Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Uma Lição de Vida (2010): a luta pelo conhecimento

Um filme inspirador que mostra a importância da educação em nossas vidas.

Uma Lição de VidaNão é segredo nenhum que a educação é um dos pilares para construir um país desenvolvido. Citarei uma frase do filme “Che”, de Steven Soderbergh: “um povo que não sabe ler e nem escrever é um povo fácil de ser dominado”, ou seja, quanto menos um povo for conscientizado do que acontece em sua volta, sem nenhum espírito crítico, é mais confortável para qualquer governo praticar a corrupção, e assim ter mais chances de se prolongar no poder.

Infelizmente, o Brasil não é nenhum exemplo em termos de investimento e valorização do ensino público. Professores desvalorizados, condições de trabalho precárias e alunos desinteressados são alguns dos muitos problemas que podem ser encontrados nos quatro cantos do país. Mesmo assim, temos exemplos de alunos que conseguem superar todas as barreiras e ter um futuro de sucesso. E também temos o contrário, com tudo à disposição, alunos que não valorizam o estudo. O filme “Uma Lição de Vida” é motivador em todos os sentidos, serve como uma lição para os acomodados e é um belo combustível para que as pessoas nunca desistam de seus sonhos, não importando a idade.

Com a notícia de que o governo do Quénia irá oferecer ensino gratuito para “todos”,  Kimani Ng’ang’a Maruge (Oliver Litondo) vê a oportunidade, mesmo aos 84 anos, de aprender a ler e a escrever, principalmente para, enfim, poder ler uma carta que tem guardado. Contudo, Maruge não esperava que o projeto do governo fosse direcionado apenas para a educação infantil. Determinado, ele insiste em participar das aulas, recebendo a ajuda e apoio da professora Jane Obinchu (Naomie Harris) que o vê como alguém que dá valor ao estudo como outros dariam valor ao dinheiro.

Baseado em uma história real, o roteiro de Ann Peacock foca nos conflitos que a professora e o inusitado estudante precisam enfrentar contra a opinião (e ameaça) pública, pois a intolerância ainda reina em um país que viveu um cruel período de guerra contra o imperialismo inglês. Um passado que faz parte do presente de Maruge, um ex-revolucionário que foi torturado e teve que presenciar a família sendo morta pelos britânicos.

As consequências sofridas na guerra refletem física e psicologicamente em Maruge. Litondo transmite dor em cada gesto de seu personagem, desde a coluna curvada até a falta de visão e audição. O diretor Justin Chadwick é muito inteligente em desfocar as imagens em volta de Maruge, pois aquele ambiente não é mais claro para ele como antes, principalmente a carta que está sempre embaçada, como estaria para qualquer um que não soubesse ler. Chadwick recorre aos flashbacks para mostrar o passado de Maruge e assim causar uma identificação do público com o seu sofrimento. Só que o diretor exagera um pouco em ficar repetindo flashbacks da família, forçando a identificação mais do que o necessário.

Enquanto Litondo encarna perfeitamente seu personagem, Naomie Harris não fica atrás. Sua professora, apesar de ter certa inocência, é carismática, amorosa e mostra força quando precisa ter. Os dois são responsáveis por frases que irão te fazer pensar, como “mas não somos nada se não podemos ler” e “ler e entender é muito importante, é uma maneira de acabar com a pobreza entre nós”. Não só a pobreza financeira, e sim a pobreza de espírito que causam tantas guerras.

Diferente de filmes mais densos como “O Substituto” e “Entre os Muros da Escola”, “Uma Lição de Vida” tem seus momentos de seriedade, mas sobra uma leveza inspiradora que pode ser comparada ao clássico “Sociedade dos Poetas Mortos”, principalmente na relação de Maruge com as crianças da escola. É um filme motivador, que acredita na importância da educação na vida de uma pessoa e revela que quando estamos dispostos a lutar por algo, não é garantia de mudar o mundo, mas podemos mudar a nossa e a vida de outras pessoas.

Guilherme Augusto
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