vida.

Desde a premissa fraca é possível perceber que o filme irá transbordar em clichês do início ao fim. E por esse ponto de vista, nenhum espectador sairá decepcionado. Quase todos os elementos presentes em filmes de espionagem estão lá: o melhor homem para o trabalho, a última missão antes da aposentadoria, a ex-mulher frustrada com o trabalho do marido, o contador judeu, a filha magoada com o pai ausente, sempre chamando-o apenas pelo primeiro nome, a femme fatale que sempre tenta seduzir o protagonista, o agente ranzinza, porém de bom coração, e velho, que não conhece tecnologias modernas e por aí vai.

Se, mesmo com tudo isso, ainda for possível manter a atenção e o mínimo interesse, a fita ainda possui alguns pontos positivos. A relação que é construída entre Ethan e Zooey soa verossímil, ainda que seja necessário relevar alguns exageros. Um dos melhores exemplos é a emotiva cena em que Ethan ensina algo fundamental à filha em um belo fim de tarde ou a passagem em uma boate.

Entretanto, chama a atenção como até mesmo uma história tão simples pode ser tão incrivelmente mal contada. É curioso como o diretor não consegue definir o tom ou mesmo o andamento do longa. Constantemente, a narrativa é interrompida por piadinhas (sem graça) fora de hora, o que gera até mesmo o surgimento de não apenas um, mas dois personagens completamente dispensáveis para a trama com o único intuito de criar alívios cômicos artificiais.

A irregularidade do filme também está presente nas sequências de ação. Algumas são bem orquestradas e inventivas, como a perseguição de carro pelas ruas de Paris. Outras são, além de desnecessárias, mal feitas do início ao fim, como a luta em uma padaria, em que Ethan enfrenta um capanga de Wolf , em um amontoado quase incompreensível de planos que duram menos de dois segundos cada. Infelizmente, não vai ser depois de assistir a “3 Dias Para Matar” que a pergunta do início do texto será respondida.

David Arrais
@davidarrais

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