Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 04 de julho de 2014

Causa e Efeito (2014): um trabalho longo, enfadonho e desnecessário

Drama sobre espiritismo falha como filme e como tratado religioso.

“Causa e Efeito” conta a história de Paulo (Matheus Prestes), um policial que, depois da morte trágica da esposa e do filho, passa a prestar serviços de pistolagem para Gustavo (Henri Pagnocelli), um importante político da região. Depois de engravidar Madalena (Naruna Costa), uma ex-prostituta que se tornou sua amante, Gustavo ordena que Paulo “resolva” o problema. Porém, depois de descobrir as razões para tal ordem, ele passa a proteger Madalena. No entanto, devido à recente aproximação de Eurípedes (Luiz Serra), seu tio, que é espírita, Paulo se vê preso em uma teia de eventos que atormentam a ele e a sua família a várias encarnações.

O roteiro, escrito pelo próprio diretor André Marouco, tem uma preocupação maior em citar alguns preceitos da doutrina de Allan Kardec do que em contar uma história. A tentativa de criar um arco dramático minimamente satisfatório para o protagonista falha em quase todos os intermináveis 105 minutos de projeção (que poderiam facilmente ser reduzidos a algo entre 85 e 90 sem grande prejuízo ao resultado final). Os únicos momentos elogiáveis do texto são aqueles em que ele promove e discute (ainda que superficialmente) a diversidade religiosa, ainda que enfatize apenas crenças cristãs.

A pobreza do script é enfatizada constantemente, tanto pela quantidade de diálogos expositivos quanto pela incapacidade de criar uma história interessante, uma vez que a trama é previsível e recheada de clichês. Alguns personagens, além de não possuírem qualquer explicação plausível dentro da narrativa, soam extremamente genéricos, como o político malvado, um chefe da indústria farmacêutica inescrupuloso, os velhinhos bonzinhos, o capanga que serve (ou deveria servir) de alívio cômico, a ex-prostituta arrependida (uma referência bíblica bastante sutil), o pistoleiro amargurado de bom coração e por aí vai.

Se o roteiro tem esse nível, o que dizer dos aspectos técnicos? A montagem é trôpega e sem ritmo, ao passo que é quase impossível perceber o tempo passando, além de erros grosseiros de continuidade. A direção de arte também é falha, pois não consegue construir os ambientes com a qualidade necessária, como ao mostrar uma casa de fazenda que, de acordo com um personagem, não era usada há muito tempo, mas, mesmo assim, não possui poeira ou uma teia de aranha sequer. Ou o interior das casas dos personagens, que não possuem qualquer personalidade.

Quanto às atuações, é difícil entender quais os parâmetros utilizados para a seleção e preparo dos atores. Exceto por alguns atores experientes, como Henri Pagnocelli e Luiz Serra (esses sim, prejudicados profundamente pelo roteiro), as demais atuações são fracas, para não dizer risíveis. Nenhum consegue transmitir qualquer tipo de emoção. Para completar o show e horrores, surge a direção de André Marouco. Além de enquadramentos simplórios, o cineasta ainda abusa da câmera lenta gratuita. Isso sem falar da sua incapacidade em construir as cenas e conduzir os atores.

“Causa e Efeito” é uma obra cinematográfica que trata de espiritismo, mas se você tem interesse pelo assunto, evite. Se você tem um mínimo interesse por Cinema de verdade, fique longe!

David Arrais
@davidarrais

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