Cinema com Rapadura

Críticas   sábado, 12 de julho de 2014

13° Distrito (2014): uma refilmagem fraca e sem sentido

Um bobo e esquecível filme ação, que falha de forma colossal ante suas principais aspirações dramáticas e reflexões críticas.

Distrito“13° Distrito” é uma refilmagem do francês homônimo (aqui no Brasil, pelo menos, já que os títulos originais diferem) de 10 anos atrás. Um remake um tanto quanto curioso, uma vez que os roteiristas, o experiente Luc Besson e Bibi Naceri, permanecem os mesmos, a história contada é exatamente igual e o ator francês David Belle interpreta o mesmo personagem em ambas as obras. Afinal, levando-se em consideração também o curto espaço de tempo entre o lançamento de 2004 e este atual, qual o sentido de um remake quando não se altera praticamente nada de um filme para o outro?

A trama é bastante simples: o policial Damien Collier (Paul Walker, em seu último trabalho e devidamente homenageado nos créditos finais) recebe a missão de se infiltrar em um gueto de uma Detroit futurista chamado Brick Mansions (título original do longa) para encontrar uma arma de destruição em massa roubada por criminosos do local. Para tanto, ele deverá contar com a ajuda de outro criminoso, o ágil e destemido Lino (Belle), que também nutre, assim como protagonista, como mais na frente descobriremos, certo rancor e rivalidade com o principal suspeito do furto, o chefão Tremaine Alexander.

De uma coisa, pelo menos, não podemos acusar os realizadores de serem: pretensiosos. Pelo contrário, este é um filme de ação descaradamente e quase orgulhosamente “B”. Da primeira à última sequência, o que temos é uma sucessão de perseguições, frases de efeito, explosões, brigas, tiroteios e muita adrenalina. Nada contra, desde que haja um mínimo de coerência narrativa, um certo cuidado com a coesão da história contada e que a lógica interna estabelecida para aquele universo seja respeitada, o que infelizmente não é o caso.

Bobo, o roteiro sofre graves problemas não só na concepção de seus personagens, mas também na sua estrutura básica. A grande motivação de Collier, por exemplo, é citada brevemente já perto da metade da fita e retomada apenas na parte final, em uma tentativa constrangedoramente fracassada de criar certa tensão dramática. A postura de seu principal antagonista, também, é radicalmente alterada na virada do segundo para o terceiro ato, em outra aspiração falha de estabelecer uma suposta reflexão crítica que inexiste no enredo e jamais é proposta pelo script nos quase cem minutos de projeção.

Dependendo quase que exclusivamente do carisma de Paul Walker na condução do elenco, o resto dos atores e atrizes envolvidos sobrevivem à sua sombra, nunca tendo espaço para brilhar na trama, por mais que David Belle o ajude na execução dos movimentos acrobáticos e cenas de ação. A abordagem da diretora estreante Camille Delamarre é burocrática e, ao mesmo tempo, afetada demais, cometendo erros básicos na direção de tais grandes cenas, como por exemplo na falta de cuidado na marcação de cena, no posicionamento geográfico dos indivíduos envolvidos, mesmo na brusca mudança de eixo de sua câmera em algumas situações e acredito até ter visto repetições de planos em uma mesma sequência.

A grande verdade é que, mesmo para quem não acompanhou o longa original de 2004, já é bastante notório que este é um remake completamente desnecessário pelo simples fato de que, até como um filme isolado, ele não se sustenta minimamente de forma razoável. No máximo, pontualmente divertido e nada mais. Isso, claro, se você simplesmente fechar os olhos para tudo que o cerca e desligar o cérebro.

Arthur Grieser
@arthurgrieserl

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