Cinema com Rapadura

Críticas   sábado, 26 de julho de 2014

O Teorema Zero (2013): conectado com a solidão

Terry Gilliam entrega um filme com um visual impecável e criativo, mas que merecia uma história com a mesma inspiração,

TeoremaTerry Gilliam é um diretor marcado pelo visual de seus filmes, pela inventividade que ele traz em suas obras. Na época da série “Monty Python’s Flying Circus”, contribuía com inspiradas animações de recorte, levando ao auge o nonsense do grupo britânico. Se não bastasse o visual marcante, quando vem acompanhado  de uma excelente história, temos filmes memoráveis como “Brazil: O Filme” e “Os 12 Macacos”. Contudo, em seu novo filme, “O Teorema Zero”, o diretor, novamente, não decepciona na parte técnica, mas deixa a desejar em um roteiro que foge de sua própria ambição.

Escrito por Pat Rushin, estreante em longa-metragem, o roteiro é ambientado em um futuro incerto que – não muito longe da nossa realidade – é composto por uma sociedade conectada com a tecnologia, mas solitária por dentro. Assim, ao vermos o protagonista Qohen Leth (Christoph Waltz) encarar um buraco negro na tela do computador, já fica entendido uma das várias metáforas que Gilliam usará no filme para representar o vácuo existente em Leth. Um vácuo que o faz esperar impacientemente um telefonema para lhe dar algum sentido na vida.

A crise existencial de Leth é o tema melhor desenvolvido do roteiro, principalmente pela atuação de Waltz que, mesmo exagerada, consegue transmitir uma identificação com o público por ser o personagem mais “humano”. Diferente do imponente Matt Damon, que interpreta o dono da empresa onde Leth trabalha, representando uma espécie de Big Brother que o vigia o tempo todo. A obra “1984”, de George Orwell, é bem presente neste universo.

Outros temas que Gilliam “espalha” pelo filme, que poderiam tornar a história ambiciosa, como o consumismo, o estado vigilante, a perda da individualidade do ser humano e o próprio universo criado não recebem o mesmo aprofundamento, deixando tudo de lado para focar na carência de Leth e sua procura em se “conectar a outras pessoas”. Seria interessante saber mais daquele mundo que nunca fica claro como funciona. É até contraditório pensar que Gilliam, ao mesmo tempo que crítica a quantidade de informações que somos bombardeados todos os dias, também não economiza no que quer passar ao público.

Na maior parte da projeção, o filme se passa dentro da velha igreja de Leth, sombria, mas que destaca o colorido vivo dos detalhes graças à ótima fotografia de Nicola Pecorini. Vários personagens vão passando por ali como “ferramentas” para ajudá-lo em um projeto que o está levando à insanidade, e não vale a pena ficar detalhando sobre o que é o projeto, pois o próprio filme não se preocupa em explicar. No entanto, dois personagens serão importantes para lhe mostrar uma nova forma de ver a vida, a bela Bainsley (Mélanie Thierry) e Bob (Lucas Hedges)m o filho de seu chefe. Mesmo que essa “vida” não faça distinção do que é realidade ou virtual.

Contudo, é realmente na parte visual que o filme se destaca. É admirável ver Leth andando pelas ruas da cidade e ver propagandas seguindo-o por todos os lugares, mulheres bonitas que usam o corpo para conquistar os fregueses, milhares de placas de proibição formando um “X”, entre outros detalhes que mostram o belo trabalho da equipe de design. A sequência da festa onde dezenas de pessoas estão reunidas, porém estão vidradas em seus celulares e tablets, nos faz pensar em que caminho a humanidade vai parar. Será que, como mostrado no filme, nossa única forma de se relacionar com os outros será plugados no computador? Repetindo, este futuro não é tão longe assim da nossa realidade.

“O Teorema Zero” é um filme que poderia propor várias ideias ambiciosas em um ambiente visualmente rico, mas acaba se baseando em uma história simples e óbvia, ficando apenas o sentimento que o resultado desta equação pudesse ser mais positivo.

Guilherme Augusto
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